Ufologia Analfabeta?

alfabetod

“Eis, portanto, a conclusão: um amontoado de interrogações. Que só fariam perderem-se inúmeras folhas de papel. Desgaste e gasto desnecessários. Nada se pode concluir, como nunca se pôde, de qualquer caso ufológico. Nem que seja realmente ufológico”.
““ Ubirajara Franco Rodrigues

São declarações bombásticas, talvez estarrecedoras aos entusiastas da ufologia, vindas como vieram de um dos mais destacados ufólogos no país e que se tornou figura maior como descobridor do conhecido “caso Varginha” já há mais de dez anos.

E são declarações contidas ao final de seu livro a respeito do caso, publicado no ano de 2001 pela “Biblioteca UFO”, editado por Ademar Gevaerd, editor da revista de mesmo nome. Há quase dez anos. No sítio online da publicação, ele ainda é promovido como “o livro ufológico mais importante dos últimos tempos“.

O leitor e leitora casuais talvez não entendam bem por que estou ressaltando estas informações, mas caso sejam entusiastas da ufologia, espero que já tenham compreendido por que são relevantes.

Nas edições de maio e junho deste ano de 2009 a mesma revista UFO publicou uma entrevista em duas partes com o mesmo Ubirajara Rodrigues, apresentada como “uma grande surpresa para a ufologia brasileira“ já no editorial, escrito pelo mesmo Gevaerd. “Virando a mesa da Ufologia Brasileira” é intitulada a entrevista, que é introduzida por nada menos que três páginas em que Gevaerd busca enquadrar em seus termos o que o próprio Rodrigues expressará em sua entrevista.

Em resposta à “surpreendente entrevista”, que “causou perplexidade nos leitores e em toda a Comunidade Ufológica Brasileira“, houve reações “em geral, bastante críticas à nova postura do entrevistado” (grifos introduzidos). Como o editorial da segunda parte anuncia, “serão publicadas em nossas próximas edições”.

Pois bem. Apontando o óbvio, tanto interessados casuais na ufologia quanto entusiastas devem estar se questionando como as posições de Rodrigues poderiam ser uma “grande surpresa” se estavam expressas claramente há quase dez anos, em livro “mais importante dos últimos tempos”, publicado pela mesma empresa que edita a revista, editado exatamente pelo mesmo editor que é o entrevistador.

Não posso responder a tal sem incorrer em caminhos muito delicados, mas posso indicar pelo menos duas explicações possíveis de pronto. A primeira é a de que “toda a Comunidade Ufológica Brasileira” é simplesmente analfabeta, incapaz de ler um texto, que se dirá um livro, e assimilar seu conteúdo exceto com muita dificuldade.

Uma segunda explicação alternativa é a de que a grande “surpresa”, a total “perplexidade”, sejam um embuste, uma falsa reação a uma postura que Rodrigues manifesta nada secretamente já há quase dez anos mas que só neste momento calhou de ser apresentada como uma “virada de mesa”. É, todavia, apenas uma explicação possível.

Caberiam muitos comentários sobre o mais novo imbróglio a agitar a “comunidade ufológica brasileira”, contudo desde que o auto-intitulado representante da mesma fugiu do compromisso público assumido de provar o que vende, buscamos não dar muita atenção a tais estripulias, exceto em casos de extrema irresponsabilidade.

Vale mencionar no entanto, que este que escreve aqui troca cordialmente idéias e informações com vários ufólogos, incluindo Ubirajara Rodrigues, há um bom tempo. Não se pode contestar o que não se conhece. Posso dizer que inúmeros ufólogos, dos mais renomados pelos entusiastas, não só tinham plena consciência das posturas de Rodrigues que sim mudaram, anos atrás, como não poucos partilham dessas novas idéias.

desc_mito E como demonstração de tal, Rodrigues, em co-autoria com Carlos Reis e a participação de inúmeros outros ufólogos, lança no final deste mês o livro “A Desconstrução de um Mito“ (2009, LivroPronto), uma crítica contundente aos rumos atuais da ufologia nacional e uma tentativa de renovar o cenário, introduzindo finalmente ao país idéias e abordagens mais sofisticadas exploradas no exterior há décadas.

Caso o leitor tenha se perguntado parágrafos acima por que poderia ter vindo a calhar justo neste momento apresentar as conhecidas posições de Rodrigues como grandes surpresas, bem, talvez eu não precise fazer nenhuma sugestão a respeito.

Considerando a possibilidade de que “toda a Comunidade Ufológica Brasileira” seja analfabeta, a obra pode não impactá-la, mas nós em CeticismoAberto sempre apostamos na sua inteligência. Nosso sítio, cético e repleto de letras, é o mais visitado sobre ufologia e paranormal em bom português, com o dobro e mesmo o triplo de visitação do sítio online da revista de circulação nacional que mencionamos nesta nota.

Talvez seja puro otimismo, mas apostamos que no fim deste mês, ainda que simbolicamente, uma nova ufologia, encabeçada por ufólogos veteranos mas de idéias renovadas ““ já há vários anos ““ surja para que o debate se enriqueça e não tenhamos que falar de falsos profetas e charlatães sempre que discutimos o assunto no Brasil.

Se há uma ufologia analfabeta, há outra que não o é.

9 comentários sobre “Ufologia Analfabeta?

