Completamente Impredispostos

O Fundo Cultural dos Relatos de Abdução

por Martin Kottmeyer, original em Magonia 
 
A cultura é uma mistura de repetição e novidade, convenção e criatividade, sinal e ruído. É sempre nova e sempre velha à medida que a humanidade revive sonhos e pesadelos antigos ou esquece e forja novos. Parte do deleite nessa história é o reconhecimento de que por mais inédito que um determinado evento pareça, geralmente podem ser discernidos rastros do passado.
Se o fenômeno OVNI é um produto de nossa cultura, seria razoável esperar que antecedentes culturais pudessem ser reconhecidos nas características principais apresentadas. Extraterrestres, ao contrário, deveriam ser independentes da nossa cultura e se eles chegassem aqui recentemente suas características deveriam representar uma descontinuidade com o passado. Estudiosos do fenômeno da abdução alienígena recentemente emitiram algumas alegações provocantes de que tais descontinuidades existem. Implicitamente, são alegações sobre a fraqueza do paradigma sócio-psicológico [a hipótese psicossocial, PSH] em relação à ETH [hipótese extraterrestre]. 
David Jacobs argumenta que os ícones do fenômeno OVNI, os discos voadores, surgiram ex nihilo em 1947. Budd Hopkins declara que os seres complexos, controladores e fisicamente delicados dos relatos de abdução não mantêm nenhuma semelhança com "deuses e demônios da ficção científica tradicional". Thomas E. Bullard faz a alegação bem mais modesta de que o marco do mistério da abdução, a viagem suspensa (interrupted journey) de Betty e Barney Hill não teve nenhuma fonte cultural do qual pudesse ter derivado. Os Hill estavam, citando Bullard, "completamente impredispostos" já que eles foram os primeiros. Estes são desafios fortes aos proponentes da origem cultural do fenômeno OVNI. Eles têm um "Prove que estou errado, eu o desafio" estampado neles. Podemos demonstrar que a cultura predispôs as pessoas a ter estas experiências? 
A reivindicação mais corajosa é a do historiador de OVNIs David Jacobs. Jacobs declara que "não havia nenhum precedente para a aparência ou configuração dos objetos em 1947" em filmes de ficção científica populares, ficção científica popular ou cultura popular em geral. Eles não se assemelhavam aos foguetes espaciais fantásticos ou aparelhos terráqueos de viagem ao espaço na literatura de ficção científica. [1] 
Há um senso trivial de que isto está simplesmente errado. Astronaves com forma de disco têm vários precedentes na cultura popular. Elas aparecem em Buck Rogers desde 1930.[2] Elas aparecem na história em quadrinhos Flash Gordon em 1934.[3] O ilustrador de ficção científica Frank R. Paul estava desenhando naves com forma de disco já em 1931 e o fez repetidamente. [4] 
Outros ilustradores de ficção científica também utilizaram a forma de disco muito antes de 1947.[5] Mas estas são coincidências inevitáveis em um corpo grande de criatividade artística. A forma de disco não era a forma dominante de astronaves na cultura; era o foguete. Neste senso mais amplo Jacobs está correto em raciocinar que seria esperada uma avalanche de foguetes fantasma sobre a América se as imagens de ficção científica fossem o fator determinante do que as pessoas deveriam estar imaginando. Isso não ocorreu. 
A fonte cultural dos OVNIs jaz em um erro jornalístico. O relato de Kenneth Arnold de objetos supersônicos misteriosos voando perto do Monte Rainier foi um frisson que tornou-se notícia de primeira página por todo os EUA. A velocidade dos objetos estava muito além dos aviões da época e ninguém divulgou o vôo de antemão. Era um excitante mistério. 
