Como (não) desbancar mitos


Se você quiser desbancar um mito, você o cita claramente, e então mostra como é falso, certo? Certo. Mas o Washington Post publicou um excelente artigo (em inglês) detalhando pesquisas recentes mostrando que:

Negações e esclarecimentos, apesar de todo seu apelo intuitivo, paradoxalmente podem contribuir para a persistência de mitos populares … A repetição parece ser a principal culpada. Coisas repetidas com freqüência tendem a ser mais acessíveis à memória, e uma das regras de funcionamento do cérebro é a de que coisas facilmente lembradas são verdadeiras …
Experimentos por Ruth Mayo, psicóloga social cognitiva da Hebrew University em Jerusalém, também mostraram que para uma porção significativa das pessoas, o “rótulo de negação” de uma negativa desvenasce com o tempo.

Isto é, ao citar um mito, ainda que para contrariá-lo, você ajuda a promovê-lo. A resposta seria então o silêncio?

Infelizmente, a resposta a essa questão também parece ser não. Outro estudo recente descobriu que quando acusações ou afirmações são recebidas com silência, é mais provável que sejam percebidas como verdadeiras.

Uma solução possível seria…

Mayo notou que ao invés de negar uma alegação falsa, é melhor fazer uma afirmação completamente nova que não faça referência ao mito original.

Mas a pesquisadore também reconheceu que a afirmação nova pode acabar sendo inacurada de certa forma, uma vez que busca negar algo sem ao menos mencioná-lo, e pode não ser uma alternativa em alguns casos.
Infelizmente, tais estudos reforçam que a informação voltada ao público em geral deve ser cuidadosamente construída. A ponto de que os detalhes e minúcias de uma questão podem bem acabar sendo impossíveis de abordar de forma ampla. Os estudos, originais em inglês no formato PDF, podem ser baixados aqui, aqui e aqui.
[via Museum of Hoaxes, Anomalist, Metafilter]

0 comentário em “Como (não) desbancar mitos

  1. Caro Mori,
    Excelente texto\reprodução. Não baixei ainda os arquivos, mas parecem ser bons pelo que vi aqui.
    Podemos adicionar que, além desses cuidados, é importante que o autor que se propõe a (tentar) destruir um mito (se for mesmo um mito), deve estudar de forma profunda o assunto, ponderar muito a respeito, consultar a “oposição” (por assim dizer, até para ter uma base mais sólida em suas conclusões), tentar analizar o assunto o considerando como um todo e não apenas se prendendo a detalhes.
    Assim se evita duas coisas: 1) Que o mito (no caso de ser mesmo mito) se perpetue pela PRECIPITAÇÃO do autor em publicações pouco fundamentadas, ou 2) No caso de não ser um mito, e o autor querer desbancá-lo assim mesmo, ele o fortalecerá (o que é bom, ao menos à quem busca a verdade, mas nem todos tem esse interesse – mesmo assim não estou criticando estes).
    Artigos com conteúdos fracos reforçam a idéia contrária, seja ela verdadeira ou não, portanto se buscamos a verdade, sejamos cuidadosos, para não influenciar a opinião de outras pessoas a idéias errôneas, lembremos de nossas responsabilidades ao exprimir uma idéia, quais serão seus reflexos, quanta responsabilidade e tato temos que ter para evitarmos de ser tendenciosos, arrogantes, crentes cégos, místicos, etc. Tenhamos o cuidado de não achar que temos tanta razão que o que parece ser bom para nós tem que ser bom para o próximo, evitando desrespeitar o estado atual de evolução intelectual e moral do próximo.
    Devemos todos tentar buscar a neutralidade na busca da verdade, desentendimentos à parte, alguns tiveram a corajem para tal, como disse um dia Allan Kardec: “Entre Ciência e Espiritismo, fique com a ciência”, seja como for, uma atitude corajosa e respeitável, por não forçar o homem a idéias pré-concebidas, libertando-o.
    Abraços e ótimo feriado aos amigos do site,

  2. Referente a citação do caro bloguista, a respeito da afirmativa de Allan Kardec, “Entre Ciências e Espiritismo, fique com a ciência”, poderia dar-me mais informações? Por exemplo, em qual obra ele assim se pronunciou, capítulo e página.
    Achei deveras interessante a abordagem e em se confirmando a afirmação curta e seca, como aqui postada, é tema para muita reflexão.

  3. Caro Carlos,
    Acho que a frase é de alguma edição da “Revisa Espírita” (da época em que Kardec era vivo), não me lembro o número, vou tentar pesquisar melhor. Essa frase é bem conhecida no meio espírita, me lembro quando frequentava um grupo jovem de espiritismo – quando era jovem, uns 10 anos atráz :-)
    Veja outras frases de Allan Kardec (com referências), na Wikiquote “http://pt.wikiquote.org/wiki/Allan_Kardec”:
    1.
    “Se a religião recusa caminhar com a ciência, a ciência avança sozinha.”
    2.
    “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ela a aceitará.”
    3.
    “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade.”
    4.
    “A educação, se bem compreendida, é a chave do progresso moral.”
    5.
    “Para responder, desde agora e sumariamente, à questão formulada no título deste opúsculo, nós diremos que: O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.”
    Há muitas outras citações, no próprio Livro dos Espíritos:
    147. Por que é que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a ciência da Natureza, são, com tanta freqüência, levados ao materialismo?
    “O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto.”
    Abraços,

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