O Cérebro de Einstein

Per Arne Sandvik [@], publicado em Encyclopedia Obscura
Traduzido com sua gentil permissão

“Einstein me ensina tanto sobre o amor como sobre a ciência.
Paixão, amor e ciência.
Eu amo Albert Einstein.”

Há alguns meses meu professor de filmes de ciência anunciou que apresentaria um filme não-obrigatório depois de sua conferência. Quando você é um estudante, as palavras ‘não-obrigatório’ freqüentemente soam como ‘conversa para boi dormir’, e eu estava pronto para rejeitar a oportunidade. Mas assim que soube que era sobre um sujeito japonês buscando pelo cérebro de Einstein, eu decidi dar uma chance. Estava meio que esperando Buckaroo Banzai se encontra com Frankenstein no Japão. Mal sabia que este era um documentário, e que provaria ser muito mais estranho que a combinação acima jamais poderia ter sido. Este é “Einstein’s Brain“, o Cérebro de Einstein.

Meu professor havia visto este documentário em um festival de filmes, e alguns anos depois teve a sorte de saber que iria passar em um canal de TV sueco. Ele gravou o programa, eu pedi a fita emprestada e a copiei; a qualidade é péssima mas é a única cópia que pude encontrar. Logo decidi buscar alguma informação sobre o tema. Uma busca no Google resultou em seis páginas, sendo que apenas três estavam em inglês e apenas uma de fato descrevia o conteúdo em resumo. No imdb você achará um comentário de usuário. Esta é uma pedra preciosa rara pronta para ser esquecida completamente, e eu vejo como meu dever trazer a vocês a história da busca de um homem pelo que é, a seus olhos, o mais santo dos graais.

Uma pequena lição de história: Quando Albert Einstein morreu em 1955, seu cérebro foi extraído e doado ao Centro Médico de Princeton. Nenhum relatório foi escrito a respeito, e o cérebro famoso caiu na obscuridade.

Entra em cena o professor Kenji Sugimoto. Sugimoto dedicou trinta anos a estudar Einstein, e agora está pronto para fazer uma peregrinação para a terra prometida: Princeton, Nova Jérsei. Como ele acabou com uma equipe de documentário eu não sei, mas eles contrataram uma intérprete para os momentos em que o conhecimento do bom professor sobre o idioma inglês não bastam, e então eles partem.

Antes de seguirmos adiante, é importante que você saiba algumas coisas sobre a aparência e comportamento de Sugimoto. Em primeiro lugar, a palavra ‘CérebrodeEinstein’ surge pelo menos uma vez em cada frase sempre que ele abre a boca, e ele não tem nenhum receio de perguntar a estranhos aonde o CérebrodeEinstein está, como a maioria das pessoas perguntam o caminho para o McDonald’s mais próximo. Suas reações comuns para as respostas das pessoas são ‘ah, é’ ou ‘ha-hã’. Ele resmunga ou canta suavemente a ele mesmo em japonês todo o tempo. Ele é meio que um Ursinho Poof japonês com habilidades sociais bem menos que medíocres, apenas maior e com um cabelo maluco. Também, ‘cérebro’ em vez de ‘mel’.

Uma vez em Princeton, Sugimoto corre para os cérebros em exibição no centro médico. Ele confere uma vez, ele confere duas vezes, mas nenhum CérebrodeEinstein. Ele pergunta a um funcionário se ele poderia, por favor, mostrar onde o cérebro está, mas sem sorte. O cérebro está listado em registro, mas não pode ser achado. O professor expressa seu desapontamento exclamando ‘ha-hã’. Aparentemente o homem nomeado para pesquisar o cérebro, um doutor Thomas Harvey, não produziu um único relatório em cinco anos e foi demitido em 1960. Por alguma razão, ele levou o cérebro com ele quando partiu. Assim, enquanto este round estava perdido, ainda havia esperança; a Busca por Harvey começa.

Uma olhada rápida na lista telefônica revela que de fato há um Thomas Harvey vivendo nas proximidades. Ansioso por resultados, Sugimoto é transportado ao endereço listado. O dono da casa abre a porta. Sugimoto pergunta se ele é Thomas Harvey e se ele poderia, por favor, lhe mostrar o CérebrodeEinstein, sem notar que este homem não parece ser alguém que havia sido demitido ou mesmo nascido antes de 1960. Harvey sugere que o professor poderia estar procurando por um Thomas Harvey completamente diferente e o informa de que ele não tem o cérebro de ninguém. ‘Ah, é’ responde o professor, e ele segue para o executar ‘prano B’.

