Pirassununga and Araraquara Facts


Em afinação com os Riolândia Facts, o jornal “A Cidade” de Ribeirão Preto informa: “Agronômo explica causa do fenômeno“:

“Areas tombadas em meio a canaviais têm explicações científicas e são comuns, até mesmo corriqueiras. A avaliação é do engenheiro agrônomo Luís Fernando Zorzenon, da Secretaria de Estado da Agricultura. ‘É um fato corriqueiro nos canaviais’, comenta. Segundo ele, entre os profissionais ligados a agricultura, em especial o pessoal que lida com a cana-de-açúcar, as notícias relacionando óvnis e canaviais tombados têm provocado boas risadas. ‘Eu mesmo já ri bastante’, revela. ‘São muitas as possíveis causas para áreas de canaviais tombarem de um momento para outro’, diz o agrônomo”.

Mas se tal fenômeno é tão comum, deve ser possível encontrar ao menos alguns canaviais semelhantes afetados não-misteriosamente em outras regiões de São Paulo, pois o estado é coberto deles. Foi o que levou Marcelo Domingues a campo… via internet, “armado com o fabuloso Google Maps e, em homenagem a caninha 51, me posicionei acima de Pirassununga, uma cidade comprovadamente cercada de canaviais”, ele conta.

E mostra o que descobriu, “depois de um minuto de pesquisa” (clique para conferir as imagens originais):




Vale lembrar que as imagens usadas no Google Maps sempre costumam ter meses ou mesmo anos de idade. As imagens de Pirassununga certamente são anteriores ao “evento zero” ao fim de janeiro deste ano em Riolândia, e comprovam que canaviais tombados só começaram a ser vistos como misteriosos, e associados a OVNIs, depois que o filme Sinais foi ao ar e o caso às margens do Rio Grande, na cidadezinha de Riolândia, foi explorado pela mídia.

Esse tipo de pesquisa básica, contudo, pode ser rejeitada por aqueles que atribuem um valor místico à visitação do local dos eventos. Se for esse o caso, contudo, temos também os aportes do pesquisador Rodolpho Gauthier, que visitou uma área atingida em Araraquara. Continue lendo para seus comentários rápidos.

“Estive na chácara de Araraquara onde apareceu uma clareira na plantação de cana. Conversei com três vizinhos pessoalmente. Também liguei para algumas usinas de cana da região.

Quero deixar claro que o fato de eu ter ido à chácara seis dias após o ocorrido, fez com que eu chegasse a um local totalmente modificado e “contaminado”. É como se um perito policial tivesse chegado ao local de um crime quase uma semana depois. Nessas condições, é impossível fazer alguma avaliação realmente científica. É impossível dizer com certeza, por exemplo, se a região ao redor da clareira foi ou não afetada. Se a cana apresentava algum aspecto estranho ou não.

O que colhi foram apenas depoimentos, que, na minha opinião, acrescentam pouco em termos científicos. Pelo que averiguei, não houve nesse caso intenção de obter lucro. O arrendatário da chácara tentou inclusive impedir a entrada da imprensa na propriedade. Não foi cobrada entrada, nem há pousadas ali perto. A pessoa que mais apareceu na imprensa, o caseiro Carlos Bezerra, não foi a que que chamou os meios de comunicação ao local, o que enfraquece a hipótese de auto-promoção.

Na minha opinião, o sr. Amélio, arrendatário da chácara, é um elemento-chave do caso. Ele defende que a clareira foi aberta por ventos. Tabalhou em uma usina de cana-de-açúcar da região por 16 anos e disse que viu isso acontecer muitas vezes. Segundo li, o sr. Amélio disse na TV que a cana que caiu é mais recente do que a cana que ficou em pé.

Não houve tempo de fazer um teste dobrando a cana com as mãos ou instrumentos. A respeito desse teste, meu amigo Fernando de Almeida Caldas, fez uma ótima observação: o fato dos pesquisadores não conseguirem reproduzir as clareiras não significa que alguém, um profundo conhecedor de uma plantação de cana-de-açúcar, não possa fazê-lo com os instrumentos adequados. Ou seja, se alguns não conseguem fazer, isso não significa que ninguém conseguirá fazê-lo.

