Sim, Virginia, o Grande Cthulhu existe

Sim, Virginia, o Grande Cthulhu existe

Caro Editor,

Eu tenho 8 anos. Alguns de meus amiguinhos dizem que não há nenhum Grande Cthulhu. Papai disse que “se está em Alt.Horror.Cthulhu, então existe”. Por favor me conte a verdade, existe mesmo um Grande Cthulhu que emergirá das profundezas das águas do Pacífico para varrer a Terra de todas as coisas vivas?

——Virgina Marsh

Virgina, seus amiguinhos estão errados. Eles foram afetados pela febre de esclarecimento de uma assim chamada era “iluminista”. Eles não acreditam em nada a menos que carregue o peso da autoridade científica. Eles pensam que nada que não seja compreensível por suas pequenas mentes possa existir. A realidade é aquilo que pode ser catalogado e medido, mastigado em doses racionais para as pessoas comuns.

Todas as mentes, Virgina, sejam elas de adultos ou crianças, são pequenas. Neste vasto caos que nós risivelmente chamamos de universo, o homem é um mero inseto, um bichinho cujo intelecto tem tanta chance de assimilar a verdade por completo quanto uma formiga tem de entender geometria não-Euclideana.

Sim, Virgina, o Grande Cthulhu existe. Ele existe tão certamente quanto a apatia do cosmo se esvai, e você sabe que esta falta de significado eflui e configura a sua vida como o maior absurdo.

Ah! Quão confortável seria o mundo se não houvesse nenhum Cthulhu! Seria tão confortante quanto se um Papai Noel realmente se preocupasse e recompensasse as crianças por fazerem o bem. Haveria então fé pueril, um mundo de doce poesia e romance para tornar a existência idílica e atraente. A luz externa com que a infância preenche o mundo nunca teria fim.

Não acreditar no Grande Cthulhu! É como não acreditar em Hastur ou no Necronomicon. Você poderia pegar os livros e Skeptical Inquirers do papai e ver se Cthulhu é mencionado dentro de qualquer contexto histórico ou se R’lyeh realmente jaz sob o Oceano Pacífico, mas até mesmo se você não o encontrasse mencionado em seus livros ‘ sagrados’, o que isso provaria? Ninguém vê ou conhece Cthulhu, mas isso não é sinal de que não há nenhum Grande Cthulhu. As coisas mais reais no mundo são aquelas que não podemos conhecer através dos sentidos. Você pode sentir a dor de cabeça de seu amigo? Não, mas a dor dele afeta sua vida ainda assim. Você sente a angústia de nunca viver uma vida que nunca quis por quaisquer de seus cinco sentidos? Não, mas o desespero continua. Mas se tais realidades são conhecidas mas nunca são vistas, então por que deve a ignorância alheia do que não é visto nos levar a compartilhar sua cegueira? Por que direito eles mereceram sua obediência? Ninguém pode conceber o inconcebível, incluindo seus líderes de pensamento.

Você quebra o chocalho de um bebê para ver o que há dentro que faz tal barulho, mas as pequenas bolas que encontrar não podem explicar ou ilustrar o medo de um mundo hostil que faz esse bebê apertar e sacudir o chocalho daquela forma. Somente perto da insanidade pode-se colocar de lado a cortina de nossas esperanças e ver com a loucura pura o vazio que jaz além.

É essa a realidade? É essa a verdade? Dar uma resposta é apenas substituir a cortina por outra. E é isto que faz o Grande Cthulhu tão verdadeiro e real quanto qualquer véu que coloquemos nos caos. Se devemos criar um significando, por que não o Grande Cthulhu? Pelo menos a escolha é livre.

Graças a Azathoth! O Grande Cthulhu vive e sempre viverá. Por mil anos, Virgina, não, por 10 vezes 10.000 anos, ele continuará esperando o tempo em que as estrelas estarão na posição certa novamente. Porque para aqueles que a eternidade cobre, em estranhas eras mesmo a morte morre.

(do Editorial, Arkham Advertiser, 1928)

[original de Steven Harris]

[Desejando boas festas, lembrando da clássica e comovente Carta a Virginia e do Chamado de Cthulhu (em espanhol, em inglês)].

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