Riolândia facts


Comentamos rapidamente o caso dos “sinais” em um canavial em Riolândia poucos dias após o evento, na madrugada do dia 20 de janeiro. Programas dominicais de grande audiência como o “Fantástico“, da TV Globo, abordaram o assunto no fim de semana seguinte, e na próxima semana ele seguiu sendo explorado diariamente no programa diurno “Balanço Geral”, da TV Record. Com o foco da mídia, novos testemunhos, novos “sinais” e mesmo registros videográficos surgiriam, e os ufólogos que visitaram o local de início — e já haviam voltado para casa — foram chamados outra vez.

O fenômeno retornou e se alastrou para diversas outras cidades do centro-oeste do estado. Ontem, contudo, o mesmo “Fantástico” ofereceu uma abordagem rigorosamente cética ao tema — ainda que sucinta — provocando a indignação de entusiastas. A ausência de provas, notada pela reportagem, talvez seja especialmente terrível, porque é um fato. A Riolândia Fact.

Afinal, o que há de concreto nos sinais no canavial?

Apesar de toda a atenção recebida, de diversos ufólogos terem visitado o local, contando mesmo com o auxílio de recursos da prefeitura de Riolândia, há muito pouco de concreto divulgado até o momento. A fonte mais informativa permanece sendo o relatório inicial redigido pouco após o evento pelo engenheiro Jorge Luis Nery, do grupo INAPE de Araçatuba, o primeiro ufólogo a chegar ao local e ainda hoje seu principal investigador. Pude conversar longamente com Nery, que respondeu a todas minhas perguntas.

FRAUDE
É natural encarar os sinais em Riolândia como a contraparte tropical dos círculos ingleses. E quem vê ETs lá, também os enxerga aqui. Mas vale ressaltar que o próprio Jorge Luis Nery afirma apenas haver uma associação entre o “fenômeno” dos canaviais e avistamentos de bolas luminosas, OVNIs. Que não são sinônimo de discos voadores. Isto é, mesmo ao primeiro ufólogo no local, espaçonaves ou extraterrestres que derretem com água não foram constatados ainda.

Por outro lado, quem vê os círculos ingleses como obras muito humanas, que podem ser criadas com relativa facilidade pisoteando as plantas com uma tábua, assume que a cidadezinha às margens do Rio Grande acaba de descobrir a roda – ou a tábua. E todo o dinheiro e atenção midiática que tais curiosidades despertam.

Há um detalhe, contudo. Cada cana-de-açúcar possui um caule rígido com um diâmetro em torno de três centímetros. Em um canavial denso, as folhas dos caules também se entrecruzam, e a tentativa de deitar a cana encontra resistência cada vez maior, enquanto uma planta se apóia em outra. Algo tão elementar foi de fato averiguado por Nery. O ufólogo teria solicitado ao proprietário da pousada, Maurício da Silva, que tentasse deitar algo do canavial, a ação que se presume de pronto que teria praticado. De acordo com o pesquisador, mesmo aplicando todo o peso do corpo, Silva não teve sucesso. O próprio Nery também falhou na tarefa.

Nenhum sinal da passagem de equipamentos pesados pelo local foi encontrado. E como quer que as canas estejam sendo deitadas, o processo não parou na propriedade de Maurício da Silva. Jorge Nery relata que nos últimos dias o número de canaviais amassados continuou se estendendo e seriam centenas de áreas ao longo de quilômetros de canavial, todas com vários metros. E elas continuariam surgindo na região.

Mistério?

TORNADOS E FERTILIZANTES
Como o professor de ciências atmosféricas da USP, Pedro Dias, disse ao Fantástico, tais formações poderiam ter sido resultado de fenômenos naturais. O meteorologista José Figueiredo, do CPTEC de São José dos Campos, também sugeriu a possibilidade de uma espécie de tornado. Abaixo você confere o resultado da ação de uma “micro explosão” (micro-burst) sobre uma floresta de eucaliptos:

De fato muito similar ao que se vê pelos canaviais do interior de São Paulo. Vale lembrar que vivemos um período de chuvas por todo o sudeste, e como comentou Dias, estas tempestades também poderiam contar com fenômenos elétricos que poderiam responder pelos avistamentos de OVNIs. Mais informações sobre tais fenômenos podem ser vistas nesta apresentação do meteorologista Amaury Caruzzo (PDF).

Outra possibilidade promissora seria a de alterações no solo, que poderiam ter enfraquecido determinadas áreas do canavial e se manifestado dessa forma peculiar apenas neste período. “Buracos” em plantações devidos a problemas de fertilização não são incomuns.

Ambas hipóteses, contudo, não parecem explicar todo o “fenômeno” que se assiste aqui. Nery alega que não há indícios da ação de ventos fortes nos canaviais deitados. Mesmo considerando a ação localizada de tais ventos, sua seletividade parece mesmo artificial. Não houve destelhamento da pousada de Maurício Silva, por exemplo, localizada exatamente entre várias áreas de plantas deitadas. Todas apontando para a mesma pousada.

