O Fogo Criativo

por Martin Kottmeyer, publicado em Magonia, No. 29, abril de 1988

O teatro do fenômeno OVNI é uma manifestação do impulso por expressão criativa. Isto deveria ter sido óbvio a mim quando escrevi Fala Sério; mas de alguma maneira escapou-me e acabei dizendo que aplauso era a força motriz do fenômeno OVNI. O erro é perdoável. John L. Caughey, em seu estudo iluminador sobre a prevalência da fantasia em vida cotidiana, Imaginary Social Worlds [Mundos Sociais Imaginários], aponta que reconhecimento como um herói da mídia é um dos Grandes Vícios Americanos e um tema repetido que atravessa as fantasias da maioria das pessoas. Até mesmo se percipientes OVNI escrevem apenas como uma fachada para os ufologistas reterem seu anonimato habitual, o conhecimento de que suas histórias receberam aceitação poderia seguramente preencher as necessidades de tal fantasia. 
Eu admito que isto foi indevidamente cínico. Esqueci o desejo criativo que pode existir em um vazio. O ensaio recente de John Rimmer, "Levels of Mystification", me lembrou como novelistas e artistas continuam criando em face de recompensas escassas, silêncio virtual e até mesmo rejeição crítica. Os próprios artistas atestam o papel fundamental de agradar suas próprias sensibilidades estéticas como uma medida de grandeza. O trabalho vem do interior da pessoa, às vezes completamente formado, às vezes lutando para se amoldar enquanto encontra expressão no mundo exterior. 
Rimmer conjeturou que abduções poderiam ser uma manifestação deste impulso compelidor para criar. Discutindo a abdução de Aveley ele observou como o incidente parecia liberar impulsos criativos reprimidos nos personagens centrais. John se tornou um escultor; Elaine reacendeu um interesse em aprender, que ela tinha antes de se casar. Esta observação sugeriu uma hipótese testável. Se abduções são o resultado de um desejo poderoso de auto-expressão criativa, nós poderíamos ver este desejo se manifestar em outros aspectos das vidas de abduzidos. Nós prediríamos uma tendência para que abduzidos sejam mais freqüentemente pintores, escritores e envolvidos em empreendimentos criativos que a população geral. 
Eu fiz uma pesquisa casual de relatos de abdução publicados para ver se isto poderia ser verdade. Eu cheguei a um número impressionante de 18 abduzidos tendo passados artísticos de uma população de 55. Isto nem mesmo leva em conta que alguns destes 55 não tinham nenhum passado pessoal em sua descrição e, em terrenos metodológicos provavelmente nem deveriam ter sido incluídos. 
Betty Hill, em sua juventude, era uma leitora voraz e ganhou concursos, competições de soletração de palavras e até mesmo papéis dramáticos na escola. Betty Andreasson ganhou prêmios em muitas competições de arte. Todas as três senhoras da abdução de Liberty, Kentucky, haviam feito da arte um passatempo, e Mona Stafford, em particular, era proprietária de uma loja de arte. Diz-se que Steven Kilburn de Missing Time era dedicado a uma carreira nas artes. 
No mesmo livro diz-se que "Mary" era uma pintora. Nós descobrimos que Kathie Davies de Intruders é uma autodidata com talento considerável como artista visual. Também de Intruders, "Pam" é descrita como uma dançarina. Em um caso mais recente informado por Budd Hopkins no International UFO Reporter, "Christie" é uma artista gráfica de sucesso. Sandra Larson era uma cantora country. Whitley Strieber, como todo o mundo sabe agora, é um escritor de sucesso. O "coro escondido" de onze de Strieber inclui um dançarino, um curador/artista de museu e um músico. Finalmente, de Direct Encounters há Ellecia Gruen, que é pintora e pianista, e Jessica Wolfe que é atriz e escritora. 
Isto indubitavelmente sub-representa a porcentagem que manifesta criatividade. Vários relatos, sem entrar em detalhes, se referem a passados literatos e mentes brilhantes. Antônio Vilas Boas eventualmente alcançou o título de Doutor e se tornou um advogado respeitado. Sugestões adicionais estão dispersas pela literatura, mas eu não desejaria me perder em argumentos sobre interpretação. Seria obviamente contencioso conjeturar que o poder criativo gera toda experiência de abdução. Há alguns casos que claramente resistem a se ajustar a este belo quadro. 
Independente dos elementos criativos do próprio relato de Pascagoula não há nada seja no passado ou nos perfis psicológicos de Charles Hickson e Calvin Parker para sugerir que eles possuíam um fervor criativo. O perfil psicológico de Hickson mostrou apenas níveis comuns de inteligência e imaginação. A menos que, sem nenhuma autorização, nós vejamos significação no aspecto moderadamente radical da personalidade dele mostrado na escala conservadora-experimental, não há nada no seu passado de trabalhador de petróleo para indicar uma necessidade compelidora por auto-expressão. 
Alguma justificação para generalização pode ser achada no teste psicológico do Dr Slater de nove abduzidos. Enquanto abduzidos podem ser "normais" no senso de nenhuma patologia, eles emergem claramente como fora da média. Slater descobriu que o grupo não só era altamente inteligente mas possuía uma rica vida interior. Slater descreve esta vida interior como não só agindo favoravelmente em termos de criatividade mas negativamente "ao ponto em que pode ser subjugadora." 
Também é notável que os nove abduzidos escolhidos para o estudo incluem algumas carreiras a não ser descritas como mundanas: ator, artista comercial, técnico de áudio, instrutor de faculdade, advogado corporativo, diretor de laboratório de química e perito de eletrônica. 
Seria tentador arrastar a evidência do impulso criativo em contatados (os trabalhos escritos de George Adamski pré-contato, o manuscrito do filme de Orfeo Angelucci, a Shaggy God Story) como prova adicional de criatividade sendo a força motriz do fenômeno OVNI, mas realmente não há nenhuma necessidade de explorar o assunto. O ponto central é muito importante para arriscar obscurecê-lo em trivialidades. 
Há um fogo para criar nas almas dos abduzidos. Ufologistas o liberam ao seu próprio perigo.

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