A forma dos objetos que Arnold viu é difícil de descrever em uma palavra ou duas. Não eram como um avião ou foguete, nem mesmo como um disco. Quando o jornalista Bill Bequette escreveu a história para os serviços de notícias ele recordou Arnold descrevendo o movimento dos objetos similares a um disco se você o jogar pela água. Confundindo a intenção metafórica da descrição, Bequette nomeou os objetos "discos voadores", Arnold disse que o termo surgiu de "um grande desentendido". O público, entretanto, não soube disso. Nenhum desenho acompanhou a história. As pessoas começaram a procurar por discos voadores e isso é exatamente o que elas acharam. Elas relataram objetos circulares e achatados parecendo discos voadores, eles deveriam parecer com o que eles soavam. Igualmente importante: ninguém relatou objetos como o desenho no relatório de Arnold para a força aérea. [6] As implicações deste erro jornalístico são profundas ao extremo. Não apenas aponta para uma total origem cultural do fenômeno dos discos voadores, como traz à tona um paradoxo de primeira-ordem em qualquer tentativa de interpretar o fenômeno em termos extraterrestres: Por que extraterrestres redesenhariam suas naves de acordo com o erro de Bequette? 
Este paradoxo é uma notícia especialmente ruim para os relatos de abdução. Pelas contas de Bullard 82% das descrições de naves se ajustam ao estereótipo do disco voador. [7] Isto é bem superior à proporção de um terço de discos presentes em uma população mais geral de relatos de OVNI. [8] Se imaginação e expectativas culturais fazem um papel maior em abduções que em más interpretações mais ligadas à realidade de estímulos mundanos, então este fato faz sentido. O mito do disco voador nos predispõe perfeitamente a incluir discos voadores em nossas fantasias e pesadelos sobre extraterrestres. 
Isto toma conta das naves, mas e quanto às entidades? Os seres delicados de Budd que são forçados por necessidades de sobrevivência a procurar e abduzir terráqueos. De acordo com Hopkins, isto é bastante distinto dos aliens semi-deuses de Contatos Imediatos do Terceiro Grau, o alien bondoso, espiritual de O Dia em que a Terra Parou, ou os aliens de Guerra dos Mundos que "inconscientemente nos devoram e conquistam". Nada em seus abduzidos "sugere de qualquer forma os deuses e demônios da ficção científica tradicional", ele quer que nós saibamos. [9] 
As descrições de Hopkins deixam algo a desejar. Os aliens semi-deuses de Contatos Imediatos destroem a casa do pequeno menino Barry e aterrorizam sua mãe enquanto o abduzem. Eles perturbam a vida e a mente de Neary. O gentil e espiritual Klaatu na verdade é acompanhado de um robô ameaçador onipotente. Sua oferta de deixar uma força policial é eminentemente pragmática. A comparação é frívola em todo caso já que qualquer alien que se encaixe nessas descrições acaba entrando nos arquivos de contatados. Hopkins professa que é esclarecedor que seus abduzidos não sejam devorados como em Guerra dos Mundos, mas como um mito devoraria uma pessoa? 
Que Hopkins é ignorante de ficção científica deve ser aparente a qualquer fã pelo fato de que ele usou a definição desmerecedora ‘sci-fi’ – um sinal claro de um estranho ao gênero. [10] Guerra dos Mundos é uma das reconhecidas obras-primas, contudo é muito evidente que Hopkins nunca a leu ou ele estaria achando que Wells era um abduzido inconsciente. Longe de nos devorar "inconscientemente", os aliens de Wells não devoravam pessoas, mas pegavam a carne e sangue fresco de outras criaturas e injetavam em seus próprios corpos. Seus aliens não tinham "nenhum mecanismo muscular extenso". Os invasores também trouxeram junto com eles para fins de provisões, bípedes com esqueletos franzinos e musculatura fraca. [11] 
Há múltiplas semelhanças a outras narrativas de abdução – um imenso par de o
lhos negros que possuem uma intensidade extraordinária, uma boca sem lábios, pele de cor acinzentada, pele brilhante como couro molhado, telepatia. Eles também são "absolutamente sem sexo". Some a isto que a nave alien era circular, fazia um som de zumbido peculiar e quando eles voavam o céu ficava vivo com suas luzes. Na realidade os aliens de Wells se assemelham mais aos aliens abdutores de Hopkins que a maioria dos relatos de abdução. 
Hopkins continua errando quando pensa que os aliens de Wells são meros "monstros satânicos". [12] A motivação deles é a sobrevivência. Seu mundo está morrendo e a Terra é sua única escapatória. Ironicamente, apenas algumas páginas antes que Hopkins desqualifique Guerra dos Mundos ele cita as impressões de um abduzido de que os aliens são de uma sociedade de milhões de anos que está morrendo. Eles precisam sobreviver desesperadamente. Isto coloca os aliens perfeitamente na tradição principal de filmes de ficção científica [Nota do tradutor: Herbert George Wells foi o criador do gênero de ficção científica]. 
