Mergulhando na Terra

Martin S. Kottmeyer, publicado no
Magonia Monthly Supplement 26, abril de 2000

Uma das metáforas mais antigas da astronomia e ficção científica apresenta o espaço como um vasto oceano sendo a Terra uma de suas pequenas ilhas. Foguetes cruzando este oceano foram inevitavelmente considerados como navios [ships, em inglês equivalente a navio]. Grupos de navios eram frotas. Eles eram comandados por capitães e mantidos por tripulações. Se não tivessem velas, ainda eram guiados por correntes magnéticas e atingidos por tempestades de íons. Artistas têm algumas vezes retratado esta analogia literalmente, com navios a vela de séculos passados viajando no mar de estrelas. A ficção científica japonesa faz isto freqüentemente com o exemplo da cópia de Star Wars Message from Space (1978) vindo à minha mente. Os fãs de Doctor Who pensarão mais prontamente em "Enlightenment". As antigas revistas de ficção científica brincavam com a idéia de alienígenas flutuando na estratosfera, às vezes soltando âncora, às vezes tentando pegar a nós, habitantes das profundezas. (1) 
A mais notável destas histórias foi "Up Above" (1912) de John Raphael (2). Aliens ancoraram na atmosfera superior para recolher espécimes da Terra de uma maneira expressamente análoga a oceanógrafos que tinham estado coletando flora e peixes do fundo do mar para o museu sobre o mar profundo do Príncipe de Mônaco. Aparelhos gigantes com forma de sino feitos de uma substância aérea translúcida descem e sugam coisas da superfície levando-as para cima. Estas incluem humanos, que são inicialmente engarrafados e arquivados, adequadamente pressurizados depois de alguma tentativa e erro. Depois que uma mulher fica louca e arranca suas roupas, o Povo do Céu remove a roupa, e então a pele de outros espécimes. Estes incluem um gorila, gado, pássaros e mais humanos. Eles cortam, desnudam e sondam seus espécimes com horríveis facas, lenta e metodicamente. O sangue é vertido em tubos, "indubitavelmente para exame". (3) Depois, é evidentemente jogado para fora de bordo resultando em chuvas de sangue. No final, o navio acaba afundando para o fundo do ar. Como os resgatadores [humanos] perfuram o casco para salvar os humanos restantes, a entrada de ar pelo buraco afoga o Povo do Céu. 
Charles Fort gostou da metáfora o bastante para emprestar partes dela em suas divagações ufológicas primitivas. Ele falou de um Super-Mar-Sargaço se estendendo acima de nós de onde peixes e rãs eram esporadicamente jogados. Super-embarcações e superconstruções velejavam e pescavam por guloseimas. "Eu acredito que nós somos pescados", ele escreveu. Ele forneceu indícios envolvendo corpos luminosos com estruturas parecidas com velas. Ele também encontrou relatos de coisas parecidas com ganchos e até mesmo reproduziu um desenho de um gancho-celeste, a única ilustração fornecida no conjunto de seus livros que eu tenho. Ele ofereceu a idéia de que o relativo isolamento da Terra de visitação alienígena poderia ser análogo ao isolamento de peixes do fundo do mar. A densidade de nossa região é muito diferente da deles para fornecer acesso fácil. Eu estou seguro de que ele teria adorado encontrar e incluir em seus livros relatos de visitantes alienígenas em trajes de mergulho se eles existissem. Nenhum relato assim é mencionado. (4) 
Aliens em roupas de mergulho eventualmente chegaram. Eles começam a aparecer na Europa nos anos cinqüenta, mais prolificamente durante o Grande Pânico Marciano francês de 1954. Discussão sobre roupas de mergulho é mencionada explicitamente em 9 dos 64 encontros de entidade coletados em um catálogo de casos. (5) Mais tarde na década, tal vestimenta protetora é vista em entidades na América do Sul. Estranhamente, as pessoas nos Estados Unidos não relataram nenhuma entidade em trajes espaciais até o encontro de Gary Wilcox em 1964. (6) Os relatos alcançam seus maiores números pelos anos setenta. Seu alcance inclui o Canadá, Inglaterra, Austrália, Itália, Líbia, Polônia, Portugal, Brasil e Argentina. 
