Entortadores Psíquicos de Metais

Hernán Toro, de Escépticos Colombia
Tradução gentilmente autorizada

Uma das afirmações paranormais mais freqüentes é a do suposto poder da mente para influir sobre os metais. Diz-se que essa influência dobra chaves, colheres, garfos e outros talheres, até o ponto de causar sua fratura de forma "sobrenatural".
É tão persistente este suposto fenômeno paranormal, que até mesmo em 1 de julho de 2001 o Canal RCN [da Colômbia] apresentou um especial no qual aparecia o mais conhecido farsante paranormal, Uri Geller, mostrando o truque que o imortalizou como psíquico (Figura 1). Ao que parece os meios de comunicação em massa não têm memória quando o que importa é aumentar a audiência a todo custo.

A realidade por trás destas afirmações é uma fraude exposta há uns vinte anos pelo ilusionista e caçador de psíquicos, James "The Amazing" Randi. E não obstante os numerosos esforços da comunidade científica durante mais de 40 anos para demonstrar cientificamente e em condições controladas este efeito, até o momento todos os esforços foram infrutíferos.
Cabe ressaltar que o êxito das apresentações de entortamento de metais depende fortemente do tipo de público que assiste à demonstração. Estes fenômenos só ocorrem quando não há condições controladas. Se os "psíquicos" estão diante de um público pouco informado em prestidigitação, as demonstrações são um grande êxito; este se multiplica por dez quando os espectadores da demonstração são crentes no paranormal e nos contatos extraterrestres. Neste caso o show anda de vento em popa. Ao contrário, quando há prestidigitadores ou céticos informados entre os espectadores a apresentação termina com um completo fracasso. É então que entram em cena as inúmeras justificativas.

Uri Geller
Fig. 1: O charlatão Uri Geller, enganando há mais de 30 anos , fazendo de conta que dobra um garfo psiquicamente.

Métodos de engano
As demonstrações típicas de entortamento de metais incluem vários efeitos, cada um dos quais se baseia em princípios diferentes, embora muitas vezes possam se combinar para gerar efeitos mais assombrosos. Explicaremos os seguintes métodos de acordo com o efeito que percebe o público: entortamento de varetas metálicas, entortamento de talheres com fricção dos dedos, entortamento de chaves ou moedas, entortamento de metais nas mãos do espectador, e entortamento de chaves ou colheres sem contato com o local de flexão.
Algumas das explicaciones estão acompanhadas de vídeos, no formato Windows Media (WMV). Será necessário o Windows Media Player para assisti-los.
1. Entortamento de varetas metálicas
Se antes de ler a explicação, deseje ver uma demonstração deste efeito, pode descarregar o vídeo que se oferecem a seguir:


Vídeo "bastao.wmv", 239 Kb
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Embora o efeito seja impressionante, só pode ser realizado diante de uma única pessoa ou uma única câmera. Tudo se baseia em uma ilusão ótica. Em um instante em que ninguém esteja olhando, dobra-se um pouco a vareta, mais ou menos na metade. Não se deve ultrapassar 10 graus porque seria muito difícil dissimular a dobra.
No momento do engano, se toma a vareta por um extremo e se mantém a vareta dobrada paralelamente ao piso, à mesma altura dos olhos do observador ou da lente da câmera. Caso se mantenha a flexão de perfil, será muito difícil que o espectador a detecte. É indispensável que ambos olhos do observador e o eixo da dobra da vareta estejam no mesmo plano. É assim como a própria vareta oculta a dobra.
Neste ponto se esfrega suave mas rapidamente a zona dobrada, à medida que a mão que sustenta a vareta gira lentamente a vareta sobre seu eixo. Esta rotação faz com que a metade dobrada da vareta comece a baixar, dando a impressão ao assombrado espectador de que a vareta vai se dobrando ante seus próprios olhos. É conveniente que a rapidez da fricção sacuda horizontalmente a vareta. Este vai-e-vem dificulta que a visão em profundidade dos dois olhos detecte a dobra antes do tempo.