A fase um do plano B é viajar à Faculdade de Medicina Albert Einstein em Nova Iorque. Depois de comprar uma camiseta oficial de Einstein e de perguntar a um par de estudantes que encontram se eles têm algum interesse no CérebrodeEinstein, nosso protagonista começa a ir atrás de alguém que poderia ter qualquer informação útil sobre o paradeiro de Harvey.

O Dr. Harry Zimmermann informa ao professor que ele de fato tem o cérebro de Einstein ali mesmo em seu escritório. Esta é realmente uma boa notícia. Sugimoto mal pode esperar para colocar suas mãos na relíquia, o que é evidente. Não só ele começa a emitir estranhos sons ‘shhhaaaaw!’, ele também fica inquieto e suas mãos subitamente ficam coçando.

Mas o Dr. Zimmermann não está ainda pronto para exibir a matéria cinzenta; Primeiro, ele tem vontade de descrever a história do Centro Médico de Princeton em grande detalhe, sua memória de como Einstein era e uma longa história sobre a carreira dele. A frustração de Sugimoto fica mais e mais visível: Será que esse homem nunca irá calar a boca e responder à pergunta? Há algum modo de parar seu discurso sem fim? Finalmente, nosso professor consegue interromper e pedir pela quarta vez se ele poderia, por favor, ver o cérebro. ‘Sim, claro’ responde o doutor. Então ele não vai pegar o cérebro, mas relembra sobre como era trabalhar com o doutor Harvey, ignorando completamente seu convidado. Eu não acho que as pessoas visitam muito seu escritório.

Depois de uma longa e menos que fascinante história, Zimmermann tira uma caixa de sua estante. Tem uma distinta forma não-é-um-recipiente-de-cérebro. Aparentemente tudo que o doutor tem a oferecer é um par de seções transversais, cada com vinte mícrons de espessura. O doutor conta uma história sobre uma discussão que ele teve uma vez com seus colegas sobre se alguém poderia avaliar a inteligência de uma pessoa olhando para um cérebro e conta alguns fatos sobre uma neurologista alemã Nissl e como ela descobriu que uma pessoa poderia tingir células cerebrais para tornar as camadas e texturas diferentes claras e bem definidas. O professor não escuta nada, mas vasculha a caixa com todo o entusiasmo de uma criança percebendo que o presente de Natal que está desembrulhando é na realidade um par de meias.

Enquanto isto certamente fornece um quebra-galho, Sugimoto está longe de estar feliz com quatro gramas de cérebro. Ele estava pensando mais em quatro quilos. Mas Zimmermann sabem onde achar Harvey e o cérebro?

“Você sabe sobre Dr. Thomas Harvey? Dr. Thomas Harvey está… onde mora Dr. Thomas Harvey na América? Eu desejo conhecer Dr. Thomas Harvey. Eu desejo… visitar Dr. Thomas Harvey… Como adquirir informação sobre Dr. Thomas Harvey. Por favor diga-me a informação do Dr. Thomas Harvey.”

Acredito que Zimmermann é mais dado a falar do que ouvir, porque mesmo este caleidoscópio impressionante de perguntas sobre Thomas Harvey não foram o bastante para fazê-lo entender a pergunta. Ele sugere que Sugimoto escreva seu pedido em um pedaço de papel, mas a intérprete salva o dia. Bem, Zimmerman sabe que o Dr. Harvey teve uma esposa de quem que ele está agora divorciado, que ele viajou bastante depois do conflito com o centro médico, e muitos outros fatos sobre os quais Sugimoto não tem nenhum interesse. Finalmente, Zimmermann revela que Harvey morreu dois anos atrás e que o cérebro está cortado em pedaços minúsculos e espalhado pelo continente.

O professor Sugimoto está triste.

Recusando-se a se render, nosso herói encontra seu caminho para Washington DC, onde ele encontra o arquivo de Einstein no FBI. Infelizmente, 90% da informação está censurada e é secreta, e sua única pista revela ser apenas mais seções transversais. Está na hora de buscar conforto e forças. Está na hora de tirar os sapatos e escalar uma gigantesca estátua de Einstein.

Espere um pouco. E a família de Einstein? Seguramente ele deve ter alguns parentes vivos? Um pouco de pesquisa revela que há mesmo uma neta em Berkley, São Francisco. Ha-hã. Procurar na lista telefônica resulta em alguns becos sem saída, mas finalmente Sugimoto acerta o alvo e recebe uma confirmação. “Ah, é! Hhaah! Obrigado. Ô-Kei!”. Evelyn Einstein quer saber por que o professor a contatou. O professor a informa que ele está procurando CérebrodeEinstein. Evelyn Einstein o convida para visitá-la.