A freqüência de aliens com roupas protetoras tem diminuído notavelmente em décadas recentes. Uma lista de relatos coletada de várias fontes e ordenada por década resulta assim: 
1950: 22 
1960: 17 
1970: 24 
1980: 5 
1990: 0 
Há ambigüidades implícitas em certos casos. Um caso dos anos sessenta que descreve cinco cabeças sem corpo em um globo deveria ser incluído ou excluído? Poderia ser relacionado à atmosfera, mas pode-se pensar que cabeças sem corpo precisam de algum tipo de envoltório para locomoção independente das diferenças ambientais. Eu incluí o caso de todo jeito. O caso de Travis Walton deveria ser incluído ainda que não envolva aliens usando capacetes, mas um cúmplice aparentemente humano? Pode apenas parecer humano e ser alien. Mas eu o incluí. Um desenho de Gulf Breeze deveria ser interpretado como um alien com roupas espaciais ou um alien exibindo um escudo análogo às proteções de força pessoais vistas no filme Duna? Ele é incluído. 
Estimativas para os anos oitenta e noventa podem ser em parte baixas devido a uma ausência de casos de entidade catalogados cobrindo essas décadas de forma completa. Mesmo permitindo tal aspecto, é improvável que o fato de um declínio possa ser atribuível a pesquisa escassa. Não há nenhuma escassez de relatos de abduções e encontros nas últimas duas décadas e a raridade de relatos de entidades com trajes de mergulho parece fora de disputa. Os volumes de Glimpses of Other Realities de Linda Howe exibem várias dúzias de desenhos de aliens mas o único exemplo de um alien protegido com capacete data de 1975. Será que há menos pessoas vendo aliens em roupas de mergulho? Será que menos ainda estão se importando em informar os ufólogos? Será que ufólogos não estão se aborrecendo em relatar tais informes para publicação? Qualquer que seja a razão, roupas espaciais estão evidentemente obsoletas esses dias. Elas já não são moda entre alienígenas. 
Escritores de ficção científica de antigamente estavam cientes do fato de que os cientistas haviam determinado que outros planetas no sistema solar tinham atmosferas muito diferentes. Pensava-se que a vida em outros lugares era comum com base em suposições Copernicanas, e assim a vida evoluiu para lidar com essas condições diferentes. Visitantes alienígenas deveriam trazer sua própria provisão de ar corretamente pressurizada para sobreviver aqui. Aliens em roupas espaciais são facilmente encontrados nas revistas antigas de ficção científica. A primeira geração de aliens cinemáticos incluiu vários aliens com roupas espaciais: O Homem do Planeta X (1951), Fantasma do Espaço (1953), o infame Monstro Robô (1953), e A Terra contra os Discos Voadores (1956). Um prelúdio memorável para invasão alienígena era um plano de aliens para mudar nossa atmosfera, fazendo a Terra habitável para eles, mas nos eliminando como um efeito colateral infeliz. 
Embora aparentemente lógico na época, o argumento não parece mais tão convincente. Nós aprendemos que os outros mundos do sistema solar são estéreis e agora aceitamos que a vida só pode surgir e florescer em certos regimes químicos. A vida interage com o ambiente e atmosfera em loops de feedback ecológicos que transformam a atmosfera para uma faixa adequada de temperaturas e químicas. Mundos com vida podem evoluir de forma convergente atmosferas suficientemente semelhantes para tornar proteção especial e misturas para respiração desnecessárias. Outro fator que vale considerar é que aliens c
om tecnologia mágica o bastante para desenvolver a viagem interestelar também podem ser mágicos o bastante para criar modificações biológicas ao corpo alien que seriam menos desajeitadas que roupas de mergulho. Um órgão especial enxertado nos pulmões e, voila, já se é um Terráqueo. Um médium consultado por Hans Holzer de fato sugeriu em certo momento que aliens estavam tentando desenvolver tal conjunto de novos pulmões. (7) 
É provavelmente duvidoso que estas novas considerações tenham tido qualquer parte no declínio de aliens protegidos com capacete. Quanto aos aliens de filme pelo menos, capacetes eram provavelmente uma amolação óbvia para o pessoal de iluminação e efeitos especiais. Também é difícil ver aliens como um grande perigo se tudo você tem que fazer para matá-los é cortar um tubo de respiração ou rachar o capacete com uma pedra. 
