Os Dogon e o mistério de Sírio

por Javier Garrido B., original em Paraciencias al Día

Uma etnia relativamente primitiva da África ocidental parece possuir dentro de sua sabedoria tradicional conhecimentos astronômicos muito precisos sobre o sistema estelar de Sírio, que só são possíveis de obter utilizando refinados recursos tecnológicos. Nos referimos, obviamente, aos Dogon.

Os mitos deste povo conteriam referencias claras à companheira invisível de Sírio, uma anã branca que foi predita pela ciência em 1844 e descoberta em 1862. Mais que isso, a descreveriam com detalhes tão exatos quanto surpreendentes, considerando-a como muito pequena e formada pelo metal mais pesado do mundo, e com um período orbital de 50 anos, virtualmente idêntico ao calculado pela astronomia ocidental.

À primeira vista, isto parece impossível. Os Dogon só podem ter recebido um conhecimento desta classe de uma civilização cientificamente avançada. Extraterrestre? Atlante? Ou quem sabe simplesmente da civilização tecnológica geograficamente mais próxima deles, a Ocidental?

Sobre o suposto mito Dogon criou-se um segundo mito, adventício e moderno, que se iniciou quando Robert Temple publicou em 1975 o famoso livro "The Sirius Mystery" ("O Mistério de Sírio"). Este "mito sobre o mito" inclui a visita de seres extraterrestres à Terra em um passado remoto. O artigo seguinte revisa diversos aspectos do tema.

Explicações

Se aceitarmos que os Dogon efetivamente possuem extraordinários e precisos conhecimentos astronômicos que se encontram muito além de suas capacidades tecnológicas, é obrigatório perguntar de que maneira obtiveram essa informação. A resposta de Robert Temple já é conhecida: de visitantes do espaço exterior provenientes de Sirio. Alguns representantes do movimento Afrocentrista (como Adams, Van Sertina e Welsing) têm, por seu lado, propostas não menos interessantes: sustentam que a extrema acuidade dos olhos escuros (!!!) dos povos de raça negra lhes permitem distinguir Sírio B a olho nu, ou que a melanina atua de modo similar a um telescópio infravermelho, ou recorrem aos egípcios, que como não podemos ignorar, dispunham de poderosos telescópios (!!!), e, além disso, como se fosse pouco, eram de raça negra (nenhuma destas três "hipóteses", se a chamarmos assim, têm o menor fundamento; o suposto telescópio egípcio se baseia em uma também suposta descoberta russa de uma suposta lente perfeitamente esférica, que mesmo no caso – ainda duvidoso – de que exista não poderia servir para construir um telescópio útil de nenhuma forma).

Uma linha de argumentação muito mais sóbria foi oferecida por Ian Ridpath e Carl Sagan (entre outros), na polêmica que surgiu na publicação de The Sirius Mistery. Sagan e Ridpath sugeriram que os conceitos astronômicos modernos incluidos dentro da mitologia Dogon poderiam ter sido assimilados por esta em uma época muito recente, possivelmente pouco antes que esses mitos fossem registrados por Griaule e sua equipe nos anos trinta e quarenta. Para apoiar esta hipótese notaram que nessa época todos os conhecimentos astronômicos atribuídos aos Dogon (incluindo um certo número de erros óbvios) já estavam estabelecidos na astronomia moderna já há um bom tempo. Por exemplo, a companheira de Sírio era conhecida desde 1862. É claro que os Dogon não poderiam ter adquirido essa informação sem ter mantido contato com uma civilização tecnologicamente avançada; entretanto de acordo com a proposta de Sagan e Ridpath, essa civilização muito provavelmente foi terrestre e não extraterrestre. Os Dogon poderiam ter recebido esses conhecimentos de viajantes, exploradores, comerciantes ou missionários, integrando-os sem grandes conflitos em seus mitos tradicionais. Também podem tê-los recebidos através de escolas francesas locais, ou talvez os membros da etnia que lutaram com o exército francês durante a I Guerra Mundial os ouviram.

Sagan comentou o problema em certa extensão em seu livro "O Romance da Ciência" (Broca’s Brain), no capítulo "Anões Brancas e homenzinhos verdes". Ele começa afirmando que "não há razão alguma para duvidar dos relatos de Griaule" (sobre isto falaremos depois). Mais adiante encontramos uma cautelosa observação que é muito citada por crédulos:

À primeira vista, a lenda de Sírio elaborada pelos Dogon parece ser a prova mais séria em favor de um antigo contato com alguma civilização extraterrestre avançada.

O que não é tão citado é o que está logo depois:

Não obstante, se examinarmos com mais atenção o tema não devemos ignorar que a tradição astronômica dos Dogon é puramente oral, que não podemos reconstruí-la com absoluta certeza anteriormente aos anos 30 do século XX e que seus diagramas não são nada além de desenhos traçados com um pedaço de pau sobre a areia.

Sagan ressalta a "riquíssima e detalhada gama de material legendário" da mitologia Dogon, e nota que "onde há uma notável riqueza legendária há, portanto, uma probabilidade muito mais elevada de que algum dos mitos sustentados coincida acidentalmente com descobrimentos da ciência moderna". Ele ressalta que a hipótese de uma estrela associada a Sírio A "pode ter derivado naturalmente da mitologia Dogon, na qual os gêmeos desempenham um papel central". Sagan admite, porém, que isto não explica as referências precisas ao período de revolução e à densidade de Sírio B:

A conclusão imediata é que o dito povo manteve contatos com uma civilização tecnicamente avançada. A única questão a resolver é: que civilização, extraterrestre ou européia?