Já problemas no solo não parecem explicar todo o fenômeno porque as plantas deitadas não apresentariam qualquer diferença com relação à cana intacta. Sempre segundo Nery, também há pelo menos um caso em que mesmo capim foi deitado, na mesma direção da cana. Tudo isso sugere uma ação artificial, inteligente.

EXTRATERRESTRES?
Teríamos assim que aceitar a ação de naves extraterrestres? Muitos vendedores de mistérios argumentariam desta forma. Mas também há problemas com a idéia de que a cana está sendo amassada por espaçonaves. Piadas infames abundam, e concretamente, boa parte dos problemas das hipóteses de fraude e ação natural também se aplicam à idéia de naves extraterrestres.

Se um disco voador simplesmente pousasse sobre um canavial, como ilustrado nessa adorável animação (clique), as plantas seriam esmagadas a esmo. Para que elas resultassem no que foi constatado, seria necessário que a aeronave literalmente “penteasse” o canavial, em uma direção. Talvez um pente voador gigante pudesse ser o culpado.

Ao mesmo tempo, os fenômenos luminosos associados ao surgimento dos canaviais amassados são uma evidência incerta. Comumente, fenômenos que geram uma luminosidade forte indicam a radiação intensa de energia, que se traduziria no mínimo em calor. Mas não foi notada nenhuma alteração nas plantas além do fato de que estão dobradas. Nenhuma queimadura, ressecamento ou qualquer outra anomalia.

E quanto às plantas dobradas, como Jorge Nery esclareceu, não são todas que apresentam uma dobra no meio do caule. Em verdade, apenas algumas teriam este aspecto. A maior parte dobrou-se na base, ao chão. Ainda que Nery seja enfático ao notar a estranheza de que nenhuma planta teria se quebrado, seja no caule ou na base.

Atribuir assim o fenômeno a naves extraterrestres, apenas porque as outras hipóteses não parecem explicar todos os aspectos presentes, e assumindo que os alienígenas possuiriam uma tecnologia mágica capaz de explicar tudo, é tão razoável quanto que supor que é tudo um sinal de Deus – que, da mesma forma, seria onipotente. Explicar o inexplicado com base em uma outra incógnita é apenas manifestar uma crença, e não um raciocínio. É o mesmo que dizer “porque sim”.

Mas enfim, ficaremos apenas vendendo a existência de um “mistério insolúvel” por aqui também? Por certo que não.

MEL GIBSON TUPINIQUIM
Em nossa nota inicial sobre o tema, brincamos sobre como o proprietário da pousada “Piapara”, Maurício da Silva, também dono de parte do canavial afetado a alguns passos de sua casa, poderia ser o nosso Mel Gibson latino. Todo o acontecimento mantém coincidências demais com o filme “Sinais”, exibido duas semanas antes no “Festival de Sucessos” pela Globo. O filme alcançou a liderança isolada da audiência, com 31 pontos de ibope.

Poderíamos nos estender a descrever todas as coincidências, mas talvez uma imagem valha muito mais:


[Vista aérea da pousada de Silva, e cartaz do filme Sinais]

Testemunhos são sempre valiosos, mas por si só, jamais são suficientes. Silva, por exemplo, que inicialmente descreveu seu pavor e medo frente à luz que teria testemunhado (“Eu fiquei apavorado”), agora fala de sua beleza (“É a coisa mais linda do mundo”). A grande luz que “não era um disco, era oval meio comprido, grande. Não sei dizer a cor, tinha uma luz amarelada”, hoje são “três bolas desse diâmetro, uma ao lado da outra, bem alinhadas e luminosas”.

Silva não teria sido a única testemunha da ação de OVNIs sobre o seu canavial. O casal Solange e Durval Ambrizzi, que estava em um trailer estacionado ao lado da pousada, também teria observado o fenômeno. De forma inesperada, contudo, Silva conta que se assustou com o que viu e… voltou para o quarto dormir. Não acordou sua esposa, não foi atrás de outros hóspedes de sua pousada, não chamou a polícia. Tão intrigante é o detalhe de que Solange Ambrizzi, na manhã seguinte, poucas horas depois, levou uma câmera e fotografou o canavial amassado. Mas não fotografou a criação do fenômeno. Também não chamaram a polícia nem procuraram outras pessoas. Também aguardaram até amanhecer.


[Fotografia de Solange Ambrizzi]

Há ainda outros detalhes curiosos. Quase todas as grandes áreas de canavial afetado desembocam para trilhas de terra, em uma abertura com a largura quase exata para a passagem de uma pessoa ou animal. Jorge Nery atenta para o fato de que as áreas são cercadas, impedindo a entrada de animais. Mas isso não impediria a entrada de pessoas.


[Fotografia de Solange Ambrizzi]

As fotos tomadas por Solange Ambrizzi logo após o evento também chamam a atenção, porque não parecem mostrar uma regularidade e perfeição tão exata. Nery confessa que infelizmente, ainda não foi possível capturar nenhuma imagem que mostre satisfatoriamente a regularidade das formações. Todas as fotos tomadas até agora mostram formações um tanto… disformes.

