Abduções Alienígenas: Aspectos Históricos

por Michael Sturma, publicado em History Today em jan/2000

Michael Sturma descobre paralelos entre relatos contemporâneos de abduções por alienígenas e narrativas européias de cativeiro por índios e aborígenes na América e Austrália.

Em 1976 quatro estudantes foram a uma viagem de acampamento em uma área de selva do norte do Maine. Uma noite eles avistaram um curioso objeto luminoso no céu. Depois eles testemunharam um objeto oval com uma luz brilhante colorida pairando sobre eles. Eles experimentaram então um período de ‘tempo perdido’ em sua memória consciente. Foi apenas anos depois em sessões de hipnose que eles reviveram as traumáticas abduções alienígenas durante esse período ‘perdido’. Eles relataram ser transportados a bordo de um OVNI, onde estranhas criaturas humanóides os examinaram. 
Tais relatos têm uma longa história. Em várias ocasiões eles foram relatados como carruagens, escunas flutuando e visões religiosas. Na década de 1890 houve relatos difundidos no EUA de aeróstatos com forma de charutos. Avistamentos semelhantes emanaram da Inglaterra em 1909. Durante os anos trinta objetos chamados de ‘voadores fantasma’ foram vistos sobre a Suécia, e durante a Segunda Guerra Mundial relatos de objetos luminosos chamados de ‘foo fighters’ tornaram-se comuns. O termo ‘pires voador’ foi cunhado em 1947 para descrever estranhos objetos vistos por um piloto sobre o estado americano de Washington. Mais recentemente, o fenômeno OVNI foi dominado por estórias de abdução alienígena. 
Embora as alegações de abdução alienígena sejam relativamente novas, histórias de contato com seres de outros mundos não são. Foram descritas visitas por anjos ao longo da história. Em muitas culturas há crenças em pessoas que são transportadas a outras dimensões e mitos de ascensão nos quais os humanos confrontam deuses nos céus. Até mesmo antes do fenômeno de abdução, alguns indivíduos alegaram entrar em contato com extraterrestres de mundos avançados. Por exemplo, George Adamski ficou famoso nos anos cinqüenta por suas histórias de conhecer os seres de Vênus e visitar o lado distante da Lua em sua espaçonave. 
‘Contatados’ como Adamski diziam que viajaram pelo espaço à sua própria volição. ‘Abduzidos’, por outro lado, não t6em qualquer escolha em seus encontros com aliens. Abduzidos podem ser levados em áreas remotas ou simplesmente ‘teletransportados’ [beamed up] de seus próprios quartos. Os abdutores aliens assumem uma gama de formas e cores, mas são descritos tipicamente como baixos, cinzas, calvos e com grandes olhos negros. Freqüentemente memórias de abdução são extraídas através de regressão hipnótica. 
O primeiro caso de abdução a receber ampla publicidade nos EUA envolveu um casal, Betty e Barney Hill, em 1961. Desde então, histórias de abdução alienígena proliferaram. O fenômeno ganhou proeminência adicional seguindo a publicação do relato pessoal de Whitley Strieber no best-seller Communion (1987). Enquanto os EUA têm sem dúvida a maioria dos relatos de abdução, seguidos pela América do Sul, o fenômeno na Bretanha data do meio dos anos 70. Alguns investigadores calculam que os casos por todo o mundo chegam aos milhões. 
Há intensa discordância sobre se as experiências de abdução se relacionam com eventos físicos reais, interação psicológica, estados alterados de consciência ou simplesmente fantasia. Porém, elas podem ser comparadas a outros incidentes de transculturação onde os indivíduos se acham subitamente em ambientes estranhos. Em termos de estrutura de narrativa e imagens, histórias de abdução alienígena ecoam as narrativas de cativeiro do início da América. Richard Slotkin em seu livro Regeneration Through Violence: The Mythology of the American Frontier 1600-1860 (Harper Perennial, 1996), afirma que as narrativas de cativeiro são a primeira literatura mítica coerente da América. Começando com o relato imensamente popular de Mary Rowlandson da vida dela entre os índios americanos (1682), centenas de narrativas de cativeiro recontaram histórias de seqüestro por índios. Elas permaneceram um nicho de literatura popular no século dezenove. Narrativas de cativeiro se tornaram os materiais de contos e lendas populares. Neste gênero estão romances como O Último dos Moicanos (1829) de James Fenimore Cooper ou filmes como A Man Called Horse (1969). 
Embora primariamente associadas com a América do Norte, outras fronteiras geraram suas próprias narrativas de cativeiro. Na Austrália, por exemplo, um dos cativeiros mais famosos seguiu um naufrágio do século dezenove na costa de Queensland. Uma sobrevivente, a senhora Eliza Fraser, viveu durante algum tempo entre os Aborígines. Ela foi representada popularmente como uma vítima vulnerável de selvagens cruéis. A história dela depois forneceu a inspiração para o romance de Patrick White A Fringe of Leaves (1976). 
Em face disto, histórias de abdução alienígena podem parecer bastante diferentes de narrativas de cativeiro antigas. Alguns cativos de índios permaneceram perdidos durante vinte anos ou mais antes de voltar a sociedade européia, enquanto uma abdução alienígena típica dura só algumas horas. Por outro lado, algumas pessoas relatam experiências de abdução começando na infância e se estendendo por toda a vida. 