Pierre Girard

Há que notar dois erros que arruínam este efeito. O primeiro: se se efetua a demonstração frente a duas pessoas, a diferença de alturas entre ambos espectadores fará que quando um não possa perceber a dobra, a outra sim o possa. Assim, uma das duas poderá detectar a fraude. O mesmo ocorre caso se execute o feito diante de duas câmeras a diferentes alturas. O segundo erro: se o espectador inclinar lateralmente a cabeça no início da demonstração, seus dois olhos ficariam a diferentes alturas e a visão estereoscópica detectaria o truque ipso facto. É preciso ser muito hábil para responder a esta dificuldade. no instante em que se detecte a inclinação na cabeça do observador, deve-se inclinar em igual grau a vareta, de tal maneira que os dois olhos e a dobra da vareta fiquem no mesmo plano.
Isto aparece executado em um capítulo de O Estranho Mundo de Arthur C. Clarke. Quem o realizou foi o "psíquico" francês Pierre Girard quem, antes de dedicarse a os "poderes psíquicos", foi um prestidigitador profissional, listado no Annuaire des magiciens (Anuário de mágicos) de Serge Bourdin (Figura 2). A imagem do link foi reproduzida em Science et Vie No. 774. (Extraída de Los fenómenos paranormales, Broch Henri. Ed. Crítica, lámina VIII).
Este método de entortamento também o utilizaram os prestidigitadores Steven Shaw e Michael Edwards, dirigidos pelo Mágico cético James Randi, no conhecido "Projeto Alfa", o qual demonstrou que os cientistas profissionais são completamente inadequados para investigar o paranormal quando não contam com a ajuda de um prestidigitador profissional.
2. Entortamento de talheres com a fricção dos dedos
Se antes de ler a explicação, deseje ver uma demonstração deste efeito, pode descarregar o vídeo que se oferece a seguir:


Vídeo "colher.wmv", 371 Kb
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O principio desta ilusão é semelhante ao da vareta: dobrar o metal quando ninguém vê e mostrar lentamente a dobra quando se esteja executando o "milagre". É o método preferido pelo charlatão Uri Geller, quem foi pego em flagrante em um vídeo: treze segundos antes que dissesse "a colher começa a se dobrar", deixou ver detrás do indicador de sua mão esquerda um extremo da colher, o qual evidenciava uma curvatura pronunciada. Isto demonstrava que a dobra existia muito antes de começar o "fenômeno" (Figura 3).


Fig. 3 Quadro de um vídeo de Uri Geller, treze segundos antes que dissesse "a colher começa a se dobrar"; note que o extremo do cabo da colher aparece por debaixo do mindinho da mão esquerda: a colher estava dobrada muito antes da "psicocinese"

Como as colheres e garfos são pequenos e de metais macios, apresentam grandes vantagens em sua manipulação.
Em primeiro lugar, o material dos talheres permite seu entortamento com uma só mão; só é preciso segurar o talher pelo cabo e fazer pressão n a parte côncava com o dedo polegar. Isto pode ser feito quando ninguém esteja olhando. Para distrair ao público pode-se utilizar qualquer desculpa, como uma breve introdução sobre a natureza dos "poderes psíquicos". Uma vez que se faça a dobra da colher, oculta-se a mesma com a mão e mostra-se a parte côncava, agindo como se ainda estivesse reta. Logo se começa a esfregar suavemente a dobra, à medida que se deixa ver gradualmente. Caso se faça com suficiente destreza, cria-se a impressão de que o metal se dobra suavemente. Quando se revela completamente o talher, os espectadores o descobrirão torto.
O efeito se acentua caso se sugestionem os observadores. Dizendo "se dobra… está se dobrando… vejam como se dobra…" enquanto se esfrega a colher, aumentará o efeito sobre o público.
Outra variante deste truque consiste em fazer que o talher se quebre em duas partes. O princípio deste é um pouco diferente. Basta preparar a colher dobrando-a forte e repetidamente até que se gere fadiga no metal. O estado de fadiga do metal é um no qual o material aparentemente está intacto, mas microscopicamente está repleto de microfracturas.
Com a colher assim preparada, se começa um tratamento de flexão suave, usando a menor força possível, até que esta termine quebrando-se.
Este truque, junto com algumas variações, foi o que fez famoso ao charlatão israelita, Uri Geller. Também foi sua ruína, pois o mago profissional James Randi expôs todos seus truques em seu livro La magia de Uri Geller.
3. Entortamento de chaves
Se deseja ver uma demonstração deste efeito antes de ler a explicação, pode descarregar o vídeo que se oferece a seguir:


Vídeo "chave.wmv", 476 Kb
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As chaves são perfeitas para fazer demonstrações de entortamento de metais. Em primeiro lugar, seu pequeno tamanho permite usar técnicas de prestidigitação para iludir. Em segundo lugar, sua grande rigidez torna muito difícil que o espectador possa dobra-las com a mão limpa; isto faz com que ache muito mais inexplicável este "milagre". Como sempre, o truque se baseia em dobrar quando ninguém vê, e mostrar a dobra gradualmente.
Como o material das chaves é bastante rígido, a melhor forma de criar a ilusão de seu entortamento é utilizando duas chaves idênticas. Uma delas se dobra antes da demonstração. A outra, para dar aparência de naturalidade, pode ser colocada em um chaveiro.
Chegado o momento da demonstração, mantém-se oculta a chave dobrada na palma de uma mão. Esta técnica mágica de ocultar objetos na mão recebe o nome de "empalme" no argot dos prestidigitadores. Conta-se aos observadores acerca dos poderes paranormais que se vão demonstrar. Simultaneamente se saca do chaveiro o duplicado intacto da chave que se leva empalmada. Pode-se dar a chave direita ao espectador para que a revise; em todo momento deve-se manter o dorso da mão aos observadores para ocultar o objeto empalmado.
N o instante em que se recebe a chave do espectador que a estava revisando, se faz uma manobra chamada "queda francesa", que consiste em fazer o gesto de passar a chave de uma mão para a que tem empalmada a chave dobrada. Embora pareça como se a chave mudasse de mão, a realidade é que a chave reta continua onde estava. Ao mesmo tempo, se mostra a parte larga da chave dobrada, ocultando a dobra.
Se a queda francesa é feita com fluidez, nenhum espectador detectará a troca, a menos que saiba de prestidigitação.
O passo seguinte consiste no mesmo do método prévio: deixar ver a dobra à medida que se diz "se está dobrando… se está dobrando". O efeito resulta ser assombroso.
Em certos casos, a situação não é tão cômoda para o mago… podem lhe pedir que dobre uma chave do público, o que impediria usar uma chave dobrada previamente. Neste caso deve-se usar a estratégia Geller: simular que se têm dificuldades passageiras, falar bobeiras acerca dos imprevisíveis poderes paranormais, e quando as pessoas estejam distraídas, usar qualquer superfície rígida, ou qualquer fenda entre as partes da cadeira ou da mesa, para fazer a dobra. Inclusive se vendem utensílios para dobrar chaves nas lojas especializadas em magia. Depois que se fez o entortamento da chave, o truque se executa como sempre.
Este truque foi o que lançou à fama ao maior charlatão dobrador de talheres de todos os tempos: Uri Geller. Também foi usado pelo farsante de Pierre Girard, o "uri geller" da França.
4. Entortamento de metais nas mãos do espectador
Este truque se baseia no anterior. Tendo oculta uma chave ou uma moeda dobrada, se procede a mostrar uma intacta ao espectador. Em um instante em ele que não esteja olhando, ou usando técnicas de prestidigitação similares às do número anterior, se faz a troca e se coloca a chave ou a moeda levemente dobrada na palma da mão do assistente. Deve-se usar uma mão para depositar o objeto na mão do espectador enquanto se fecham seus dedos com a outra mão. Desta forma se impede que o sujeito veja que a chave que se lhe entrega já está dobrada. Para que o espectador não perceba a dobra com o tato, a flexão da chave ou da moeda não deve ser muito pronunciada.
É fundamental forçar ao sujeito para que aperte muito bem a mão e que "mentalize" que a moeda está se dobrando. A sugestão é essencial na impressão que se causa ao espectador. É importante que o "psíquico" faça a sugestão ao sujeito de que "a chave está se dobrando", que "sinta a energia fluir", etcétera. Uma vez transcorridos dois ou três minutos de "concentração", o sujeito não recordará que o "psíquico" teve tempo para trocar a moeda ou a chave.
Quando o sujeito abra a mão, tanto a ele quanto ao público parecerá claro e evidente ver como os supostos poderes psíquicos "sim existem".
Este truque executou o charlatão psíquico brasileiro e "contactado" por extraterrestres, Urandir Fernandes de Oliveira. Foi convidado a um popular programa matutino da televisão colombiana chamado "EN VIVO". Resta dizer que deixou boquiabertas às apresentadoras, uma das quais inicialmente parecia pouco crédula.
5. Entortamento de chaves ou colheres sem contato com o ponto de flexão
Este é o tipo menos freqüente de entortamento de metais porque envolve o uso de uma chave previamente preparada de maneira muito complexa e custosa.
Deve-se fraturar uma chave de forma que a ruptura fique o mais reta possível. Logo se repara soldando-a com um metal especial chamado Gálio. Seu baixo ponto de fusão, 29.8 graus Celsius, faz com que baste apenas o calor das mãos para que a chave comece a dobrar-se; no instante em que o metal se está fundindo, a chave resulta tão frágil que com uma agitação leve das mãos (sem tocar o ponto que está se dobrando) pode-se conseguir que a chav
e se quebre.
Com muito tato, e bastante ensaio, pode-se conseguir que uma chave normal chegue a um ponto de fadiga tal que uma agitação resulte na ruptura. Esta é outra forma de conseguir este efeito.
A chave de todos estes truques consiste em deixar o público examinar uma chave ou uma colher normal e fazer a troca pela chave preparada no momento oportuno, momento que se pode conseguir com muitas distrações, incluindo a desculpa batida de que "minha energia psíquica está baixa… dê-me um tempo para concentrá-la". Em uma espera de 5 minutos para "reconcentrar a energia" há uma infinidade de instantes adequados para fazer uma troca.
Conclusão
O entortamento psíquico de metais, uma forma absurda de psicocinese, foi desacreditada mil e uma vezes. Os principais psíquicos que usaram esta forma de fraude foram expostos em inumeráveis ocasiões por mágicos profissionais. Ainda assim, estes fraudadores se comportam como as epidemias: desaparecem durante um tempo para voltar a aparecer quando há novas gerações crédulas. Isto é particularmente verdade com Uri Geller, que está voltando a aparecer publicamente em programas televisivos que vendem como pão quente aos canais de televisão. Permanece nas mãos dos programadores e jornalistas responsáveis lembrar às novas gerações as numerosas vezes em que expuseram as fraudes destes charlatões.
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Fonte das ilustrações
Figura 1. Muy Especial, No. 45, enero/febrero 2000. p. 62.
Figura 2. Broch, Henri. Los fenómenos paranormales. Una reflexión crítica. Crítica, 1987. Lámina VIII.
Figura 3. Vélez, Antonio. Parasicología ¿realidad, ficción o fraude? Taurus, 2000. p. 233.
Artigo realizado por: Hernán Toro (torosaurio)
Copyright © 2001