Mundos agonizantes são comuns em filmes de invasão alienígena. Isto conduz os aliens de "This Island Earth" a pedir emprestado os cientistas da Terra por sua perícia em energia atômica. Motiva os aliens em "The 27th Day" a dar às pessoas da Terra os meios de destruir a vida humana. Motiva os "Killers from Space" a operar um homem, extrair informação de sua mente, e o compelir a se tornar um sabotador espião. Conduz a "Devil Girl from Mars" a abduzir machos saudáveis. Motiva de forma similar os aliens em "I Married a Monster from Outer Space", "The Mysterians", e "Mars Needs Women" a obter fêmeas para fins de procriação. Um astrônomo em "Invasores de Marte" teoriza que as operações secretas realizadas pelos aliens são motivadas pelo fato de que Marte é um mundo agonizante. Os aliens na série popular de TV "Os Invasores" também estavam escapando de um mundo agonizante. [13] 
O fato é que a maioria dos aliens de filmes tem alguma motivação implícita às suas atividades. Uma das poucas exceções que eu pude achar foram os aliens "magros e frágeis" de "Target Earth!" e mesmo eles não parecem particularmente satânicos ou monstruosos. [14] Parece mais sensato inverter completamente a alegação de Hopkins. Ele diz que nada a respeito dos aliens das abduções se assemelham à "sci-fi". Eu pergunto, há qualquer coisa sobre aliens de OVNIs que não se assemelhe à ficção científica? 
Um abduzido no filme de 1954 "Killers From Space" tem uma estranha cicatriz e uma memória perdida do encontro alienígena que causou isto. A impregnação misteriosa de mulheres, inclusive virgens, e o nascimento subseqüente de crianças híbridas inteligentes é o tema do filme de 1960 "Village of the Damned". Implantes no cérebro aparecem no filme de 1953 "Invasores de Marte".[15] 
Dê uma olhada nas criaturas do filme de 1957 "Invasion of The Saucer Men". Os invasores calvos, de cérebro grande, olhos grandes e sem nariz se encaixam no estereótipo de aliens de OVNIs delineado por Bullard a uma extensão incrível. Incita preocupações de que os abduzidos não só são plagiários, mas também têm um péssimo gosto. [16] 
"Earth versus the Flying Saucers" (1956) também precede o folclore OVNI caracterizando uma abdução na qual são retirados pensamentos. Os ‘discoidanos’ seqüestram um general, tornam sua cabeça transparente, e sugam fora o conhecimento para armazená-lo em um Banco de Memória Infinitamente Indexado. Embora a freqüência do tema em narrativas de abdução possa ser atribuída a fatores psicológicos nas personalidades dos abduzidos, não podemos descartar a influência do filme na associação. Daqui a alguns anos nós podemos ter uma epidemia de parasitas implantados, potenciais rasgadores de tórax, devido à influência do filme "Alien" começando tal associação. Presentemente tal relato seria muito suspeito, mas eventualmente algum aspecto médico enigmático poderia ser associado a uma ilusão e o folclore OVNI evoluiria em direções novas. Facilmente pode ser também que isso nunca aconteça devido a fatores sociais. 
Em uma veia mais esotérica até a estrutura narrativa da abdução tem antecessores de ficção científica. Thomas Bullard descobriu uma ordem estrutural consistente a eventos dentro dos relatos de abdução. Há oito tipos de eventos e eles se ordenam preferencialmente desta maneira: (i) captura, (ii) exame, (iii) conferência, (iv) excursão, (v) viagem a outros mundos, (vi) teofania, (vii) retorno, (viii) resultado. 