Conhecer Evelyn tem um efeito em nosso peregrino. Ele não pode sentar quieto, fica arranhando seus joelhos e suas mãos suam. Ele está a um passo de seu herói, seu ídolo. Este é um momento sagrado. Nós descobrimos que há alguma especulação sobre se Evelyn é a neta de Einstein, neta adotada ou mesmo filha. Então, ela deu algumas células de pele a um Dr. Boyd do leste. Aparentemente, ele tem um pedaço do cérebro para lhe proporcionar DNA.

E para o leste nós vamos. O Dr. Boyd pode confirmar que tem uma fatia do cérebro e que ele a obteve de uma instituição mental onde o Dr. Thomas Harvey em algum ponto trabalhou. Ele conta sobre o quão bobo se sentia de ligar para alguém do nada e pedir o cérebro de Einstein. O professor acena afirmativamente com a cabeça e evita contato visual.

O pedaço de Boyd foi enviado via FedEx de Lawrence, Kansas. Sugimoto decide viajar para lá e localizar a residência do falecido Dr. Harvey e… que diabos…? Harvey está vivo! E ele tem o cérebro quase inteiro armazenado em três jarras em seu armário! Que reviravolta inesperada e afortunada de eventos! Obviamente, Zimmermann priorizou a quantidade antes da qualidade quando forneceu informação. Se ele soubesse da frustração e decepção que causou ao pobre Kenji. E a alegria incrível que a contra-evidência forneceu. Calmamente, Sugimoto observa os pedaços de perto. Os mecanismos biológicos que mudaram tudo que nós pensamos que sabíamos sobre tempo, matéria e energia. O centro para as reflexões de um filósofo apaixonado. Um ícone e um ídolo para cientistas ao redor do mundo.

O cérebro de Einstein.

Humildemente, o professor pergunta se poderia quem sabe levar um pedaço com ele de volta para o Japão. ‘Claro, por que não’, Harvey responde, e caminha para a cozinha para buscar sua tábua de cortar pão e uma faca.

Harvey encontra um pote velho de pílulas para armazenar uma fatia e joga um pouco de formaldeído dentro. Sugimoto alcançou seu objetivo. Sua cruzada chegou a um fim. Como ele celebrará esta feliz ocasião? Do tradicional modo japonês, claro.

Ele entra em um bar, pede uma bebida, sobe no palco, apresenta o cérebro a cinqüenta fazendeiros do Kansas bêbados, e liga a máquina de karaokê. Os outros convidados gritam com alegria e levam seus pares para dançar e compartilhar o momento.

No dia seguinte, ele volta ao Japão de avião com o pedaço de cérebro colocado na bandeja em sua frente. É como o final do filme Hannibal, mas de um bom modo. Kenji Sugimoto vai para casa, e ele certamente terá muito sobre o que falar aos estudantes em sua próxima conferência.

E Thomas Harvey?

Ele foi eleito empregado do mês na metalúrgica Lawrence em sua nova posição como um aprendiz de extrusor.

Este texto ficou muito mais longo do que eu tinha planejado originalmente. Mas eu sei que se não tivesse percorrido todo o caminho com isto, estaria me chutando em um par de semanas. Este é um documentário maravilhoso. Enquanto o diretor (sobre o qual eu infelizmente não sei o nome) às vezes toque na comédia, nunca é feito para ridicularizar a pessoa sobre a qual o filme gira ao redor ou as pessoas que ele encontra em sua viagem. A abordagem e o material são provocativos, engraçados, doces, absurdos, poéticos e bem diferentes de qualquer outra coisa.

Agora que eu acompanhei Kenji Sugimoto em sua viagem nada menos que três vezes, devo dizer que é sem dúvida o documentário mais emocionante que já vi (e entre os mais perturbadores), e estou muito feliz de finalmente ter uma cópia. Eu provavelmente sempre terei um japonês psicótico resmungando em minha cabeça de agora em diante, e espero que você também tenha um dia. Se você tiver a chance de assistir Einstein’s Brain, aproveite a oportunidade com as duas mãos.

“Eu nasci em Nagasaki dois anos depois bomba. Einstein é feito responsável pela bomba, mas eu não o culpo.
Eu ainda amo Albert Einstein.”

– Kenji Sugimoto, epílogo,

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12 comentários sobre “O Cérebro de Einstein

  1. Demais a matéria!!!! Show mesmo!

    Incrível a capacidade humana de descartar o único. Isso se repete.

    Eu não estou conseguinte pegar o vídeo pelo keepvid, infelizmente…

    Curti demais o post…rs.. Fiquei na ansiedade que o vídeo passa, lendo o post…

  2. Esse texto é extremamente forçado e chato de ler.

    “…porque mesmo este caleidoscópio impressionante de perguntas…”

    Extremamente forçado e chato!

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