Sagan considera muito mais provável um contato recente dos Dogon com a astronomia ocidental que com hipotéticos alienígenas em um passado remoto, e imagina desta forma o encontro:

Vejo com os olhos de minha imaginação um visitante francês que no começo deste século [XX] chega ao território Dogon, no que então era a África Ocidental francesa. Quem sabe fosse um diplomata, um explorador, um aventureiro ou um pioneiro dos estudos antropológicos. […] A conversação começou a girar em torno do tema astronômico. Sírio é a estrela mais brilhante do céu. O povo Dogon obsequiou o visitante com sua mitologia sobre a estrela. Logo, com um sorriso, cheios de expectativa, talvez tenham perguntado ao visitante pelo seu mito sobre Sírio […] E é também bem possível que, antes de responder, o viajante consultasse um carcomido livro que levasse em seu equipamento pessoal. Dado que então a obscura companheira de Sírio era uma sensação astronômica da moda, o viajante intercambiou com os Dogons o espetacular mito por uma explicação rotineira. Uma vez abandonada a tribo, sua explicação permaneceu viva na recordação, foi reelaborada e muito possivelmente, incorporada à sua maneira no corpo mitológico Dogon, ou no mínimo, em um de seus ramos colaterais. […] Quando Marcel Griaule realizou suas investigações mitológicas nas décadas de 30 e 40, se encontrou anotando uma versão elaborada de seu próprio mito europeu sobre a estrela Sírio.

Sagan também lembra que nas primeiras décadas do século "a peculiar natureza de Sírio B foi amplamente difundida em livros, revistas e periódicos", em um debate que "impregnou a imprensa científica da época e pôde alcançar toda pessoa medianamente inteligente e culta". O tema estava, então, em foco na época, antes que Griaule iniciasse suas investigações. Os crédu
los julgam inverossímil ou absurda a possibilidade de integração dentro de uma mitologia de um conhecimento exógeno procedente de outra cultura terrestre em um lapso de tempo muito curto (ah claro!, e como conseqüência é muito mais "lógico" e plausível que ela provenha de seres anfíbios de Sírios…). Mas Sagan ressalta que esse processo já ocorreu outras vezes, que está bem documentado, e cita diversos exemplos, em especial as experiências do Dr. Carleton Gajdusek com os habitantes de Nova Guiné. E conclui:

São muitas as explicações alternativas para o mito de Sírio para que possamos considerá-lo como prova conclusiva de contatos extraterrestres no passado.

Para que tal processo de assimilação possa ocorrer, é uma condição indispensável que o povo em questão tenha tido contato com elementos de outras culturas. Mas os Dogon sempre são descritos pelos defensores da hipótese extraterrestre como uma etnia excepcionalmente remota e isolada, como se nunca tivessem visto o homem branco antes que Marcel Griaule e sua equipe os visitassem nos anos trinta. Isto é correto? Não, não é. Os Dogon habitam a África Ocidental, não a Lua, e a África Ocidental em geral, e a região do Níger em particular, estiveram na mira dos interesses coloniais europeus desde o século XVIII. O famoso explorador escocês Mungo Park já andou por essas regiões em suas expedições de 1795 e 1805. Em 1927 René Caillé conseguiu chegar a Timbuktu, a algumas centenas de quilômetros ao norte da área geográfica dos Dogon. A penetração colonial francesa no território do atual Mali começou já em 1850; em 1880 a zona já havia se tornado um protetorado, e sua conquista se completou em 1898. Desde 1907 havia escolas francesas na área geográfica dos Dogon, e há referência de membros da tribo servindo ao exército francês durante a Primeira Guerra Mundial. Em seus contatos com os Dogon Griaule utilizou intérpretes locais, incluindo alguns que trabalharam para o governo colonial francês (só falta aqui que alguém sugira que o domínio da língua francesa também é parte do legado milenar dos Nummos alienígenas). À vista destes feitos torna-se bastante difícil continuar considerando os Dogon como um povo remoto e intocado, isolado da civilização ocidental.

Outro detalhe interessante é que não existe nenhum registro dessa "extraordinária sabedoria" astronômica anterior aos anos trinta, ou seja, antes dos trabalhos de Griaule e sua equipe. Nem sequer há uma nota de algum dos viajantes e exploradores ocidentais que atravessaram a região desde os fins do século XVIII. Isto apóia a idéia de uma inclusão muito recente de dados astronômicos modernos dentro de uma cosmogonia antiga. Sigamos rumo a outro dado ainda mais surpreendente: da mesma maneira que não existem registros anteriores a Griaule de que os Dogon tinham inexplicáveis conhecimentos astronômicos, tampouco outros antropólogos que trabalharam sobre o terreno depois dele conseguiram confirmar tais descobrimentos. Mas sobre isso falaremos mais extensamente logo mais.

Por outro lado, as alegadas afirmações dos Dogon a respeito do sistema estelar de Sírio são chocantemente similares às especulações dos astrônomos europeus da década de vinte, incluindo vários erros que hoje são bem óbvios. Por exemplo, os astrônomos dessa época sabiam, devido aos seus efeitos gravitacionais e sua escala de magnitude, que a companheira de Sírio era extremamente pesada, com uma densidade ao redor de 60.000 vezes superiores à da água. De fato, foi a primeira anã branca descoberta; nos anos vinte isto causou sensação, já que não se tinha notícia de nenhum outro objeto similar. No suposto mito Dogon, isto se refletiria na descrição que eles fazem de Digitaria, ao considerá-la como a coisa mais pesada do universo. Muitas outras estrelas anãs são tão ou mais pesadas que Sírio B, por exemplo, as estrelas de nêutrons. Só que os astrônomos da época não conheciam este dado, nem tampouco devemos dizer, os sacerdotes Dogon. Pelo visto, os conhecimentos astronômicos dos "Nummos", apesar de dominar a viagem interestelar, não estavam muito além do que sabiam os astrônomos terrestres nas primeiras décadas do século XX. O mesmo pode ser dito da teórica segunda companheira de Sírio, Sírio C, tão generosamente identificada como Emme Ya (mas isto merece um comentário mais detalhado, mais abaixo).