Nenhuma abdução exibe todos os eventos, mas os eventos evitam aparecer fora desta sucessão. Geralmente os abduzidos não são levados a uma excursão pela nave antes de exame ou conferência e assim sucessivamente. Bullard considera o arranjo ocasionalmente arbitrário de um ponto de vista racional. A fidelidade dos relatos a este arranjo parece, a Bullard, indicar que essas são experiências reais. Ele esperaria que os elementos da história se desorganizassem se eles fossem subjetivos. [17] 
O que então nós devemos pensar da história em quadrinhos de 1930 "Homens Tigre de Marte" na série "Buck Rogers no Século 25"? Ela adere muito bem à estrutura de Bullard. Wilma experimenta: 
(i) captura por uma braçadeira gigantesca que conduz a uma astronave alien esférica, 
(ii) exame enquanto está deitada em uma mesa em um transe eletro-hipnótico, 
(iii) conferência com um subordinado e então com um líder, 
(vi) teofania enquanto contempla a Terra de um ponto de fora do mundo, 
(vii) retorno, 
No resultado há um exemplo do que Bullard chama "networking" quando os aliens abduzem a irmã de Wilma, Sally. 
Também há um final apocalíptico no qual a lua marciana Phobos se choca com Marte. [18] 
Pode-se ter uma idéia de quanto esta narrativa é impressionante observando que apenas uma abdução na literatura OVNI tem um maior número destes elementos na ordem correta. Duas abduções têm o mesmo número de elementos. As outras 163 abduções corretamente ordenadas possuem 5 elementos ou menos. [19] 
Obviamente a presença da estrutura não prova que o quadrinho é objetivamente real, e deve ser reconhecido que uma história em quadrinhos esquecida há muito tempo não é uma influência crível sobre abduções atuais. É mais provável que eles compartilhem um princípio de ordenação intuitivo adquirido subconscientemente de uma exposição ao drama. Uma renomenclatura dos elementos de Bullard deve tornar a lógica mais clara: (i) caráter introduzido, (ii) perigo e conflito, (iii) explicação e entendimento, (iv) boa-vontade e tentativa de impressionar, (v) excitação, (vi) clímax, (vii) encerramento, (viii) seqüência. 
O exame pelos aliens, como o perigo, é a parte ruim da história e arruinaria um final feliz se fosse ordenado por último. Até mesmo em casos não-convencionais o exame nunca é posto perto do fim. Pragmaticamente, colocar a teofania antes do exame poderia instilar confiança no abduzido e facilitar o teste. Dramaturgicamente, porém, tal ordem seria estúpida já que arruinaria a intensidade do perigo e eliminaria a alegria do fim e o senso de conclusão. 
O terror sem rosto provoca um medo mais primordial. Dramaticamente seria pouco inteligente reduzir a estranheza dos aliens antes do perigo através de uma conferência com eles ou um tour pela nave. Também seriam maus modos colocar est
ímulos aversivos depois que um sinal foi transmitido à pessoa – a mensagem e informação na conferência, o tour e a teofania. 
A viagem a outros mundos é uma forma de excitação e pode aparecer em qualquer lugar entre a captura e o clímax. A maioria dos casos não-convencionais de Bullard envolve a viagem a outros mundos fora do lugar que ele julga correto, em outras palavras, a ordem correta de Bullard é o jeito certo de contar uma história. No mínimo, sua avaliação de que a "Objetividade é uma grande vencedora" no campo de estrutura é problemática. [20] 
O evento de captura em "Homens Tigre de Marte" apresenta uma incrível bugiganga do tipo inventor de garagem – uma braçadeira mecânica gigantesca que agarra de acordo com seu papel em Buck Rogers. Quão estranho é, então, notar que tal bugiganga aparece na abdução de Steven Kilburn em "Missing Time". Parece algo ridiculamente não prático para que uma cultura tecnologicamente superior se aborreça, contudo Hopkins inclui o relato sem qualquer indicação de espanto. Poderíamos entender essa braçadeira mecânica em um quadrinho dos anos 30, ou até mesmo em um esboço de roteiro de "Guerra dos Mundos". Pelo menos alguém perceberia que isso devia ser excluído no roteiro final. Mas em uma abdução real? A sugestão de Lawson de que Kilburn estava revivendo um nascimento ajudado por um fórceps faz muito mais sentido. [21] 
Eu poderia me divertir mais demolindo a alegação de Hopkins sobre os aliens, mas ela realmente não merece mais atenção que isto. Hora de tomar conta da última de nossas três alegações históricas. 
