Símios de Bondo

O escritor Michael Crichton escreveu no livro Congo, adaptado em um filme homônimo, sobre a história da cidade perdida de Zinj. Abandonada pelos homens e consumida pelas selvas do Zaire, a cidade continha um tesouro de diamantes guardados por uma espécie desconhecida de símios. Desde que a história foi escrita, o Zaire voltou a se chamar Congo, e nas selvas da agora República Democrática do Congo a ficção parece se concretizar, em parte pelo menos: um grupo de símios está intrigando os cientistas. E podem ser uma nova espécie de macaco gigante desconhecida até hoje.

As evidências dos animais são antigas, mas até recentemente resumiam-se a crânios capturados na região de Bili, próxima de Bondo. Os crânios eram suficientemente diferentes para que Henri Schoutenden, curador do Museu Real para a África Central na Bélgica, os classificasse em 1927 como uma nova subespécie de gorila. Finalmente, há pouco mais de sete anos, o fotógrafo e conservacionista suíço Karl Ammann se engajou em uma busca pelos símios misteriosos, e reuniu uma série de novas evidências. Ammann documentou na região de Bondo uma série de abrigos no chão ““ uma característica comum de gorilas. Os chimpanzés, que também vivem na área, costumam por seu tamanho menor se refugiar em árvores. Próximo dos abrigos no chão contudo, Ammann também encontrou fezes e restos de pêlos. E tais vestígios indicam chimpanzés: um exame das fezes indica uma dieta rica em frutas, característica de chimpanzés, e uma análise preliminar do DNA coletado aponta na mesma direção. Os pesquisadores acreditam que Ammann pode ter encontrado um grupo de chimpanzés de tamanho incomum que se comportam como gorilas.

Para Esteban Sarmiento, do Museu Americano de História Natural, “é um chimpanz锝, como declarou à revista National Geographic. Sarmiento viajou com Karl Ammann para a região em 2000, e sugere: "há três subespécies conhecidas do chimpanzé comum Pan troglodytes e eles podem representar uma quarta subespécie ou modificar nosso entendimento sobre onde traçar uma divisão entre subespécies".

Já Duane Rumbaugh, professor da Universidade Estadual de Geórgia, EUA, frisa que não se pode excluir a possibilidade de que seja uma nova espécie ou um híbrido. Ammann ainda não conseguiu capturar nenhum espécime vivo do “símio misterioso de Bondo”, mas já conseguiu o que acredita serem duas fotografias. Uma foi capturada por aparelhagem automática na selva, e outra mostra o corpo de um dos seres capturado por caçadores no ano de 2000.

Duas fotografias do símio de Bondo, evidenciando seu tamanho incomum.

Caso o animal revele ser um híbrido entre um gorila e um chimpanzé, esse não seria um caso único. Há vários exemplos de cruzamento de sucesso entre espécies diferentes, incluindo entre orangotangos de Bornéu e Sumatra. Um híbrido particularmente interessante é o “ligre”, fruto do cruzamento entre um leão africano e uma tigresa. Os ligres são os maiores felinos do mundo, podendo atingir 3,6 metros de altura quando de pé sobre as patas traseiras.

Um ligre, híbrido de um leão e tigresa, é o maior felino conhecido.

Quer o “misterioso símio de Bondo” seja uma nova subespécie de chimpanzé, um grupo de híbridos ou até mesmo uma nova espécie de macaco, Karl Ammann opina: “Tenho pouca dúvida de que logo poderemos ver imagens do que serão chimpanzés muito grandes fazendo algo nas florestas de Bili e Bondo. E tenho pouca dúvida de que esse ‘algo’ ilustrará uma nova cultura de chimpanzés, e possivelmente muito mais”.

Atualização

Como comentado em nosso blog de notícias, testes de DNA no ano de 2006 confirmaram que os símios de Bondo são chimpanzés comuns, apenas peculiarmente robustos. Os resultados foram noticiados na revista New Scientist: DNA tests solve mystery of giant “˜lion-killing”™ apes.

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Confira também:
– Hominídeos Elusivos
– The Bondo Mystery Apes