Outros erros são muito mais grosseiros, como a extraordinária notícia de que Digitaria ocupava em outra época a atual posição do Sol. Se passarmos do espaço interestelar ao sistema solar, o panorama é ainda mais desalentador: tratam-se de conhecimento superados não na década de vinte, mas em muitos casos em um século ou mais. Saturno é identificado erroneamente como o planeta mais distante do sistema solar, deixando de lado Urano, descoberto em 1781 por Herschel, e a Netuno, predito por Leverrier em 1846 e identificado por Galle no mesmo ano (sem falar de Plutão). Este dado por si já põe em dúvida que a fonte original dos conhecimentos Dogon sejam sábios extraterrestres, já que eles não teriam ignorado dois planetas tão consideráveis. Da mesma forma, só se mencionam as quatro luas galileanas de Júpiter, quando na realidade esse planeta tem pelo menos 16 satélites. Algumas outras omissões são também curiosas: mencionam-se os anéis de Saturno, mas não se diz uma palavra sobre os que circundam outros planetas maiores. Por exemplo, os anéis de Urano foram descobertos em 1977. Seria uma observação demasiadamente detalhista? Na verdade, é certo que os anéis de Saturno são consideravelmente mais conspícuos que os de seus companheiros, mas também é certo que o que se está julgando aqui é verossimilhança de um conhecimento revelado aos humanos por nada menos que uma super-raça extraterrestres tecnologicamente avançada; com uma fonte desse porte devemos ser exigentes e reclamar por precisão nos detalhes. E resulta bastante contraditório que o nível de detalhe que nos é oferecido pelos Dogon, no que se refere ao sistema solar, seja equivalente ao nível que a astronomia moderna tinha em meados do século XVIII, ou que poderia ser obtido por um pequeno telescópio levado junto do equipamento de um explorador de finais do século XIX e começo do século XX.

Como já se notou antes, a possibilidade de que os Dogon tenham adquirido conhecimentos astronômicos a partir de fontes modernas foi qualificada de inverossímil pelos defensores radicais da hipótese extraterrestre (e também dos Afrocentristas, que a rejeitam por ser "eurocêntrica"). As críticas já foram feitas no sentido de julgar improvável que um processo assim pudesse ocorrer, em um lapso de tempo limitado, como também de reivindicar uma grande idade às tradições que falam desses conhecimentos. Quanto ao primeiro ponto (deixando de parte os exemplos citados por Sagan e que foram citados antes), o próprio Robert Templo nos oferece (inadvertidamente) o que pode ser uma evidência bastante óbvia de assimilação de uma crença exógena por parte da mitologia Dogon. O personagem a quem se refere (apesar de denominado "Nummo") é facilmente reconhecível:

"O Nummo foi crucificado e ressuscitou, e no futuro retornará para visitar a Terra, desta vez na forma humana".

Um Nummo crucificado que logo ressuscita? Essa não parece muito a classe de informação que seria de se esperar de alienígenas que dominam a técnica da viagem interestelar, mas sim o catecismo de algum pregador cristão (com uma Segunda Vinda incluída). Também existem outros exemplos de histórias bíblicas que os Dogon assimilaram em seus mitos, como a arca de Noé que aparece no Gênesis, e que eles consideram como uma lenda própria.

Com respeito à grand
e antiguidade das tradições que falam de Sírio e de suas acompanhantes, também são necessários alguns esclarecimentos. Afirma-se que a antiguidade demonstrada das cerimônias Sigui é de 700 anos (datando, portanto, ao século XIII D.C.). Mais uma vez, a fonte original desta afirmação é o trabalho de Marcel Griaule. A prova material que se oferece neste ponto são as máscaras empregadas pela sociedade Awa nessas cerimônias, que depois de cumprir sua função não são jogadas fora, mas sim guardadas em refúgios protegidos. Antes de prosseguir, talvez seja conveniente lembrar que Griaule não dispunha de um método fidedigno para datar as máscaras encontradas nesses refúgios, já que o método de Carbono 14 não foi inventado por Willar Libby antes de 1947, e esta parte de sua investigação foi realizada em 1938. Como conseqüência, ele realizou uma extrapolação, contando as máscaras que haviam em um refúgio em particular (oito, os restos de uma nova, e três montes de pó que assumiu que correspondiam a três máscaras adicionais), e estimando que foi feita uma máscara nova a cada 60 anos, concluiu que a cerimônia Sigui remontava até o século XIII. Entretanto em outros refúgios havia somente três ou quatro máscaras, o que torna a questão um pouco confusa. Podemos especular, por exemplo, que bastaria que algumas máscaras fossem movidas de um refúgio a outro em algum momento do passado para que esta cronologia venha abaixo.

De qualquer maneira, aqui é oportuno recalcar um ponto que é freqüentemente ignorado na discussão da antiguidade do conhecimento de Sírio B: que as máscaras e a cerimônia Sigui remontem a um passado remoto não diz absolutamente nada a favor ou contra a idéia de que os Dogon conheciam Sírio B desde tempos imemoriais caso a cerimônia Sigui esteja relacionada apenas com Sírio. Sírio A é por si um objeto astronômico atraente; de fato é a estrela mais brilhante do firmamento (com uma magnitude de – 1,4). Ela chama a atenção de qualquer observador do céu mesmo que ele não saiba que ela é circundada por uma ou mais companheiras invisíveis. Os Dogon (como os antigos egípcios) podem muito bem lhe conferir um papel central em seus mitos sem necessidade de ter conhecimento da presença de Sírio B, e assim celebrar em sua honra a mencionada cerimônia.

Além do mais, existem alguns detalhes que levam a ainda mais dúvidas de que a cerimônia Sigui realmente tenha algo a ver com Sírio B. Para começar, o suposto nome que os Dogon dão à brilhante Sírio A: Sigu tolo, querendo significar "estrela de Sigui". A estrela de Sigui é assim Sírio A, apesar da teórica preponderância da invisível Digitaria. Em segundo lugar é bem chamativo que os Dogon tenham optado por celebrar a cada sessenta anos (aproximadamente) uma cerimônia em honra a um corpo estelar que não podem ver cujo período orbital é de cinqüenta anos (também aproximadamente). Seria muito mais congruente que celebrassem a cada 50 anos.

Outra "prova" material que sempre é trazida à tona neste ponto é um diagrama simbólico que os Dogon identificam como "o ovo do mundo". Segundo os divulgadores, trata-se de um "preciso diagrama orbital", no qual Sírio A se encontraria em um dos focos da elipse. Robert Temple já chegou a afirmar a respeito que "a analogia é tão surpreendente que até mesmo o mais leigo está em condições de constatar a identidade das duas configurações até os mínimos detalhes". Soa impressionante, mas a impressão dura só até que invistamos uma olhada (que seja com um olho inexperiente) ao desenho citado. A primeira coisa que se observa é que há um excesso de corpos "estelares" dentro do "sistema": nada menos que nove. Por que tantos? Só deveriam haver dois: Sigu tolo e Po tolo. Por pressuposto, Emme Ya ("o sol das mulheres") e seu satélite não tinham por que aparecer, uma vez que já nos foi advertido que recorrem em sua trajetória a uma distância muito maior que Digitaria. Qualquer pessoa diria que o "preciso diagrama orbital" não é de nenhuma forma tão preciso. Uma segunda olhada descobre outra anomalia: na realidade se trata de um diagrama orbital muito estranho, já que na suposta órbita não há nenhum corpo. A estrela que deveria estar sobre a órbita (Po tolo) na realidade se encontra dentro dela. Pelo visto, o que realmente surpreende não é a analogia (inexistente) entre o "ovo do mundo" e um diagrama orbital, mas sim que alguém possa fingir que exista uma "identidade das duas configurações, até nos mais mínimos detalhes". Outra vez, o que se apresenta como "prova" de uma afirmação extraordinária cai muito abaixo de qualquer nível de exigência, em especial quando nos é oferecido primores de precisão que não aparecem em parte alguma.


Acima, à esquerda: o "ovo do mundo", tal como é representado pelos Dogon. À direita: a interpretação moderna, que o converte em um "preciso diagrama orbital". Nenhum dos numerosos objetos englobados dentro do ovo está sobre a pretensa "órbita"; dentro do "ovo" se encontram também corpos que não têm por que estar ali, como Emme Ya (Sírio C?) e Nyân tolo, que segundo a suposta tradição Dogon estão a uma distância muito maior de Sírio A que Digitaria (Po tolo).

Tripla?

É muito pouco estimulante o fato de que virtualmente todos os extraordinários conhecimentos cosmológicos atribuídos aos Dogon já estavam firmemente assentados dentro da astronomia moderna antes que os antropólogos franceses visitassem esse povo. Por exemplo, se dentro dessa suposta "sabedoria tradicional" existisse referência a algum dado obscuro, só descoberto muito recentemente, (como os anéis de Júpiter, que eram desconhecidos antes da exploração da Voyager 1) o "mistério" poderia ser considerado como quase que insolúvel de uma perspectiva mundana. E segundo nos dizem os divulgadores do "mistério de Sírio", com Robert Temple à frente, essa é exatamente a situação. Um descobrimento bombástico veio a demonstrar que os conhecimentos astronômicos dos Dogon estavam à frente da ciência ocidental. Concretamente, estamos falando do "descobrimento" de Sírio C. Na primeira edição de seu livro, Temple fez esta significativa "profecia":

"Se Sírio C chegar a ser descoberta, e se constatarmos que é uma anã vermelha, eu concluirei que a informação dos Dogon foi completamente validada"

Recordemos que os Dogon não descrevem Sírio como um sistema binário (Sírio A – Sírio B), mas sim parecem falar de um sistema muito mais complexo, um sistema estelar no mínimo triplo (no momento vamos nos abstrair dos outros elementos): Sigu tolo, Po tolo e Emme Ya. É um dado bem conhecido desde a metade do século XIX que Sírio é um sistema binário, mas só em 1995 foi encontrada evidência de que haveria um terceiro componente. Nesse ano, os astrônomos franceses Daniel Benest e J.L. Duvent publicaram em "astronomy and Astrophysics" um artigo entitulado Is Sirius a triple star?, no qual baseando-se na análise orbital da binária Sírio A-B, e com a ajuda de uma simulação numérica, apóiam a idéia da triplicidade de Sírio. Deve-se notar aqui que no citado artigo Benest e Duvent não pretendem "ter descoberto" que Sírio é tripla, mas sim que consideram altamente provável que assim seja. De acordo com seus cálculos, a teórica Sírio C seria uma pequena anã vermelha que descreveria sua órbita ao redor de Sírio A em uns 6 anos. Até agora, não foi possível confirmar visualmente esse descobrimento.

O certo é que, confirmada ou não, aos divulgadores a "descoberta" de Benest e Duvent caiu como uma luva, e e
les não deixaram de tirar proveito dela desde o primeiro instante, apresentando-a como uma clamorosa confirmação da conexão entre o povo Dogon e os antigos visitantes do espaço exterior. E como seria de se esperar, antes de tudo, o próprio Robert Temple aproveitou para lançar uma nova edição de seu livro. Curiosamente, o fato de que a suposta "Emme Ya" dos Dogon tem poucas características em comum com a estrela anã de Benest e Duvent não parece incomodá-los. Por exemplo, o suposto período orbital de Emme Ya seria de 50 anos, consideravelmente maior que os seis anos que estimam Benest e Duvent para sua anã vermelha. Sem falar que caso essa estrela exista, teríamos que demonstrar que tem ao seu redor um sistema planetário, e que neste sistema há condições para que evolua a vida e uma civilização tecnológica como a dos fantásticos "Nummos" da lenda (e isto, na realidade, é muito pouco provável).

Talvez fosse apropriado perguntar se não é uma mera coincidência afortunada que os Dogon tenham imaginado Sírio como um sistema triplo, mas contra isso se poderia argumentar que parece mais factível que um conhecimento muito antigo a respeito foi se deteriorando progressivamente ao passar de forma oral de geração a geração.

De qualquer forma, parece que a proposta aparição no cenário de Sírio C joga por terra a possibilidade de que os Dogon adquiriram seus conhecimentos astronômicos de uma fonte terrestre e moderna. Mas novamente, não é assim, pela simples razão de que a idéia de que Sírio é um sistema triplo não apareceu pela primeira vez em 1995 com Benest e Duvent, mas muito antes. Na verdade, a idéia da provável triplicidade de Sírio tem uma história singularmente antiga. Tão cedo quanto 1894 (sim, 1894) já se observaram irregularidades no movimento de Sírio B, o que levou à suspeita de existência de um terceiro corpo estelar. Posteriormente, entre 1920 e 1930, surgiram ao redor de vinte relatos de observadores que acreditavam ter visto uma pequena estrela adicional no sistema. O primeiro desses relatos foi de Phillip Fox em 1920, quem informou que a imagem de Sírio B parecia ser dupla. Fox realizou esta observação utilizando o mesmo telescópio refrator com que Alvan Clark havia descoberto Sírio B em 1862. Outros informes similares foram apresentados posteriormente por Robert Thorburn Ayton Innes e por Willem H. van den Bos. Um pouco depois, em 1933, Voronov, baseando-se na análise da velocidade radial de Sírio A entre 1899 e 1926, postulou a hipótese da duplicidade de Sírio A, estimando um período orbital de 4,5 anos para acompanhante. O interesse pelo teórico terceiro componente de Sírio não decaiu drasticamente antes de 1973, quando um detalhado estudo de Irving W. Lindenblad (o mesmo astrônomo que fotografou pela primeira vez Sírio B) realizado ao longo de quase sete anos não conseguiu encontrar nenhum dado que apoiasse sua existência.