Quanto aos relatos de entidades em OVNIs, parte da distribuição ao longo do tempo tem algo a ver com a notoriedade de certos casos de encontros. O ápice de aliens com roupas espaciais nos ano setenta nos EUA parece relacionado à ampla cobertura dada às controversas fotografias do policial de Falkville durante a onda de 1973. O visor retangular aparente nessas fotografias é um detalhe que recorre em casos subseqüentes e dura até o caso de Gulf Breeze. Os livros de Hopkins e Strieber omitem notavelmente quaisquer entidades com roupas espaciais e aliens subseqüentes tendem a ser ecos dos Greys retratados nesses trabalhos. Por que a Europa favoreceu a forma nos anos cinqüenta enquanto os EUA a evitaram é mais enigmático. A fraude fotográfica de Monguzzi em 1952 parece o exemplo mais antigo da forma, mas se era conhecida o bastante para servir como um modelo não está claro. (8) O caso Quarouble de 1954 na França é outro caso antigo que poderia ter servido como protótipo. A testemunha principal inicialmente pensou que estava olhando para espiões ou contrabandistas. O desenho parece consistente com um jovem usando um capacete de motocicleta. Alguns relatos de imprensa posteriores distorceram a história como envolvendo um ser de cabeça grande, mas deWilde negou isto quando perguntado por investigadores. (9) 
A ausência de aliens vestidos dos EUA pode representar só o fato fortuito de nenhum caso popular apropriado ter surgido. A cópia de Michael Rennie feita por Adamski serviu como modelo para os contatados. É encantador notar que Adamski propôs a noção extraordinária, "Embora o ar em todos os planetas difira ligeiramente, ao contrário das crenças presentes dos cientistas o homem terrestre poderia ir para qualquer lugar no universo sem desconforto." (10) Pulmões humanos poderiam se adaptar até mesmo para se manter na lua, dado um dia de despressurização. (11) Não-contatados tenderam a oferecer estórias de homenzinhos seguindo os rumores de recuperação de Dimmick, disseminados pela AP em 1950 e promovidos nas colunas de Frank Scully na Variety. (12) Os poucos que não seguiam o modelo dos homenzinhos eram um conjunto de formas aleatórias tão escassas a ponto de não apresentar um paradoxo estatístico. Até mesmo na ficção científica, aliens com capacetes não eram nem universais nem a maioria. 
Se consistência de forma devesse ser considerada como evidência para a ETH [hipótese extraterrestre], então nós faríamos bem em considerar as inconsistências entre a população de aliens com trajes. Os estilos de capacete variam amplamente. Alguns são perfeitamente esféricos. Alguns são cilíndricos. Alguns são completamente transparentes. Alguns aparecem opacos. Alguns mostram um visor. A maioria não. Mangueiras para uma mochila às vezes são visíveis. Elas podem se conectar ao topo do capacete ou descer pela beirada. Antenas e faróis são opcionais. Indubitavelmente isto será racionalizado como prova de que há muitas raças visitando a Terra ou que aliens não são diferentes de humanos ao gostar de modas diferentes no uso de roupas protetoras. 
Há inconsistências mais amplas. Alguns gostam de notar que o caso Villas Boas agora se ajusta perfeitamente com o programa de procriação dos Greys. Menos notado é que os raptores naquele caso usavam roupas espaciais, algo com que esses Greys não se importam muito estes dias. Realmente, o número de abduções envolvendo adornos de cabeça semelhantes a roupas espaciais ao longo da história dos discos voadores é relativamente pequeno. Bullard nota que há apenas 6 casos em seu estudo que incluem evidência para um aparelho de respiração. Ele comenta, "Esta característica é surpreendentemente escassa, nem humanóides nem humanos requerendo o ar em tubos essencial aos nossos viajantes espaciais." (13) Daqueles que não têm trajes, alguns invocam preocupação sobre a incompatibilidade atmosférica tendo aliens com dificuldades de respirar. (14) Mais recentemente, David Jacobs oferece a evasiva surpreendente de que Greys simplesmente não respiram. Eles não interagem com nossa atmosfera. (15) Isto é surpreendente já que livros de ensino de biologia consideram a respiração como uma característica definidora de vida, tornando isto uma confissão virtual de que eles são irreais em certo sentido, seja como uma criação artificial falsamente parecendo uma forma de vida ou simplesmente como fantasia. 
Aqueles que consideram os humanos como descendentes biológicos de aliens têm uma desculpa óbvia para não ter aliens em trajes de mergulho. Ela também funciona para aqueles que consideram aliens como viajantes do tempo descendentes da humanidade. Porém, o que eles fazem com os relatos de trajes de mergulho? Deveriam ser considerados declarações de moda individuais? Talvez algumas das entidades tenham sensibilidades ambientais enquanto outras são mais fortes. Talvez aqueles ficando por algum tempo são bio-tecnicamente adaptados enquanto aqueles aqui para uma excursão curta simplesmente usam trajes para conveniência. Indubitavelmente há muitas possibilidades. 
A ausência de aliens em trajes de mergulho na época de Fort, a estranheza da proliferação inicial confinada à Europa, a proliferação atrasada nos EUA e o declínio posterior deles, tudo aponta para efeitos culturais existindo nesta categoria da ufonáutica. Eu não tenho nenhuma posição particular na questão de se aliens vestidos são mais prováveis que pelados. O argumento de Gaia sobre mundos com vida tendo atmosferas similares parece válido, mas o velho argumento sobre a necessidade de vestimentas também parecia válido. Nós só temos os exemplos em nosso sistema solar para ponderar, e podem haver modos diferentes para a vida e atmosfera co-evoluírem que ainda não imaginamos simplesmente porque nós precisamos ver as alternativas em operação para achá-las imagináveis. Talvez nós ainda não devêssemos jogar fora esses trajes. O trocadilho inevitável é que tudo isso é especulação no ar. 

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Referências
1. Moscowitz, Sam. Strange Horizons: The Spectrum of Science Fiction, Scribner’s, 1976, 229-232 
2. Raphael, John N. "Up Above", Pearson’s Magazine, December 1912, 709-760 
3. Ibid., 750 
4. Fort, Charles. The Book of the Damned, Ace Star, no date, 255, 260, 267 
5. Bowen, Charles. The Humanoids, Henry Regnery, 1969, 27-76. Michel, Aim?. Flying Saucers and the Straight-Line Mystery, Criterion, 1958 
6. Bloecher, Ted. Close Encounter at Kelly and Others of 1955, CUFOS, 1978, x 
7. Holzer, Hans. The Ufonauts, Fawcett Gold Medal, 1976, 280 
8. Pinotti, Roberto. "UFO Research in Italy", UPIAR, 2, 1, 1977, 199, citing expose in Notiziario UFO, 71, 1976 
9. Bonabot, Jacques. "Dossier Quarouble 1954", Bulletin du GESAG, 72, June 1983 to 86, December 1986 – a 14-part series 
10. Adamski, George.
Inside the Space Ships, Abelard-Schuman, 1955, 204-205 
11. Ibid., 226-227 
12. Johnson, Dewayne B. and Thomas, Kenn. Flying Saucers Over Los Angeles, Adventures Unlimited, 1998, 50-52, 99-100 
13. Bullard, Thomas E. UFO Abductions: The Measure of a Mystery, FFUFOR, 1987, 251-252 
14. Keel, John. The Mothman Prophecies, Signet, 1975, 175 
15. Jacobs, David. Secret Life, Fireside, 1992, 227-228.

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