Outro caso: um amigo meu, Eduardo Silva, me relatou que no domingo, 17/2/2008, ele e sua mãe estavam na estrada entre Boa Esperança do Sul e Araraquara, quando viram grandes porções de cana tombadas. Ele fez questão de enfatizar que não havia apenas plantas das beiradas tombadas, mas também podiam ser vistas algumas clareiras no interior dos campos. Mesmo sem parar o carro, ele estipulou que a cana tenha sido tombada até cerca de 30 graus e que alcançava o joelho de uma pessoa. Eduardo prefere atribuir o ocorrido às fortes chuvas que caíram na cidade nos dias anteriores. Para mim, parece curioso que esses grandes campos tombados não tenham virado notícia. Suponho que eles não tenham chamado atenção porque os plantadores de cana estão acostumados com o fenômeno, enquanto o pessoal da chácara de Araraquara que virou notícia, não. Na vizinhança da chácara, ninguém planta cana-de-açúcar.

Para tentar confirmar minha idéia, liguei para algumas usinas de cana-de-açúcar da região. Em duas usinas (Santa Cruz e Maringá), pessoas responsáveis pela plantação me disseram que é MUITO comum que alguns pontos do canavial apareçam bastante tombados após fortes chuvas. Eles especularam que o fato de nem todo canavial estar tombado uniformemente pode se dever ao diferente crescimento de cada planta e às diferentes variedades do vegetal.

Ambas as pessoas com quem conversei me disseram, porém, que nunca viram uma clareira com cana tombada sem que não houvesse outras marcas do vendaval na região.

O responsável pela usina Maringá chegou a contar um caso curioso. Segundo ele, na semana passada, alguns técnicos da usina foram chamados por um agricultor vizinho para analisar seu canavial, que estaria deitado de maneira estranha. Os técnicos da usina foram ao local e, com sua experiência, atribuiram o fenômeno ao vento forte. Creio que essa história mostra como até mesmo pessoas que têm certa familiaridade com o tombamento da cana pelo vento podem vislumbrar outras possibilidades após serem sugestionadas pela imprensa.

Aliás, algo que me surpreendeu no caso Araraquara foi o fato da imprensa ter superestimado as caracteristícas da clareira. Ela era menor do que uma quadra poliesportiva. Quando cheguei ao local, fiquei estupefato em pensar que aquilo havia chegado ao Jornal Nacional. Além disso, as palavras do sr. Amélio foram invertidas em alguns veículos de comunicação.

A respeito da possibilidade de seres humanos terem feito a clareira, há alguns pontos a serem considerados. Dois vizinhos confirmaram que há uma chácara naquela rua que costuma ser alugada para festas. Além disso, já foram encontradas pessoas acampando naquela região em outras ocasiões. Assim, não se pode descartar totalmente a possibilidade de que seres humanos tenham feito as marcas.

Eu, pessoalmente, acho isso um pouco improvável. Tendo a concordar com o sr. Amélio, arrendatário da chácara, que atribui o caso a fenômenos naturais. Também não encontrei nenhum indício que me fizesse pensar na possibilidade de um OVNI ter visitado aquela região. Se tivesse encontrado, não teria vergonha de dizer.

Gostaria de enfatizar que minhas opiniões aqui partem do que colhi nos depoimentos e não de uma análise científica e laboratorial da plantação e da região ao redor feita imediatamente após o ocorrido. Esse seria o ideal para se chegar a uma conclusão segura”.

Diversas clareiras, algumas talvez artificiais, muitas naturais e comuns, passaram a fazer parte dos Riolândia Facts. Elas nunca foram vistas como misteriosas outrora, devido ao fenômeno do Gorila Invisível — fenômenos comuns passam subitamente a serem notados depois que a mídia passa a chamar atenção a eles. Depois de Riolândia, canaviais nunca mais serão os mesmos. Pelo menos, para quem os vê agora com outros olhos.

[Com agradecimentos a Marcelo Domingues e a Rodolpho Gauthier]

11 comentários sobre “Pirassununga and Araraquara Facts

  1. Sinceramente, já que o ceticismo está supostamente ligado ao pensamento e método científico, o site peca em fazer apurações pseudo científicas, sem método validável ou falseável, baseado apenas em conjecturas. Enfim, talvez eu esteja enganado com o papel do site.
    Abraços

  2. Excelente matéria, o fato de o site não se utilizar de um suposto “método científico” não invalida a apuração. No caso das clareiras, se demonstrou claramente que eles são mais comuns do que se imagina, além do que existem explicações mais simples. Não é preciso de nenhuma metodologia científica para se desvendar certos fatos veiculados pela mídia, basta um pouco de curiosidade e investigação e perceber que existem outras explicações para o fato ocorrido.