2 comentários sobre “Entortadores Psíquicos de Metais

  1. Adoro o site :)
    Essa parada de entortar metal, em especial, aconteceu uma coisa escrota comigo! Foi numa entrevista em Jo Soares, nos anos 90! Eu estava com um pirralho de uns 7-8 anos de idade… O entrevistado pedia para usar talheres em casa… Eu peguei uma faca e o garoto a chave do carro da mae dele, era um Fiat Uno ainda lembro! :P Daí, conforme orientacao do cara na tv, fechamos os olhos falando “entorta entorta entorta entorta”, depois que o cara mandou abrirmos os olhos, minha faca estava absolutamente igual, mas a chave da mae do pirralho estava um anzol!!!! Ela acabou me dando esporro por que eu era bem mais velho! apenas no dia ela acreditou pq a chave ficou muuuuuuuuuuuuuuuito torta mesmo :) Eu tinha uns 13-14 anos e ele uns 7-8 anos. :)

    Isso foi um fato, acredite, agora, apos ler esta sua materia, e ver videos de paranormais, realmente da pra perceber que todos sao farsa, fazem a mesma coisa que rola no video! mas essa minha experiencia do menino com a chave do carro foi totalmente verdade :) :)

  2. O mesmo aconteceu com minha mãe que com ceticismo, pegou um relógio de ouro, quebrado, que não funcionava há mais de 13 anos e que precisava de um limpeza e de trocar o cabelo, segundo o relojoeiro. Eu havia segurado uma colher e nada ocorrera, mas quando o relógio começou a funcionar nas mãos dela, todos nós ficamos pasmos com o fenômeno e neste instante a colher que eu havia largado em cima da Tv se dobrava sozinha ficando com uma leve torsão à vista de todos.
    Apesar de acreditar que esses caras usam técnicas de prestidigitação para iludir, creio que o fenômeno possa ocorrer mas sem o controle de nossa vontade. É um fato irrefutável o que aconteceu conosco mas não lembro do mesmo ter se repetido mais tarde quando tentamos demonstrá-lo diante de outras pessoas. Outros fenômenos esporadicamente continuam ocorrendo comigo mas não que eu queira provocá-los, acontece quando eu menos espero. São raríssimos. Quero lembrar que o relógio funcionou por alguns meses até sumir do braço de minha mãe. Talvez tenha sido furtado. Tudo isso aconteceu quando Uri Gueller foi entrevistado no Jô Soares. Se ele é uma farsa eu sinceramente não sei mas sei o que aconteceu naquela noite com nossa família.

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