Thomas E. Bullard abre seu estudo maciçamente impressivo sobre o mistério das abduções com uma discussão do estado legendário da "viagem suspensa" (interrupted journey) de Betty e Barney Hill. Foi a história de OVNIs mais sensacional de seu tempo; uma pequena história de horror sórdida que ficou gravada no inconsciente de uma geração. O crescimento dos relatos de abdução subseqüentes ao seu aparecimento na cena cultural não é surpresa. O que intriga Bullard é como os Hill adquiriram a idéia. Ele mostra que relatos sobre tripulantes de naves eram itens obscuros conhecidos apenas aos entrosados em 1961. Ele acredita que os Hill não tinham nenhum conhecimento do qual eles poderiam construir um pesadelo deste tipo, assim ele afirma que "as chances são grandes de que os Hill tiveram sua viagem suspensa completamente impredispostos". É um "mistério perseverante" como eles originaram isto e contanto que isso seja ignorado a "explicação de tradição cultural começa aleijada". [22] 
Parte do mistério é solucionado através de uma leitura cuidadosa de "The Interrupted Journey". Está registrado lá que Betty Hill havia lido o livro de Donald Keyhoe "The Flying Saucer Conspiracy" (A Conspiração dos Discos Voadores) pouco antes que ela começasse a ter pesadelos sobre abdução. O livro de Keyhoe cita quase uma dúzia de casos de tripulantes. A maioria deles é rejeitado completamente por Keyhoe. Estes incluem farsas tais como astronautas listrados como zebras, uma entidade com face de elefante, entidades de 4 metros de altura e 6 braços, contos de monstros do espaço e fraudes de contatados. Porém, Keyhoe endossa um relato de Pearl Harbor de um aviador que proclamou aterrorizado "Eu vi ele de verdade"- o piloto do disco. Note que o pronome é ele, não aquilo. Sem dúvida isto teria impressionado Betty de forma similar à experiência de Barney de ver os ocupantes do disco. [23] 
Keyhoe também expressa uma certa aceitação de uma série de histórias de OVNIs da Venezuela que envolve anões peludos. Um destes serve como um razoável ponto de partida para os pesadelos de Betty Hill. Dois camponeses primeiro avistam uma luz brilhante como um carro perto da estrada. Pairando alguns pés do chão está uma máquina redonda com um brilho luminoso que vem do interior. "Quatro pequenos homens" saem e tentam arrastar Jesus Gomez para o objeto. Há uma luta e a evidência dessa luta dá uma credibilidade especial ao caso aos olhos de Keyhoe. Keyhoe então cita a experiência de Jesus Paz que foi achado inconsciente depois de ser levado por um anão peludo. Ele segue isto com o avistamento de Jose Parra de seis pequenas criaturas peludas perto de um disco e o penetrando com uma luz luminosa. [24] 
No pesadelo de Betty Hill ela tem que lutar para manter-se consciente e se acha cercada por quatro homens pequenos. Barney está inconsciente e está sendo arrastado por outro grupo de homens. Eles faziam de oito a onze de pé no meio da estrada. Eles são levados de um carro a uma nave brilhante em forma de disco. O comportamento dos aliens é muito profissional e eles estão vestidos em um estilo levemente militar. Eles não são amedrontadores per se. Isto está bem de acordo com as especulações de Keyhoe de que os aliens estavam fazendo um estudo científico do planeta motivados por uma "curiosidade neutra" ou como um prelúdio para um pouso em massa. [25] 
Isto nos leva até o disco, mas não nos dá muita idéia sobre o que deveria acontecer dentro dele. Curiosidade neutra provavelmente conduziria a algum tipo de exame ou interrogatório e isto de fato acontece. Porém há aquele terror da agulha no umbigo e o negócio a respeito do mapa estelar. Nada em Keyhoe predispõe a pessoa a esses tipos de coisas. 