  1. É impressionante constatar que as opiniões mudam ao sabor do vento!Devemos doravante desconsiderar todas as declarações do senhor Rodrigues durante os anos em que pesquisou casos ufológicos, como o de Baependi.

    Só falta agora um cético se transformar em fervoroso defensor da existência dos UFOs.

    1. Só se deve desconsiderar o que foi dito sem provas, ou o que for atualizado e contestado por novas evidências. Já era assim, sempre foi assim, deve continuar assim, quer Rodrigues o reconhecesse ou não. E isso se aplica a tudo que ele, eu, ou qualquer pessoa afirme.

      Estranho seria se só valesse o que alguém alegou, e mais, o que alegou inicialmente, não sendo permitido que jamais mudasse de posicionamento.

      Isso talvez fosse mais simples, mais fácil de digerir, centrado em pessoas facilmente rotuláveis como “ufólogo” ou “cético”, “crente” ou “descrente”.

      Mas não estaria centrado, muito menos estaria desvendando o fenômeno OVNI.

  2. amigo do primeiro post, vc está totalmente errado, em numero maior estão os ceticos que viram ufologos…

    exemplo: uyrangê holanda, mesmo o proprio tirando foto das luzes, ele continuou achando que eram apenas luzes, mas depois que um passou por cima dele e deu pra ver q não era apenas luzes, ai sim, largou ceticismo e dos mais brutos…

  3. Não acho que seja analfabetismo, e sim algum transtorno dissociativo ou cognitivo, ou até mesmo negação.

    Elas estão presas em suas crenças e nada abala, elas querem acreditar que todo OVNI é uma espaçonave tripulada, e quando um cético menciona OVNI tem aquela histeria das razões de um cético acreditar em OVNI.

    Talvez seja um problema de semântica.

    Ora, um objeto não identificado é o que qualquer cético classifica quando não se tem certeza do que é. Quem associa a disco voador são os que querem acreditar que é disco voador e não outra coisa qualquer. Então é esse desejo que seja uma espaçonave, e nada destrói um desejo. Sempre haverão fugas da realidade para contorna-la e chegar ao desejo. Conspirações por exemplo.

    Obrigado pela dica, vou ler assim que digitalizarem em ebook.

  4. Olá colegas que visitam esse importante site de ceticismo! Peço lincença para expressar mais uma vez minha opinião dentro do tema aqui comentado. Não posso deixar de me indignar perante a entrevista divulgada pela revista UFO em duas partes com o ufólogo Ubirajara Rodrigues, em muitos aspectos. Querer misturar filosofia com ufologia não torna a busca pela Verdade mais cristalina. É o que parece que ocorrerá em muitas partes do livro recentemente publicado por Ubirajara. O mesmo realmente virou a casaca ao se distanciar dos fatos objetivamente comprovados ao longo dos anos e colocou em dúvida qualquer um deles que possa demonstrar a hipótese extraterrestre! Isso realmente é algo, para mim, inadmissível. De qualquer forma, sua entrevista e seu livro podem servir de alerta a tantos que enxergam naves extraterrestres em nuvens e estrelas no firmamento.

  5. É isso aí! As coisas só mudam e evoluem quando se buscam novos caminhos. Acho que entendo Ubirajara, ele deve está cansado com os rumos da ufologia atualmente, e ele deve saber muito bem que da forma como está(a ufologia) não levará a nada.

    Acho muito importante essa abordagem crítica do tema, e acho que com isso esse livro(e a nova atitude) tende a ajudar à ufologia e os ufólogos que têm uma preocupação com os fatos e não com os boatos e exageros. Certamente que deve ter muitos ufólogos que não entendem essa nova postura de Ubirajara, pois é realmente uma ruptura(que pra mim é num sentido positivo). Uma ruptura que não anula a ufologia em si, mas apenas dá a ela a chance de evoluir e ser respeitada.

    Muito bom isso, precisamos de reviravoltas como esta para a gente acordar pra realidade do tema.

    anjoveloz8

  6. Não achei tão bombástico assim.
    E o texto está escrito de um modo que para quem visita a página pela primeira vez, não entende patavinas, como eu, pra variar.
    É pouco esclarecedor.
    Parece mais um acerto de contas entre ufólogos e céticos.

    Aconteceu com alguém famoso e virou notícia e motivo para sarcasmo. É comum acontecer com outros.

    O envolvimento com a ufologia pode, invariavelmente, acarretar lentas e, ao mesmo tempo, drásticas mudanças de paradigmas, padrões e referenciais, e, não obstante, a necessidade de nos apropriarmos de conceitos e elementos da metafísica. Isto parece-me ser uma inclinação natural com as pessoas que se sentem atraídas (entusiasmadas) por este objeto de estudo – a ufologia.

    Mas afinal, porque isto aconteceria?
    Exatamente, não sei. Talvez pelas nossas limitações tecnológicas. Com suas aparições fortuitas e dissimuladoras, os UFOs – ou sejam lá o que for -, tripulados ou não (sondas?), parecem ser dotados de uma tecnologia infinitamente superior a nossa.

    Escravos que somos do – necessário e imperativo – modelo científico indutivo e das fragmentadas e fúteis relações de produção e consumo, o fenômeno UFO entra(ria), a meu ver, com um elemento dissociador e perturbador na lógica de mercado – e no seu bom e fundamental funcionamento – que tem a religião como elemento alienante e organizador do modo de trabalho cotidiano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *