O Mistério dos Crânios de Cristal

Luis Alfonso Gámez, publicado em El Correo
tradução gentilmente autorizada

Lubaantun. Só o nome já evoca exotismo e mistério. É o de uma cidade maia do sul do Belize, datada entre 700 e 900, cujas escavações o aventureiro britânico F.A. — de Frederick Albert — Mitchell-Hedges visitou nos anos 20 do século passado. Sua filha adotiva, Anna Mitchell-Hedges, fez ali em 1 de janeiro de 1924 "um descobrimento que ia mudar sua vida", segundo o sítio web oficial do par. "Viu um objeto brilhante que cintilava entre as pedras da pirâmide e, no dia em que fazia 17 anos, haviam retirado rochas suficientes para alcançar o objeto. Era o "crânio de cristal". A essa jóia se refere o título do quarto episódio cinematográfico do mais famoso dos arqueólogos: Indiana Jones e o Reino do Crânio de Cristal, cuja estréia está prevista para o próximo 22 de maio.

"O Crânio do Destino é de cristal de rocha puro e, segundo os cientistas, fazê-la deve ter levado 150 anos, geração depois de geração, trabalhando todos os dias de suas vidas, esfregando com areia um imenso bloco de cristal de rocha até que finalmente emergiu o crânio perfeito. Tem ao menos 3.600 anos e, de acordo com a lenda, o grande sacerdote dos maias a utilizava na celebração de ritos esotéricos. Dizem que, quando invocava a morte com a ajuda da caveira, a morte sempre acudia. É considerada a encarnação de todo mal", escreveu F.A. Mitchell-Hedges em 1954 em Danger my ally (Perigo, meu aliado), sua autobiografia.

Formada por dois blocos de quartzo -o crânio e a mandíbula-, a jóia mede 13,3 centímetros de altura e de comprimento, e pesa 5 quilogramas. Sua origem nunca esteve clara. A filha do aventureiro manteve até sua morte, em 7 de abril passado, que a tinha encontrado no dia de seu décimo sétimo aniversário nas ruínas de Lubaantun, versão que se encaixa perfeitamente na vida de quem, a princípios do século XX, vendeu-se como uma espécie de Indiana Jones. Durante muitos anos, alguns suspeitaram, não obstante, que o homem tinha mandado esculpir a peça e logo a havia enterrado para que sua filha a encontrasse como um presente de aniversário. Nenhuma das duas versões se sustenta na atualidade.

Uma vida de filme

Nascido em 1882, quando menino F.A. Mitchell-Hedges "leu aos grandes romancistas de aventuras da época e fantasiou com o descobrimento de cidades perdidas, o encontro com tribos selvagens e sobreviver a lutas com bestas selvagens", conforme se lê em seu sítio web, onde se explica que cumpriu seus sonhos e, com os anos, foi agente da bolsa, comerciante de antiguidades, explorador, arqueólogo, pescador esportivo, escritor… Personagem ao estilo do criado por George Lucas e Steven Spielberg, protagonizou episódios muito cinematográficos, segundo sua biografia oficial. Assim, quando foi capturado no México pelas tropas de Pancho Vila em 1913, escapou da morte a tiros ao provar que era inglês, e não americano, cantando o God Save the Queen. Depois, Mitchell-Hedges se uniu ao bandoleiro e lutou a seu lado na batalha de Laredo.

Tanta agitação se plasmou nos anos 30 em um programa de rádio semanal em Nova Iorque, no qual contava as múltiplas ocasiões em que tinha escapado de morrer nas mãos de selvagens ou entre as presas de alguma fera. Escreveu cinco livros -incluindo uma sobre suas lembranças como prisioneiro de Pancho Vila- e, apesar de ser famoso pelo achado do crânio de cristal, nunca a mencionou antes de 1944 e só lhe dedicou em sua autobiografia o parágrafo mencionado anteriormente, ao que precediam as seguintes linhas: "Levamos conosco [para a África em 1948] a sinistra Caveira do Destino da que tanto se escreveu. Tenho razões para não revelar como chegou a minhas mãos". F.A. Mitchell-Hedges morreu em 1959 sem esclarecer como se deparou com a jóia.