  3. O mais incrível, Fred, é o fato destes indivíduos considerarem mais “validáveis” e menos “falseáveis” os depoimentos de pessoas claramente influenciadas pela mídia ou por outros elementos psicossociais. Daí, vêm com essa história de “necessidade de apuração com base científica”. Está mais do que provado que estes sinais em plantações são criados por causas naturais ou por pessoas “desocupadas”. É possível até que achem que foi a NASA…
    Abraços,
    Rafael.

  4. Um site como o ceticismo aberto deveria utilizar de metodo cientifico para validar um caso como esse, ta parecendo até aquela reportagem ridicula exibida pelo fantastico, onde não ha nenhum embasamento cientifico.

    Não basta apenas tirar uma foto ou outra e dizer que é tudo fraude, é preciso fazer uma analise criteriosa do assunto para saber como ocorreu, quais foram as causas, o interessante nisso é que em casos assim você não vê analises cientificas serias de grupos ceticos, por que já sabem que se começarem a atestar os fatos entraram em contradição e não conseguiram explicar o misterio. Esse é o tipico comportamento de pessoas que professam seguir um ideal, sejam eles religiosos ou cientificos, fechando assim sua mente para as possibilidades e se tornando ignorantes.

  5. Axo que fui mal interpretado. Me considero cético e por tal motivo sou cético tambem com o ceticismo. O que se vê nesta página, são conclusões tiradas em sua maioria por simples conjecturas.A diferença, ao meu ver, é que aqui as histórias são vistas por óticas mais comuns, mas corriqueiras do dia a dia. Assim têm-se uma conclusão tão válida quanto a de um ufologo que conta histórias de abdução. Em nenhum momento eu tomei partido por qualquer versão. Só acredito que o paradigma Cético é mais voltado para a investigação seguindo rigorosos métodos científicos do que para conjecturas. Entretanto respeito o trabalho do Editor deste site.

    Abraços

  6. E antes que eu me esqueça, Fred. Um suposto método científico não é científico. Algo que se é suposto carece de validade epistemologica. Estou falando de um metódo científico real, com estudos e experimentos. :)

    Abraços a todos

  7. Bom, então temos um problema aí.

    O agrônomo Carlos Alberto de Luca, que esteve no local, disse justamente o contrário.

    Além disso, acho que não se pode ser cético somente quanto à palavra de ufólogos, mas também quanto à palavra de técnicos, cientistas, etc, que afirmam coisas sem nem mesmo ter estado no local.

  8. Um dia o filho de um amigo meu, de 10 anos, se utilizando de uma cena mostrada no filme “Sinais” – que muitos ainda acreditam ser verdadeiramente filmada por um cinegrafista amador presente a uma festa de aniversário em Passo Fundo-RS -e é claro, utilizando-se também de muita criatividade, comum nestes casos, tentou assustar os coleguinhas inventando histórias sobre “et’s pegando gente (sic)” e “discos voadores voando em cima da escola (sic)”.
    Seu pai, ao descobrir, disse apenas “Deixa de contar mentira, menino!”. E, é claro, mostrou aos coleguinhas dele a verdadeira origem da cena – de forma que crianças desta faixa de idade entendessem, ao menos.
    Este meu amigo não precisou de “rigorosos métodos com base científica” como exigiriam alguns, nem precisou ir até Passo Fundo, como exigiriam outros: precisou apenas de uma rápida investigação, usando seu computador, para levantamento das informações mais precisas sobre o fato.
    Simples assim, como solicitam “casos” deste tipo.
    Mas a complexidade que se cria em volta destas notícias não me surpreende. O que me surpreende é o fato de ufólogos e simpatizantes – já calejados por constrangimentos causados pelo esclarecimentos de fatos bem mais complexos que este – tentarem se utilizar destes “casos” como “bandeira”, simplesmente porque não houve a necessidade de tanto rigor científico para comprovar o óbvio.
    Abraços,
    Rafael.

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