A questão aqui é que de novo nos encontramos com o fato de que um desses extraordinários conhecimentos que Griaule atribui aos Dogon já havia sido previamente discutido pelos astrônomos dos anos vinte. Se os supostos avistamentos de Sírio C na década de vinte foram reais ou não (e muito provavelmente não foram) não tem aqui a menor relevância: o importante é que essa informação, errada ou não, existia e circulava antes que Griaule partisse com suas expedições à África e muito antes que os sacerdotes Dogon aceitassem "iniciá-lo" em seus mais profundos segredos (em 1946!). Se algum viajante ocidental interessado pela astronomia, digamos na década de vinte ou trinta, levou aos Dogon a informação maravilhosa acerca de Sírio B, pode também ter levado a da suposta Sírio C. Neste sentido, e contra o que pretendem os divulgadores, uma eventual confirmação da existência de Sírio C não demonstraria em absoluto que os Dogon receberam na antiguidade informações de primeira mão por visitantes extraterrestres. Caso contrário entretanto, se Sírio C não existir, isto favoreceria a idéia de que o que os Dogon receberam foram informações contemporâneas e erradas de algum visitante muito mais terreno.

Mais explicações

Até o momento analisamos a extraordinária afirmação de que os mitos do povo Dogon contêm uma estranha informação astronômica cuja fonte original é a visita de seres alienígenas procedentes de Sírio em um passado remoto, e observamos que esta hipótese tem pontos débeis em sua argumentação, além de existir pelo menos uma alternativa verossímil bem fundamentada. Entretanto, não se colocou em juízo a própria existência dessa informação dentro da cosmogonia Dogon. Agora avançaremos um passo a mais.

Recapitulemos: a fonte original (e única!) empregada por Robert Temple, Eric Guerrier e outros divulgadores do "Mistério de Sírio" é o trabalho de Marcel Griaule e sua equipe realizado nas décadas de trinta e quarenta. Mas Griaule só se refere aos conhecimentos astronômicos dos Dogon em seu artigo Un Système Soudanais de Sirius, publicado em 1950, e em Le Renard Pâle, que Germaine Dieterlen publicou em 1965, quando Griaule já havia falecido. No resto de suas obras, incluindo a fundamental Dieu d’eau, os ignoram.

Relembremos o fato de que a investigação original de Griaule é a única fonte que nos refere que os Dogon possuem um conhecimento secreto e estranho sobre Sírio. Aquí cabe perguntar: podemos confiar de forma absoluta nessa fonte?

Antes de mais nada, recordemos que Marcel Griaule foi um antropólogo eminente e respeitado, não um traficante de mistérios ao estilo de von Daeniken ou Zecharia Sitchin (ou mesmo Robert Temple, apesar de suas credenciais acadêmicas). Ele teve uma pudorosa reticência ao especular sobre a possível origem do suposto mito Dogon sobre Sírio (nada de atlantes nem de alienígenas procedentes do espaço exterior). Mas isso não implica que suas afirmações e métodos não possam ser submetidos a revisão e questionamento.

De fato, a metodologia de Griaule foi submetida a críticas há muitos anos. Começando por sua declarada intenção de "redimir o pensamento africano", que pode tê-lo levado a importantes erros de observador. Ele foi criticado em seu método de obter informação a partir de um único informante através de um intérprete, assim como na ausência total de textos em idioma Dogon. No que isto implica é claro: não ouvimos o que os Dogon sabem ou ignoram a respeito de Sírio, mas sim a Griaule (e a Dieterlen) interpretando-os.

Em 1991 o antropólogo belga Walter E.A. van Beek, de Utrech, depois de estudar os Dogon ao longo de onze anos (desde 1979 até 1990) publicou em Current Anthropology um artigo intitulado Dogon Restudies. A Field Evaluation of the Work of Marcel Griaule. Nesse artigo, Van Beek nota, em primeiro lugar, o fato (realmente surpreendente) de que os dados originais de Griaule e Dieterlen são únicos; nenhum outro antropólogo, trabalhando sobre o mesmo terreno, conseguiu reproduzi-los. Em outras palavras, não existiu nenhuma verificação independente de suas afirmações. Ele também atenta que durante seus anos de investigação com os Dogon, tampouco ele pôde encontrar o menor rastro do detalhado saber sobre Sírio que Griaule lhes atribui.

A intenção inicial de van Beek era encontrar evidência das afirmações de Griaule; mas ele finalmente teve que aceitar que existiam graves problemas a respeito. Van Beek falou com os informantes de Griaule, incluindo seu intérprete-compilador, Ambara, (Innekouzou, o sacerdote responsável pelo "saber sobre Sírio" havia falecido em 1951). Van Beek descobriu que "nenhum Dogon fora do círculo dos informantes de Griaule jamais havia ouvido de Sigu tolo ou Po tolo… Ainda mais importante, ninguém, mesmo dentro do círculo dos informantes de Griaule havia ouvido ou entendido que S
írio era uma estrela dupla". Além disso, descobriu que mesmo quando esses informantes sabiam de Sigu tolo, não eram capazes de chegar a um acordo a respeito de qual estrela esse termo se referia: "para alguns, é uma estrela invisível cuja ascensão anuncia a festa Sigui, para outro é Vênus que em uma posição determinada aparece como Sigu tolo. Todos concordam porém que eles aprenderam acerca da estrela de Griaule".

Obviamente os Dogon conhecem Sírio (é a estrela mais brilhante do céu), mas segundo van Beek não lhe dão o nome de Sigu tolo, e sim o de Dana tolo. Além do mais, pontualiza que (contra o informado por Griaule) "O conhecimento das estrelas não é importante [para os Dogon] nem na vida diária nem em seus rituais", resultando para eles muito mais cruciais outros fenômenos celestes, como a posição do sol e as fases lunares.