Filmes provêem outra fonte cultural de expectativas e imagem. O próprio Bullard nota um par de filmes dos anos 50 que têm temas médicos em um cenário de abdução alienígena: "Invasores de Marte" (1953) e "Assassinos do Espaço" (1954). Embora ele entenda a significação do segundo em alguns casos de abdução subseqüentes aos Hill, ele negligenciou a significação de "Invasores de Marte". [26] 
Próximo do clímax do filme uma mulher e um menino são abduzidos por mutantes de Marte e levados para um quarto dentro de um disco. A mulher é colocada em uma mesa retangular que entra em cena deslizando. Ela luta brevemente até que uma luz ilumina sua face e que a leva a relaxar e perder consciência. Uma agulha envolta em parte de seu comprimento por uma envoltura de plástico clara é apontada à sua nuca. Um dispositivo no término da agulha vai ser cirurgicamente implantado lá. [27] 
Em "The Interrupted Journey" nós estamos lidando com uma mulher e um homem abduzidos por aliens descritos como mongolóides – em si um tipo de mutação. No pesadelo original Betty compara os narizes dos aliens aos de Jimmy Durante. Esta é uma descrição muito apropriada dos narizes dos mutantes em "Invasores de Marte". Barney, estranhamente, não viu os narizes de Durante dos aliens. Talvez tenha sido algo removido por Betty em suas sessões de hipnose. Também pode ser que o nariz grande incitou piadas depois dos discursos que deu e seu inconsciente aproveitou a oportunidade de remover o detalhe aborrecedor quando Benjamim Simon permitiu. [28] 
Há alguns testes preliminares de um tipo rotineiro. Betty então deita em uma mesa examinadora. São introduzidas agulhas em várias partes do corpo dela inclusive em sua nuca. Então aparece uma agulha muito longa, mais longa que qualquer agulha que ela viu antes, e é introduzida em seu umbigo. Ela experimenta uma grande dor. O examinador põe a mão dele sobre seus olhos, acaricia, e a dor pára. O paralelo com a luz relaxante em "Invasores de Marte" é prontamente aparente. 
Eu estou em dívida a Al Lawson por chamar atenção ao fato que o tema da agulha-no-umbigo deve sua origem a uma imagem que aparece durante o episódio da sala de operação marciana. Logo depois que a operação começa, a câmera corta para uma visão panorâmica do
teatro cirúrgico. Pelo menos, isso é o que deveria ser. A imagem tem um caráter ambíguo em termos de escala e conteúdo. É suposto que você a interprete como uma visão da arquitetura do interior do disco com a estrutura dominante de uma viga de metal tubular ou condutor que conecta o teto ao piso. Isso mantém uma semelhança estilística ao implantador de nuca possuindo uma envoltura de plástico clara ao redor da metade superior de seu comprimento. Porém, a ambigüidade da imagem admite uma interpretação alternativa. A viga de metal tubular e envoltura de plástico torna-se uma agulha hipodérmica. A iluminação do chão sugestiona a curvatura de um abdômen. O lugar onde o chão e o tubo se cruzam é rodeado por um recuo redondo. É o umbigo. No breve lapso de tempo onde a imagem é vista, algumas pessoas perderão a interpretação planejada e verão uma agulha hipodérmica enorme sendo introduzida no umbigo da mulher. 
Alguns vêem o incidente de Betty Hill da agulha-no-umbigo como algo revelador de um procedimento médico que não existia na época do encontro. Na realidade a referência dos aliens ao procedimento como um teste de gravidez é bastante contemporânea ao período. Amniocentese existiu como um procedimento médico desde o começo dos século de XIX. Naquela época a agulha era inserida no abdômen para retirar fluido amniótico quando havia muita pressão durante uma gravidez. No começo dos anos 50, porém, tornou-se um procedimento de teste para monitorar a gravidez de mulheres com sangue Rh-negativo que poderiam ter incompatibilidade de grupos sanguíneos. Depois de 1966 a amniocentese se tornou um procedimento de sondagem genética. Uma comparação do teste da Sra. Hill aos procedimentos de laparoscopia é fraca nos detalhes. [29] 
Não há nenhuma conferência com os aliens em "Invasores de Marte" e você não esperaria que a cena do mapa estelar se originasse lá, mas os sonhos têm uma propensão estranha para distorção e condensação de materiais de memória. No começo do filme o menino e a mulher têm uma reunião com um cientista em um observatório. Este personagem, Dr. Kelson, tem um grande mapa estelar na parede atrás dele. Ele aponta ao mapa durante esta reunião e discute a proximidade de Marte para Terra. A coisa mais notável sobre esta discussão, para o espectador alerta, é que enquanto ele aponta ao mapa como se estes dois planetas estivessem representados, na realidade não há nada lá onde a Terra deveria estar. Kelson está fingindo. 
