Sexo tem vantagens evolutivas

A maioria dos seres vivos precisa de um parceiro para se reproduzir, mas os benefícios da reprodução sexual ainda intrigam os cientistas
Para que serve o sexo? “É uma forma de “limpar” o genoma”, explica o biólogo português Ricardo Azevedo, da Universidade de Houston (EUA), resumindo as conclusões de um estudo sobre reprodução sexual que hoje publica na revista Nature. A investigação comprova a existência de vantagens do sexo como forma de reprodução e revela que este conduz a uma maior robustez genética, ao mesmo tempo que favorece a sobrevivência e reprodução dos mais aptos. A razão pela qual o sexo surgiu e se tem mantido como sistema de reprodução da maioria dos seres vivos intriga muitos biólogos. A questão, explica Ricardo Azevedo, é que o sexo reprodutivo tem aparentemente muitas desvantagens face à reprodução assexuada: “A taxa de reprodução per capita de uma população assexuada composta inteiramente por fêmeas é o dobro da de uma população sexuada composta por machos e fêmeas”, exemplifica. Por outro lado, a procura de um parceiro sexual implica desperdício de tempo e energia. Há indivíduos que nuncase conseguem reproduzir, além do perigo das doenças sexualmente transmissíveis.Os cientistas tinham já apontado várias hipóteses para as vantagens evolutivas de combinar o património genético do macho e da fêmea. O estudo de Ricardo Azevedo foi, contudo, o primeiro a comprovar uma teoria segundo a qual o sexoorigina uma maior resistência a mutações genéticas. “A nossa primeira conclusão éque a reprodução sexuada selecciona para uma maior robustez genética. Isto nunca havia sido testado.” Para além disso, a investigação foi pioneira ao associar à robustez genética o fenómeno de epistasia negativa, que se caracteriza pela acumulação de mutações desfavoráveis num indivíduo. A acumulação destas mutações (a que os biólogos chamam deletérias) dá origem a indivíduos de património genético mais fraco, com menos possibilidades de sobrevivência e de reprodução. O estudo, concebido pelo cientista português e pela investigadora Christina Burch, da Universidade da Carolina do Norte, recorreu a modelos computacionais. “A intenção era usar um sistema genético simples, mas bem conhecido, com tempo de geração rápido. Infelizmente, não há um sistema experimental vivo com estas características ao nosso dispor”, esclarece Ricardo Azevedo. A opção acabou por ser uma abordagem completamente informática.”Com a rapidez dos computadores actuais foi possível simular experiências que são a inveja de qualquer experimentalista.”
Público (Quinta, 2 de Março de 2006) [Fonte, em PDF]

Você pode conferir o sumário aqui, e o artigo completo aqui (em PDF), ambos — em inglês — da página de Azevedo. Ele também lista links sobre o estudo em seu sítio online.

Um mês antes, outro estudo publicado na Science apontava que:

A reprodução sexual, segundo a pesquisa feita com pulgas d’água (Daphinia pulex), é vital para que o desenvolvimento genético possa ser normal ao longo das gerações.
Os pesquisadores da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, conseguiram identificar a reprodução assexuada, também presente no grupo estudado, que é aquático, como sendo muito mais prejudicial para esse pequenos crustáceos em termos de transmissão dos caracteres genéticos para a prole.
Na hipótese de que não existisse sexo entre as Daphinia, e apenas reprodução partenogênica, isto é, sem a fusão de gametas, as chances de ocorrer mutações deletérias na espécie seriam pelo menos quatro vezes mais. A reprodução sexual, portanto, permite que o balanço genético entre as gerações seja mais estável.
Para Rasmus Nielsen, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, que comentou o trabalho em outro texto na mesma edição da Science, a recombinação genética proporcionada pelo sexo faz com que a seleção natural trabalhe de forma mais eficiente. Charles Darwin agradece. O artigo Transitions to asexuality result in excess amino acid substitutions, de S. Paland e M. Lynch, pode ser lido no site da Science, em www.sciencemag.org.
[Fonte: Agência FAPESP]

Ambos estudos foram indicados nesta matéria de Faye Flam, que os aborda do ponto de vista da exobiologia. Tornam mais plausível, talvez mesmo provável, que seres extraterrestres tenham — e façam! — sexo.

Do ponto de vista da ufologia, as coisas são mais complicadas: os Greys não têm sexo, mas são obcecados por fazer sexo através de instrumentos de sadomasoquismo. Não faz sentido, mas é claro que um bom ufólogo alienista rapidamente se valerá destes dois novos estudos científicos para partir para partir para a ficção pseudocientífica. Como vêm dizendo, os Greys têm seu genoma deteriorado e precisam abduzir humanos em uma enorme obra de engenharia genética para salvar sua espécie. Os novos estudos fornecem os detalhes aos alienistas de que o genoma alien se deteriorou por causa de sua reprodução assexuada. Não muito diferente do que já vinham dizendo, em termos gerais, mas também não muito diferente dos marcianos de HG Wells vindos de seu mundo agonizante.

6 comentários sobre “Sexo tem vantagens evolutivas

  1. Antes de mais quero agradecer o produtor pelo esforço desempenhado no tema, sinceramente não fui esclecido as minhas dúvidas.
    na verdade eu queria saber se: o sexo faz algum mal a saúde?

  2. O estudo realizado pelo pesquisador Ricardo Azevedo tem sua relevância, principalmente por esclarecer, os motivos benéficos pelos quais, a reprodução sexual foi conservada no processo evolutivo das espécies. Para que a reprodução sexual fosse conservada, alélos favoráveis também foram conservados, proporcionando a ausência de expressão de alélos deletérios. No testo o autor define como prover a robustez do genoma.

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