Os caules dobrados foram anunciados como a prova cabal de alguma anomalia, mas como já notamos, o próprio Nery confirma que apenas alguns caules ficaram dobrados — a maioria dobrou-se pela base. E a imagem abaixo não deve ser nada misteriosa: é um canavial afetado pelo furacão Wilma. Note alguns caules dobrados, em meio a muitos dobrados pela base.

E apesar de Nery relatar seu insucesso em dobrar a cana, “à mão”, a tarefa não é absolutamente impossível. Esta outra imagem mostra um canavial deitado de forma nada “misteriosa” na Índia.

A (ir)regularidade, o “penteado”, parece tão bom quanto em Riolândia ou outras cidades.

UMA BOA IDÉIA
Os elementos psicossociais de todos estes eventos são relevantes demais para serem ignorados – do filme Sinais à cobertura maciça da imprensa alimentando a intensificação de “fenômenos” que então se espalharam regionalmente. Que os primeiros “sinais” tenham surgido ao redor de uma pousada, que permaneceu intacta; que desemboquem em trilhas de terra, e que novos “casos” tenham surgido apenas tempos depois do assunto ser explorado intensamente pela mídia; tudo sugere um fenômeno cultural, social. Um fenômeno humano.

Afirmar tal hipótese como certeza, contudo, seria dizer também “porque sim”. Não há provas de que Maurício Silva amassou o canavial ao lado de sua pousada. Ainda que o tivesse feito, certamente não é o responsável pelas muitas outras áreas afetadas pela região, e por centenas de quilômetros. A ação natural pode sim responder por parte, ou mesmo pela maioria dos outros casos. A chuva, mesmo fraca, também pode facilitar que se deite a cana, amolecendo o solo e seu caule. Entre todas as “luzinhas no céu” que andam sendo vistas, temos ainda uma série de outros fenômenos provavelmente independentes, cada um clamando por investigação. E uma solução. Jorge Nery promete novos relatórios, com mais evidências sobre a avalanche de casos. Aguardemos, com interesse.

Riolândia não é um fato, ou mesmo um factóide. Em pouco mais de um mês, transformou-se no estopim de uma série de fenômenos, todos agrupados sob nossas expectativas. São os “Riolândia Facts”.

Você sabia? Não são os ETs que vêm a Riolândia. É Riolândia que cria os ETs, na mente de milhões de brasileiros.

[Com agradecimentos a Jorge Nery pela colaboração e a Eustáquio Patounas pelo auxílio]

17 comentários sobre “Riolândia facts

  1. Ridiculo , explicou , explicou e não explicou nada , fica tentando achar causas naturais , ai não acha e tenta colocar todas as pessoas que foram entrevistadas na cidade como mentirosas . Pra um cético é muito estranho essa sua visão de teoria de conspiração de que várias pessoas estariam confabulando pra trazer midia pra sua cidade , com o grande risco de serem chamadas de retardadas por acreditarem nisso . Não tem argumento nem escreve .

  2. contra fatos não há argumentos. entre o seu trabalho e o dos ufólogos eu avalio que o trabalho deles é bem mais consistente. fico com a tese ufológica.

  3. bom acredito nunca acreditei mas depois que comecei a ver e a pesquisar sobre circulos ingleses ovnis ets etc…
    passei a acreditar nao acho que um ser humano ia ser capaz de fazre tal coisa tao imensa…
    pra quem quer uma prova assista o filme sinais e pesquise sobre ele voce vai constartar que aqueles circulos do filme sao verdadeiros porque o ser humano nao tem tal q.i pra fazer uma coisa tao perfeita. cara juro por Deus vi um na sexta…

  4. eu acredito sim na esistensia dos alienigena e tambem âjo que elis estam estudondo nosso planeta para que ?

    isso nos vamos descobri logologo
    porque elis nao vai vim em nosso planeta otoua
    mais eu tambem acredito que logologo elis teram que aparecer para disse o que elis querem no nosso planeta si nao bastasi tudo oesta ocomtecendo no planeta.
    quando sera a invacão ?
    oqur elis querem ?
    sãou do bem ?
    oque sera da humanidadi ?
    devemos comfia nelis ?
    quando gegarem oque faremos ?
    quero as respostas

  5. eu acho que pode existir vida em marte e tambem ET!!!!!!hoje dia 18/09/2008 uma luz laranja no ceu,achei ate que era uma estrela cadente.era muito brilhante ai que eu percebi que podia ser uma nave espacial!!!!!

  6. td dia em cima de casa eu escuto um barulho pareçe ke e uma nave ele anda bem de vagare. ele apareçe la pras 4.00 5.00 da manha despois ela vai embora
    eu morru na riolandia onde o et posso e eu morru perto do matagal e isso ai

  7. Eu morei em Riolândia por 9 anos… e uma vez eu avistei um ufo no meio do pasto, ali nas proximidades rurais da cidade… Não tenho como provar… só to contando pra reforçar a provável visita ali de algo ou alguém… :)

  8. nasci na riola nunca vi nada anormal. pesquei nos rios, nos corregos andei muito a noite a pe e de cavalo. não acredito em ete e muito menos em fantasma.

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