Enganações

Joe Nickell, do Centro para a Investigação Cética (CSI), e o cientista forense John Fisher investigaram as origens do crânio de cristal a princípios dos anos 80, com surpreendentes resultados. Comprovaram, para começar, que Thomas Gann, arqueólogo aficionado, e T.A. Joyce, do Museu Britânico, que escavaram em Lubaantun nos anos 20, não mencionam a peça em nenhum de seus livros. "Este objeto não tem nada a ver com o lugar nem com a arqueologia maia (realidade, até onde sei, nem com a américa pré-colombiana)", explicou o arqueólogo Norman Hammond, perito na cultura maia da Universidade de Boston, quando lhe perguntaram por que não a citava em sua monografia sobre o enclave, publicada em 1975.

Em seu livro Secrets of the supernatural (1988), Nickell e Fisher destacam que em nenhuma foto tomada por Lilian Mabel Alice -mais conhecida como Lady Richmond-Brown e que estava acostumada a imortalizar os descobrimentos do explorador- vê-se a jóia ou a suposta autora do achado na cidade maia. "Anna Mitchell-Hedges nunca esteve em Lubaantun, à falta das provas", sentencia Hammond. Existem documentos, entretanto, que provam que a peça foi leiloada por um tal Sydney Burney na Sotheby”™s, em Londres, em 1943 com um preço de saída de 340 libras. Ninguém a comprou e, ao ano seguinte, F.A Mitchell-Hedges pagou a seu proprietário 400 libras pela peça. Um artigo publicado em 1936 pela revista Man revela, além disso, que a jóia era já então propriedade de Burney. Mas de onde tinha saído?

A Caveira do Destino não é única em seu gênero. Há várias mais de tamanho quase real, das quais a mais famosa é propriedade do Museu Britânico. Até meados dos anos 90, estava catalogada como "provavelmente asteca, de entre 1300 e 1500". A instituição a adquiriu em 1898 da Tiffany”™s, Nova Iorque, por 120 libras. Seu proprietário até então tinha sido o comerciante de antiguidades francês Eugène Boban. "Uma análise de várias caveiras de cristal realizada pelo Museu Britânico em 1996, utilizando microscopia eletrônica de varredura, encontrou sulcos regulares que só podem ter sido feitos mediante polimento mecânico
, e a análise do quartzo revelou que se tratava de cristal brasileiro, que nunca foi empregado na Mesoamérica e sim na Alemanha no século XIX", explica o historiador José Luis Calvo, membro do Círculo Escéptico espanhol.

De asteca a européia

Quatro anos antes, em 1992, o Instituto Smithsoniano examinou uma jóia similar adquirida no México em 1960 e que se presumia asteca. O estudo concluiu que tinha sido fabricada recentemente e que procedia de Boban, o comerciante de antiguidades francês, quem assegurava havê-la adquirido na Alemanha. Tanto a peça britânica, como outra similar que há no Museu do Homem, de Paris, foram adquiridas também por Boban, quem comercializou antiguidades pré-colombianas autênticas e falsas no México entre 1860 e 1890, e sobre o que recaem todas as suspeitas da autoria destas falsificações. O Museu Britânico tem agora sua caveira catalogada como "provavelmente européia, do século XIX". É o que pensam os historiadores das culturas pré-colombianas sobre todos os crânios de cristal, incluindo o de Mitchell-Hedges, por mais que este o tenha rodeado de lenda.

O aventureiro e sua filha fizeram de seu crânio de cristal um símbolo do esoterismo, enquanto ele lhe atribuía um poder maléfico e ela, justamente o contrário. "A caveira foi utilizada várias vezes para curar e espero que algum dia esteja em alguma instituição onde a usem matemáticos, meteorologistas, cirurgiões…", escreveu a Nickell em 1983 Anna Mitchell-Hedges, quem se negou a ceder a peça para que fosse examinada em um laboratório. As palavras da mulher devem ser postas em quarentena, como em seu momento se fez com a falsa história do achado e as façanhas autobiográficas de seu pai.

O episódio da caveira de cristal é apenas um mais em uma trajetória de vida repleta de elementos fictícios. Porque F.A. Mitchell-Hedges nunca foi arqueólogo e, quando visitou Lubaantun, o fez enviado pela revista The Illustrated London News; tampouco consta de que tenha sido aprisionado por Pancho Vila e é impossível que lutasse junto ao bandoleiro na batalha de Laredo, porque esse encontro armado nunca teve lugar… Ele dizia que a caveira de cristal procedia da Atlântida, um continente perdido tão imaginário como muitas de suas proezas e será preciso esperar até 22 de maio para saber se é o reino a que se refere o título da última aventura de Indiana Jones.