Da mesma maneira que a abdução alienígena se tornou um tópico favorito dos tablóides, o tema de cativeiro forneceu assunto de thrillers populares e livros baratos. Narrativas modernas de abdução alien partilham muitas das qualidades sensacionais, melodramáticas e traumáticas de narrativas de cativeiro. Em ambos os casos os indivíduos são forçados contra sua vontade em um mundo estrangeiro no outro lado de sua fronteira cultural. 
Em ambos os casos, geralmente se segue uma fase de mortificação. Tanto os cativos dos índios quanto abduzidos são freqüentemente despidos. Isto os despe das decorações externas de sua cultura e aumenta um senso de vulnerabilidade. Os cativos de índios, pelo menos nas narrativas, poderiam sofrer torturas selvagens. Estes tormentos físicos encontram seu análogo nos procedimentos quasi-médicos invasivos e humilhantes comumente informados por abduzidos. Em alguns casos eles são examinados por um dispositivo de olho gigantesco ou relatam serem sondados com instrumentos e tendo dispositivos de localização implantados em seus corpos. 
Enquanto mulheres brancas vulneráveis freqüentemente figuraram como as vítimas de narrativas de cativeiro indígena, experiências reprodutivas e programas de reprodução híbrida figuram amplamente em relatos de abdução alien. Abduzidas freqüentemente informam a tomada ou implantação de óvulos em seus úteros, enquanto abduzidos podem ter amostras de esperma retiradas. Alguns abduzidos informam encontros sexuais com aliens. 
Aqueles levados em narrativas de cativeiro e histórias de abdução freqüentemente expressam ambivalência para com seus captores, combinando medo e desejo. Os índiios foram freqüentemente representados como demônios endiabrados. Mary Rowlandson se referiu a eles como ‘bestas selvagens’, ‘demônios’ e ‘cães do inferno’. Desde o princípio, entretanto, algumas narrativas admiraram e romantizaram os estilos de vida dos índios. De um modo semelhante as respostas de abduzidos variam do horror para o amor para com seus raptores. Enquanto alguns abduzidos representam aliens como dedicados à conquista da Terra, outros os vêem como oferecendo salvação da violência e destruição humanas. 
Tanto o cativeiro inídgena quanto a abdução alien são freqüentemente associados com crescimento pessoal e espiritual. Nas primeiras narrativas de cative
iro da Nova Inglaterra o sofrimento poderia conduzir à redenção. Cativos enfrentaram tentações de assimilação, às vezes simbolizadas por matrimônio a um índio. Para os Puritanos, as provas do cativeiro freqüentemente iniciavam um renascimento figurativo e têm uma dimensão claramente religiosa. Mary Rowlandson intitulou seu relato de cativeiro The Sovereignty and Goodness of God [A Soberania e a Bondade de Deus]. Abduzidos freqüentemente também falam de uma transformação profunda, variando de poderes curativos a insight espiritual, e uma consciência nova do potencial de humanos para a destruição. 
Entre aqueles mantidos cativos pelos índios, dizia-se que muitos tinham sofrido um processo de ‘Indianização’. Eles não só se adaptaram a um estilo de vida índio, mas se recusaram a se reintegrar à sociedade branca. Similarmente, abduzidos sentem freqüentemente uma mudança de identidade. Alguns se identificam tão fortemente com aqueles os levando que chegam a acreditar que eles são eles mesmos em parte ‘aliens’. Muito da popularidade das primeiras narrativas de cativeiro pode ser atribuído às ansiedades contemporâneas. Estas incluíram o isolamento da selva, e a identidade de europeus no Novo Mundo. O fenômeno OVNI é explicado freqüentemente em termos de medos da era nuclear e da Guerra Fria. Os primeiros avistamentos de discos voadores coincidiram com o desenvolvimento de armas atômicas e tensões crescentes entre o União Soviética e o Oeste. 
Para ministros Puritanos como Cotton Mather, narrativas de cativeiro eram uma advertência ao crente do que poderia acontecer ao negligente. Cativeiro índio se torna uma forma de castigo divino. A experiência relatada de abduzidos, por outro lado, freqüentemente é relacionada especificamente a advertências sobre a ecologia da Terra. De acordo com muitos abduzidos, aliens advertem que a menos que as pessoas mudem suas atitudes o planeta pode enfrentar sérias conseqüências. Muitos abduzidos se tornam fortes ecologistas. Nós podemos traçar um paralelo aqui com a narrativa de cativeiro no filme de Kevin Costner Dança Com Lobos (1990), com sua ênfase na harmonia de americanos nativos com a natureza. Como é freqüentemente o caso, os índios no filme simbolizam um estilo de vida ‘nova era’. 
Em um caso relatada no livro do psiquiatra de Harvard John Mack Abduction: Human Encounters with Aliens (1994), um abduzido alega que as experiências ocorreram em chão sagrado nativo-americano. Os estados de transe descritos por abduzidos ecoam aqueles de xamanismo indígena. O poder mítico antes associado com a fronteira Oeste foi largamente deslocado na consciência contemporânea para o espaço exterior.

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Michael Sturma é Conferencista Sênior em História na Universidade de Murdoch, Perth, Austrália Ocidental.

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