Qualquer semelhança entre o mapa estelar de Kelston e o de Betty Hill é quase puramente acidental. Porém, o paradoxo que eles compartilham não é. O esboço de Betty tem os dois planetas que faltam ao de Kelston. (Marjorie Fish os trata como estrelas, ironicamente. Estrelas não têm terminações.) Mas quando o alien pergunta para Betty onde está a Terra no mapa, ela revive a dúvida do espectador. Ela não tem nenhuma idéia. Incidentalmente, os tamanhos dos planetas podem ser comparados aos planetas no campo de estrelas nos créditos do filme. 
A propósito, o roteiro de "Invasores de Marte" tem Kelston apresentando um álbum de recortes grande com colunas de jornal sobre atividades de discos para o menino antes da discussão do mapa estelar. Isto não estava no vídeo de 78 minutos que eu vi, mas uma versão européia de 82 existe e tem uma cena do observatório mais longa. Qualquer um sabe se esta cena foi filmada? Poderia explicar a apresentação do livro grande no relato de Betty. [30] [Quando este filme foi mostrado na Inglaterra vários anos atrás havia de fato uma cena em que Kelston mostra o álbum de recortes de OVNIs – John Rimmer] 
As semelhanças entre "Invasores de Marte" e os pesadelos de Betty Hill são imperfeitas e obviamente não têm nada do rigor de uma equação matemática. Sonhos e pesadelos quase nunca são recordações verídicas por natureza. Até mesmo se Betty Hill realmente fosse abduzida, seria incomum que os pesadelos dela fossem uma resposta fotográfica de seu trauma. As emoções sentidas emergiriam, mas manteriam apenas uma semelhança metafórica em seu conteúdo dramático. O máximo que alguém esperaria seriam pequenos pedaços de imagens únicas que ajudassem a reconstruir as fontes que criaram seu sonho. É algo incrível que tantos elementos existam deste caráter – o nariz de Durante, a agulha-no-umbigo, a idéia de tranqüilização óptica e o mapa estelar – para permitir uma identificação que possa ser chamada de convincente. 
A versão de Barney dos eventos provavelmente deve muito ao que a Betty disse em seus depoimentos, mas há uma faceta que foi claramente uma contribuição de Barney – os longos olhos oblíquos dos aliens. Donald Keyhoe enfatizou que era "a pior característica" de suas faces horríveis. Ela lhes conferia um visual sinistro. Sua estranheza incitou Keyhoe a querer saber o que poderia ter levado os Hill a imaginar tais criaturas. "Nunca foi completamente explicado". [31] 
Olhos oblíquos são uma raridade extrema em filmes de ficção científica. Eu conheço apenas um caso. Eles apareceram no alien de um episódio de uma série de televisão antiga "The Outer Limits" (A Quinta Dimensão) intitulado "The Bellero Shield" (O Escudo Bellero). Uma pessoa familiar com o esboço de Barney em "The Interrupted Journey" e o esboço feito em colaboração com o artista David Baker sentirá um "frisson" de "deja vu" correndo por sua espinha ao ver este episódio. A semelhança é auxiliada muito por uma ausência de orelhas, cabelos e nariz em ambos os aliens. Poderia ser por coincidência? Considere isto: Barney descreveu e desenhou primeiro os olhos oblíquos durante a sessão de hipnose datada de 22 de fevereiro de 1964. "The Bellero Shield" foi primeiro transmitido no dia 10 de fevereiro de 1964. Apenas doze dias separam os dois exemplos. Se a identificação é admitida, a generalidade de olhos oblíquos na literatura de abdução inevitavelmente baseia-se em forças culturais. [32] 
Wilder Penfield proclamou uma vez, "é bem melhor estar errado que sem opinião alguma". Penfield mostrou ser um cientista sábio ao formular tal máxima. Erros são muito mais frutíferos que silêncio. Eles propelem uma pessoa à pesquisa e descoberta. Se Jacobs, Hopkins e Bullard tivessem sido cautelosos e reservados, algumas das surpresas neste texto nunca teriam aparecido. Há coisas aqui sobre a natureza cultural do fenômeno OVNI que eu nunca teria suspeitado. A origem do termo discos voadores em um erro jornalístico, especialmente, é a mais profunda piada cósmica que já encontrei em minha vida. Pode não ser a última refutação da ETH para todos, mas é suficiente para mim. Por isso estarei endividado eternamente a estes companheiros. 