Griaule obtinha seus dados em longas sessões com um informante principal; o intérprete-compilador destas seções (a respeito do "saber de Sirio") era Ambara. É muito provável que neste processo Griaule reinterpretou as informações de seu tradutor de acordo com seus próprios conhecimentos (Griaule se interessava pela astronomia e a havia estudado em uma época; sem dúvida conhecia a polêmica sobre a natureza de Sírio B, e é muito provável que estivesse a par dos avistamentos não confirmados de Sírio C na década de 20, tudo isso ocorreu antes que iniciasse suas investigações na África). Van Beek também nota que a cultura Dogon dá uma grande importância ao consenso e a evitar as contradições. Ao enfrentar-se com alguém tão respeitado e apreciado como Griaule, teriam preferido aceitar suas análises errôneas como próprias. Neste cenário, a informação sobre Sírio B teria partido do próprio Griaule, quem talvez pode ter interpretado mal alguma referencia relativa a uma estrela visível e pouco conspícua próxima de Sírio como um reconhecimento de sua companheira invisível.A este respeito, van Beek faz mais duas observações:

a) Em sua experiência de onze anos com os Dogon, observou que eles tendem a dar novos nomes a objetos de todas classes (incluindo as estrelas) só com o fim de satisfazer a curiosidade dos investigadores. 
b) Griaule tinha a tendência de querer controlar as situações, ao passo que os Dogon procuram, sempre que podem, evitar desacordos com os homens brancos. Em especial com Griaule, que os havia impressionado como um personagem muito importante. Se este lhes tivesse feito uma pergunta dirigida sobre se conheciam a companheira invisível de Sírio, muito provavelmente teria obtido uma resposta afirmativa, ainda que na verdade não soubessem nada a respeito.

Van Beek cita um exemplo específico desta tendência dos Dogon ao consenso: uma de suas narrações explica a diferença entre eles e os brancos mediante uma história tomada do Gênesis (a da ebriedade de Noé). Só que a reivindicam como própria e rejeitam que se trate de uma história tomada dos brancos, e nisto coincidem tanto aqueles Dogon que ainda mantêm suas crenças tradicionais como aqueles que são cristãos.

Uma contra-explicação às afirmações de van Beek é que o saber sobre Sírio é realmente muito secreto e conhecido só por alguns poucos. A isto ele responde: "nem os mitos nem as canções [dos Dogon] – apesar de serem sagrados – são secretos. De fato, o "tem" [conhecimento coletivo] é conhecimento público". Ainda mais: "A questão é, então, que tais segredos possam ser secretos e ainda assim permanecer como parte de uma cultura. O significado compartilhado é um aspecto crucial em qualquer definição de cultura, enquanto que um segredo compartilhado por alguns poucos é por definição marginal… Assim, se os segredos revelados a Griaule são parte da cultura Dogon, uma pessoa deve ser capaz de voltar a conseguir seu rastro".

Se as afirmações de Griaule são únicas, não se pode dizer o mesmo das de van Beek; outros antropólogos, como Jacky Boujou, com 10 anos de experiência entre os Dogon, e Paul Lane, trabalhando também sobre o terreno, coincidem em suas conclusões. Naturalmente, Dieterlen (que faleceu em 1999) e a filha de Griaule, Genevieve Griaule-Calame defenderam a obra dele; esta última chegou a qualificar a crítica de van Beek como "especulação desenfreada".

Outros críticos encontraram mais falhas nos "descobrimentos" de Griaule. Como Peter James e Nick Thorpe, em seu livro Ancient Mysteries (1999). Eles se referem fundamentalmente aos argumentos de van Beek, mas também encontram lugar para aportes próprios. Por exemplo, notam sérias divergências entre a interpretação que Griaule faz e o que ele mesmo relata que lhes informaram os Dogon. Assim, a interpretação de Griaule assume que Po tolo é Sírio B, mesmo que a informação original seja muito diferente: "Quando Digitaria (Po tolo) está próxima de Sírio, esta última se faz mais brilhante; quando está mais longe de Sírio, Digitaria emite uma luz oscilante, sugerindo várias estrelas ao observador". Dificilmente pode-se dizer que isto sugere uma acompanhante invisível de Sírio. James e Thorpe também consideram suspeito o antigo interesse de Griaule pela astronomia, e sugerem que ele reinterpretou as respostas de seus informantes de acordo com seu próprios conhecimentos e ao que desejava ouvir.

Conclusão

Podemos resumir o estado atual do que é considerado por muitos como a evidencia mais sólida da visita de seres do espaço exterior à Terra em um passado remoto nos seguintes pontos:

  • Nenhum dos "extraordinários" conhecimentos astronômicos que esses visitantes alienígenas deixaram ao povo Dogon era desconhecido da astronomia moderna antes que seus mitos fossem registrados nos anos trinta e quarenta. Nisto se incluem vários erros óbvios, que parece muito pouco provável que tenham vindo de uma civilização tecnologicamente avançada.

  • Não existe nenhum registro prévio aos anos trinta e quarenta desse extraordinário saber astronômico. 

  • A evidência material a respeito desse extraordinário saber é ambígua e sujeita a interpretações arbitrárias, como o famoso "ovo do mundo", transformado em um "diagrama orbital". 

  • Existem explicações alternativas verossímeis, como a de Carl Sagan, baseada em processos de assimilação cultural que já foram observados entre outras culturas. 

  • Mais importante todavia: toda a lenda do saber secreto sobre Sírio do povo Dogon se baseia em uma única fonte (Griaule), e as afirmações dessa única fonte não puderam ser confirmadas por outros investigadores trabalhando sobre o mesmo terreno. Dito de outra forma, não houve uma verificação independente dos dados. 

  • Os dados e os métodos empregados pela fonte original foram questionados e criticados. 

  • E não é só uma questão dos dados originais não terem sido verificados independentemente: a investigação de Walter van Beek aponta evidências contra a idéia de que alguma vez existiu entre o povo Dogon um estranho, detalhado e preciso conhecimento astronômico, fora das possibilidades reais de uma sociedade pré-tecnológica. 