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O arqueólogo mais famoso volta a suas origens em
Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

Vinte e sete anos depois de arrebatar a Arca da Aliança aos nazistas e dezenove depois de beber água do Graal, retorna a um cenário idôneo para suas aventuras e o espetáculo. Porque, assim como Em Busca da Arca Perdida (1981) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989), a história girará ao redor de um dos mitos do esoterismo atual, alimentados por autores como Erich von Däniken, Louis Charpentier, Robert Charroux

O doutor Jones tirou há quase trinta anos a Arca da Aliança dos livros de pseudo-história. Segundo a tradição bíblica, era o receptáculo em que Moisés guardava as Tábuas da Lei, que continham os Dez Mandamentos.

Entretanto, em 1963 Robert Charroux, em Cem mil anos de história desconhecida (1963), falou da Arca pela primeira vez como "um condensador elétrico", citando uma obra de 1948 em que Maurice Denis-Papin dizia que se tratava de "uma espécie de cofre elétrico capaz de produzir poderosas descargas, da ordem de 500 a 700 volts". Com essa base e nenhuma prova, os pseudoarqueólogos -indivíduos que encheram o passado humano de extraterrestres- converteram com os anos a Arca em uma espécie de arma de destruição em massa graças à qual os israelitas derrubaram, por exemplo, os muros de Jericó. Em sua primeira aventura, Indiana Jones fazia eco dessa tradição e a Arca acabava guardada em um grande hangar, cabe supor que junto com outros objetos históricos turbadores.

A realidade é que não há nenhuma prova de que tenha ocorrido algo parecido com o que relata a Bíblia e, muito menos, de que a Arca do Aliança fosse, casso tenha existido, remotamente parecida ao que sustentam os vendedores de mistérios. Como tampouco há da existência do Graal, a taça que teria utilizado Jesus na Último Ceia e em que José da Arimatéia recolheu seu sangue durante a crucificação.

Como no caso do santo sudário, a lenda do Graal é de origem medieval. Nasce no século XII e se nutre de tradições culturais pagãs, como a do corno da abundância. Foi uma época em que apareceram relíquias por todos lados, porque proporcionavam riqueza aos monastérios e igrejas em forma de visitas maciças de peregrinos. Assim se multiplicaram dedos e cabeças, prepúcios, lençóis santos e graais, dos quais chegou a haver vários só na Espanha. Um deles, o da catedral de Valência, foi utilizado por Bento XVI para oficiar missa em sua visita à Espanha em 2006. É tão autêntico como o de Indiana Jones.

8 comentários sobre “O Mistério dos Crânios de Cristal

  1. tsc tsc…. se esses cranios de cristais fossem encontrados no brasil na oscar freire custaria 15.0000

    – a 25 de março 5 reais

    – mas como foi encontrado la fora .. virou misterio…

    – malditos muambeiros que deixaram cair antes de trazer para o brasil.!!!

  2. As caveiras de cristal não possuem nenhum mistério. Enigmático mesmo é descobrir como o homem pré-histórico construiu aqueles megalíticos de diorito em Puma Punku. Se alguém me explicar como conseguiram cortar aqueles blocos de centenas de toneladas com precisão cirúrgica, aí eu me convenço que os céticos têm razão em tudo que dizem.

  3. Esses cranios tem sim poderes,pois eram usadas em rituais misticos,e tdos nos sabemos o quanto o povo maia usava da feitiçaria para seus rituais, estou me formando em arqueologia, e um dos misterios q mais gosto de estudar e exatamente sobre os cranios de cristal,quem sabe um dia ainda encontro um!?

  4. Olá!
    Mario e Luana

    Realmente concordo com vocês, estes crânios possivelmente têm poderes, infelizmente não estou conseguindo distinguir quais os poderes. Não estou me formando em arqueologia mas já estou a 2 anos pesquisando sobre isso, e até agora não consegui respostas concretas! Eu não desisto nunca, pois tenho certeza que ainda irei descobrir este mistério!

    Abraços!

  5. É interessante como tem certos tipos de pessoas que acreditam em tudo que aparece na internet. Eu me considero um Cético e este site me dá muito argumento para que as pessoas pelo menos passem a duvidar das informações que geralmente são incompletas e procurem user mais a razão.

  6. Eu acho que tudo isso é verdade. E eu que sou uma pessoa muito curiosa,
    gostaria de saber quem criou esse crânio.
    È tão incrivel as coisas que tem na natureza

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