É minha opinião que a cultura predispõe as pessoas a ter os tipos de experiências de OVNIs que elas têm a um grau que nós ainda precisamos apreciar completamente. Se eu estiver errado entretanto, minhas observação não serão em vão.

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Referências

1. Jacobs, David M., "The New Era of UFO Research", Pursuit, no. 78, 1987, p. 50 
2. Dille, Robert C. (ed), "The Collected Works of Buck Rogers in the 25th Century", Chelsea House Publishers, 1969, p. 159. 
3. Lundwall, Sam J., "Science Fiction: An Illustrated History", Grosset & Dunlap, 1977, p. 107 
4. Sadoul, Jacques, "2000 AD: Illustrations from the Golden Age of Science Fiction Pulps", Henry Regnery, 1973, pp. 63, 66, 148. 
5. Ibid, pp. 69, 70 
6. Steiger, Brad, "Project Blue Book", Ballantine, 1976. Arnold, Kenneth, "How it All Began", in Fuller, Curtis G., "Proceedings of the F
irst International UFO Conference", Warner, 1980 
7. Bullard, Thomas E., "UFO Abductions: The Measure of a Mystery. Volume 1: Comparative Study of Abduction Reports." Fund for UFO Research, 1987, p. 196. 
8. Story, Ronald D., "Encyclopedia of UFOs", Dolphin, 1980, pp. 330-4 
9. Hopkins, Budd, "Intruders", Random, 1987, p. 192. 
10. Nicholls, Peter, "The Science Fiction Encyclopedia", Dolphin, 1979, p. 207. 
11. Wells, H. "The War of the Worlds" 
12. Hopkins, op. cit., pp. 189-90. 
13. Warren, Bill, "Keep Watching the Skies: American Science Fiction Movies of the Fifties" (2 vols), McFarland, 1982. Naha, Ed., "The Science Fictionary", Wideview, 1980; Hardy, Phil, "The Encyclopedia of Science Fiction Movies", Woodbury, 1984, p. 180 
14. Warren, op. cit. p. 187. 
15. Bullard, op. cit., p. 14. Naha, op. cit. p. 218 
16. Rebello, Stephen, "Selling Nightmares: Movie Poster Artists of the Fifties", Cinefantastique, March, 1988, p. 42 
17. Bullard, op. cit., pp. 47-53, 372 
18. Dille, op. cit. pp. 142-5. 
19. Bullard, op. cit. pp. 54-5 
20. Bullard, op. cit. p. 372 
21. Hopkins, Budd: "Missing Time", Richard Marke, 1981, p. 77. Warren, op. cit., p. 153. "Magonia", No. 10, 1982, pp. 16-7 
22. Bullard, op. cit. pp. i-ii, 275, 365 
23. Fuller, John G., "The Interrupted Journey: Two Lost Hours Aboard a Flying Saucer", Dell, 1966, pp. 45-9. Keyhoe, Donald E., The Flying Saucer Conspiracy", Fieldcrest, 1955, pp. 63-64, 204-5. 
24. Keyhoe, op. cit., pp. 240-6. 
25. Fuller, op. cit, p. 343-4. Keyhoe, op. cit., pp. 58, 65,190,208. 
26. Bullard, op. cit., p. 14 
27. "Invaders From Mars" (1953), video, Fox Hills Video, 1987. 
28. Fuller, op. cit., p. 344. Bullard, op. cit., p. 245. 
29. Friedman, Stanton and Slate, B. Ann, "UFO Star Base Discovered", UFO Report, 2, no. 1, fall 1974, p. 61. 
30. Battle, John Tucker, "Invaders From Mars", Script City, n.d. p. 42 
31. Keyhoe, Donald E., "Aliens From Space", Doubleday, 1973, p. 243-5. 
32. Schow, David J. and Frentzen, Jeffrey, "The Outer Limits – The Official Companion", Ace, 1986, pp. 170, 384. Bullard, op. cit., p. 243.

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