Pelo visto, a evidencia não é tão sólida quanto parece, ou como se quer fazer crer. Mesmo que até a Encyclopædia Britannica Online tenha sucumbido à demagogia e ao absurdo de aceitar que a cerimônia Sigui se baseia na "crença de que há 3000 anos anfíbios procedentes de Sírio visitaram os Dogon". Para concluir, e só como um dado curioso: Robert Temple não repara no trabalho de van Beek na reedição de seu livro The Sirius Mystery. Esta "estranha" omissão não pode ser menos que chamativa a um erudito de sua classe. É sem dúvida uma lástima
, já que ele poderia expor os inquestionáveis vínculos do antropólogo belga com a KGB, a CIA e a NASA, em seu intento coordenado por suprimir sua hipótese. A cronologia o permitia (Dogon Restudies é de 1991, e a reedição de The Sirius Mystery de 1998), mas muito provavelmente faz sentido se entendermos que essa classe de referências o faria perder uma boa fábula.

***

Nota: Esta é uma tradução adaptada da introdução e da segunda parte do artigo de Javier Garrido B. sobre os Dogon. A primeira parte omitida, por motivos de espaço e trabalho (para tradução) fornece informações aprofundadas e na verdade introdutórias sobre o "mito sobre o mito", sobre os Dogon e sobre Marcel Griaule. O apêndice contém um trecho em inglês de "Dieau d’eau", ou "Conversations with Ogotemmeli", o texto do próprio Griaule. Tudo isso pode ser achado seguindo o link para o artigo original, presente no começo desta página, logo abaixo do título. As fontes abaixo e suas descrições foram deixadas em castelhano pois é possível compreendê-las sem muito esforço.

Fontes:

Información general sobre los Dogon y su cultura
Dogon  artículo de la Encyclopædia Britannica Online.    
A Summary of the Dogon Cult de D. Zahan.    
Notes on Barbara DeMott, Dogon Masks: A Structural Study of Form and Meaning
Society-DOGON resumen realizado por  Marlene M. Martin y Robert O. Lagace.    
Dogon Cosmology and the Interface of Nature and Culture artículo de  Aharon N. Varady.    
Dogon Information  datos sobre la  sociedad Dogon.    
Le Mali artículo de Michel Tétu sobre la República de Mali.

Sobre Marcel Griaule
L’Afrique de Marcel Griaule Página del Musée de l’Homme, con motivo del centenario de Griaule en  1998.  Contiene mucha información sobre sus expediciones y  estudios. (en francés)   
Summary of Marcel Griaule”™s Work artículo de Eric Jolly. 

Acerca del descubrimiento de Sirio B
The Story of the Companion of Sirius

Información crítica
The Dogon and Sirius artículo del The Skeptic’s Dictionary.  
The Dogon Revisited por Bernard  Ortiz de Montellano, en  Doug’s Archaeology Site. Artículo amplio y bien documentado, del que he tomado muchos datos.   
Egyptians, Dogons, and Sirius: a summary  también de Bernard Ortiz de Montellano. En este puntualiza y refuta algunas de las afirmaciones mas frecuentes del "misterio de Sirio".  
The Sirius Mystery   por  James Oberg. Análisis crítico de la primera edición del libro de Temple.    
Can tales of Sirius be seriously breve artículo de  Jay Ingram.    
The Sirius Lie de  Filip Coppens.   
Das Sirius Rätsel. Was wissen die Dogon über Sirius A und B ?  de Klaus Richter. También de aquí he extraido mucha información útil. (en alemán)   
Het mysterie van Sirius en de Dogon. artículo publicado originalmente en "Skepter" en 1996 por Rob van Gent. De esta página he tomado varios  datos sobre la obras de Guerrier y Temple.  (en holandés)   
Il mistero dei Dogon e Sirio B de G. Comoretto. (en italiano)

Etcétera
Páginas acríticas sobre el "misterio de Sirio" se encuentran a cientos en la Web. Por cuestión de principios, no acostumbro colocar enlaces a lugares que fomenten la credulidad, la superstición y la pseudociencia (ya tienen una promoción tan abundante como inmerecida, así que ¿para qué ofrecerles más?) pero por esta vez he decidido hacer una excepción. En parte porque he citado material de esas páginas, y en parte para que el visitante pueda hacerse su propia opinión al respecto.  

The Sirius Mystery – The Robert Temple Interview reseña de una entrevista a Robert Temple por  Paul Roland en Sighting Magazine.   
Dogon artículo de Loy Lawhon en  ufos.about.com.   
The Dogon, the Nommos and Sirius B una de tantas páginas sobre el "misterio", aunque muy discretamente menos crédula que muchas otras. Al menos, sirve como referencia sobre algunos de los aspectos mas importantes del mito, y presenta una recreación "artística" del Nummo (lo representa como una especie de hombre-rana).  

***

No he podido hallar material crítico sobre el "misterio de Sirio" en castellano en la Web (bueno, tampoco en otros idiomas es muy abundante, que digamos). Sin embargo, la bella lengua de Cervantes no puede lamentar que no se haya tratado el tema: he encontrado varios artículos "no críticos" al respecto, en su mayoría de muy escaso valor. Casi todos se limitan a repetir datos de publicaciones en inglés, asociandoles, como valor agregado, maltraducciones, errores y exageraciones varias. Reseño a continuación unos pocos: 

Los Dogon y la estrella Sirio   de Costantino Paglialunga (otro misterio que la ciencia actual no ha logrado descifrar etc, etc, etc…)    
El misterioso conocimiento Dogon en la Web "Enigmas". Si se quiere, es una buena exposición del mito, sin mayor originalidad.  
Los dioses que bajaron de Sirio artículo de Javier Sierra y Manuel J. Delgado. Contiene algunos gruesos "errores", como inventarse un libro publicado por la hija de Griaule en 1970, con datos dejados por este y "que no se atrevió a dar a luz"(!!!!); pero lo que describen no es otra cosa que el relato cosmogónico de Dieu d”™eau ¡publicado en 1948!  
¿Quienes son los Dogon?   de Jesús Rodríguez, en la revista de la CICI.  Hace un valiente intento de eliminar la discrepancia entre el período orbital de Sirio B y la periodicidad de la ceremonia  "Sigui", haciendo que esta se celebre cada 50 años en lugar de cada  60. Ahora no le queda sino convencer a los Dogon de
que cambien sus costumbres.

14 comentários sobre “Os Dogon e o mistério de Sírio

  1. Interessante, essas hipóteses aventadas aqui. Mais interessante ainda, é achar exploradores que teriam um conhecimento tão amplo sobre astrônomia, para explicar as cúriosidades dos Dogon. Melhor ainda, missionários, protestantes, avessos a ciencia, especialmente naquela época, falarem sobre astrônomia com tanta eficiência e conhecimento. Enfim, a cada um cabe melhor a explicação que lhe convém. Continuo fã incondicional de Carl Sagan( saudades da série Cosmo), que deixa em aberto o caso Dogon, onde ele tenta achar explicações plausiveis, mas não descarta a possíbilidade de outras fontes terem levado esse conhecimento aos Dogon. Vamos ver oque mais vai ser preciso para começarmos a analizar também a hipótese que visitante de outras estrelas tenham um dia passado por aqui.

  2. O Carl Sagan caiu um pouco no meu conceito, era mais fácil ter falado: “Eu não sei como eles possuem estes conhecimentos” Preferiu criar uma louca explicação. Não dá para levar a sério nemhum dos lados, pois todos são fanáticos por uma verdade e dói na cabeça ler essas sandices. Mesmo assim o texto é interessante.

  3. É engraçado mesmo como os seres humanos do século 19 tinham tanto conhecimento astronomico e como montaram um cenário complexo como este.

    Realmente, se partimos do caso que qualquer ficção que criarmos com elementos terrenos (que conhecemos) seja mais plausível que ficção criada com elementos extraterrenos então esse raciocínio todo é correto.

    Agora se partimos do caso de que há alguns séculos o conhecimento não era tão difundido e se entrarmos no ponto de que algumas dessas fontes citadas também são questionadas de diversas formas, fica tudo muito difícil de acreditar.

    Um grande abraço,

  4. Realmente, o que dá aparência de parcialidade nas análises é o contexto proposto para a criação dos contra-argumentos.
    Ou seja, não é nada óbvio que esta etnia, nos anos 20 a 40, tenha sido visitada por indivíduos (brancos) com tanto saber astronômico e que estes, sem qualquer razão lógica aparente, num lugar onde deve faltar tudo, resolveram, através de intérpretes, revelar, para uma platéia de “incultos”, conhecimentos que, provavelmente, 99,99% dos brancos/ocidentais também não tinham na época. Sintetizando, pessoas dedicavam elevados números de horas de estudo e interpretações astronômicas elegeram este povo como o mais habilitado a ouvir, se interessar e absorver o que poucos ocidentais tiveram oportunidade.

  5. Compartilho com o pensamento do Márcio. Custa-me imaginar europeus, na década de 30, sentados ao redor da fogueira, fumando um com os dogons e falando sobre Sirius A, B, C , D , E (chega!), explicando detalhes pros pajés… a órbita de Sírius é elipsoidal et coetera e tal, hahahahaha, e a indiarada, alunos aplicados, atentos às palavras dos mestres. Mai gote, Carl Sagan…até tu. Tem malucos que fazem de tudo pra provar a existência de vida em outros planetas, querem manter contato a qualquer preço, e outros mais malucos ainda, são capaz de matar a mãe pra provar que só os humanos habitam a infinidade do universo.
    Eu poderia falar e mostrar coisas e não- coisas que fariam esses cientistas positivos ansiarem pra que tudo acabe e eles realmente enxerguem a verdade e ela lhes liberte. Mas não fui autorizado e portanto…. silêncio.

  6. Realmente, difícil acreditar que os indião tenham aprendido astronomia com os brancos.
    O que eles sabiam, simplesmente sabiam. Quando aprenderam e de quem, e se os desenhos não eram lá ultra-perfeitos, mesmo assim acho que de alguma estranha acontecera com eles. Se o 1º cara era de confiança, o 2º foi lá só pra jogar areia. 

  7. Entao..Lí “O mistério de Sirius” há poucos dias e estou à cata de “Le Renard Päle”.Identifiquei nas informaçoes sobre a origem das máscaras, um saber secreto, e recontado no Brasil,dos Yorubas,vizinhos dos Dogon, na Nigéria e Níger.Se Griaule relatou os rituais Dogon com detalhes, entao terei certeza da memória Yoruba, que relata a Criaçao do Mundo e a Criaçao do Homem, com as mesmas palavras, pontos e vírgulas dos Sumérios e Babilônios ( embora nao digam que os orixás sao anfíbios, cultuam um deus-serpente e sua família)e ainda vao além, detalhando o nascimento do primeiro satélite de Nibiru/Olodumare.

  8. Mais um pouquinho de lenha…Lí quase todos os l ivros de Sitchin e concordo com ele.Pena que ele nao pesquisou os Yoruba, nem veio ver, ou soube, da Itacoatiara do Ingá, aqui, na Paraíba. Mas, defendi as informaçoes dele quando apresentei minha monografia em 1998, na UFAL, com o título:”Judeus e Nagôs e a mesma tradiçao:a Criaçao do Mundo”.Importante citar que só INICIADOS QUE CONQUISTAM A CONFIANÇA DOS SACERDOTES (mesmo hoje, no,Brasil)conseguem compreender e obter informaçoes.Informaçao para pesquisadores custa muito caro… Hoje, com Nibiru as portas, os incrédulos devem estar repensando…Abraços,

  9. Annunaki em sumério significa “aqueles que desceram dos céus” e eles não se referem aos mesmos com o mesmo conceito de deidade que temos hoje. Nesta “mitologia” temos como personagem principal, Enki, que envergava formas anfíbias. Temos aí, então, uma convergência de informações, espacialmente e cronologicamente separadas.
    Basta só estudar um pouquinho de engenharia e arqueologia, para podermos concluir que os egípcios JAMAIS poderiam construir as Grandes Pirâmides na idade do bronze e que os habitantes da Ilha de Páscoa JAMAIS poderiam transportar os moais na idade da pedra e que os povos andinos JAMAIS conseguiriam lavrar as pedras de Puma Punku, também dominando apenas o broze…
    Ficam para os senhores as conclusões.

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