Ventilador transformista: uma reavaliação


A saga começou em maio, e seguiu em seu rumo, passando até junho e… julho. Deixamos de comentar a história na expectativa de que confirmasse, como apostávamos, ser uma campanha de marketing viral para o filme Transformers. Bem, estávamos errados. O filme estreou há quase um mês, e até agora nenhuma confirmação, nenhuma ligação, nada. Não era uma campanha de marketing para o filme, e tudo sugere (apostamos!) que não promove nenhum outro produto. Falhamos em perceber que o ventilador transformista é uma saga completa em si mesma.
Seu último desenvolvimento foi a liberação na internet de um conjunto de documentos e imagens artisticamente fascinante, ainda que cientificamente sofrível. Confira por si mesmo: My Experience with the CARET Program and Extra-Terrestrial Technology. É uma história rocambolesca, e os “documentos” são bem produzidos. Não contêm erros de ortografia ou gramática, e até agora nenhum erro grosseiro que permitisse denunciar a fraude. Não que isso diga muito: apesar de várias páginas de texto, não se diz muita coisa de concreto, não se esboçam equações, dados, nada. Apenas uma série de idéias e histórias. Mas pelo menos essas são curiosas.
Há muitas implicações e idéias envolvidas em tais documentos “PACL-CARET”. CARET, por exemplo, supostamente uma sigla para “Commercial Applications Research for Extra-terrestrial Technology” [Aplicações Comerciais Pesquisa para Tecnologia Extraterrestre], soa muito como CARROT, ou a cenoura, que pode mover um burro quando pendurada à sua frente (esta não é uma sugestão original minha, não se ofendam). Menos ofensivamente, “CARET” é também o nome em inglês no código ASCII para nosso familiar acento circunflexo, e se você conferir os documentos e verificar o logotipo CARET, notará que a referência é óbvia. Incidentalmente, o logotipo que lembra um circunflexo também lembra o símbolo descrito por Lonnie Zamora.
“PACL” é uma referência, como os próprios documentos contam, ao PARC — Palo Alto Research Center –, o centro de pesquisas da Xerox que inventou entre outras coisas a interface gráfica para computadores que você e todo o resto do mundo utiliza neste exato momento (que “inspirou” tanto a Microsoft quanto a Apple). Segundo a historinha, os militares americanos criaram um projeto de pesquisa e desenvolvimento nos moldes dos centros de pesquisa do Vale do Silício, estabelecendo inclusive um centro de engenharia reversa em Palo Alto, aonde “Isaac”, o autor que nos revela tais informações teria trabalhado.
A história vai além. Segundo “Isaac”, a tecnologia alienígena funciona manipulando campos gravitacionais. Isso não é nada criativo, o que é remotamente interessante e novo (ao menos na ufologia, embora não na ficção científica) é a idéia de que manipulando tais campos, os dispositivos extraterrestres seriam compostos de elementos separados especialmente que ainda agiriam como se fossem um só. A própria estrutura das naves seria garantida por tais campos.

Na imagem acima, por exemplo, os dois segmentos semi-circulares aos lados estão de fato flutuando. De acordo com os documentos CARET, é porque estariam em uma “RSR” (“Relação Especial Rígida”), comportando-se como se estivessem ligados estruturalmente por algum material, quando tal ligação seria em verdade apenas de campos gravitacionais. Isso explica porque as imagens do ventilador transformista gradualmente se tornaram mais implausíveis estruturalmente, com anéis e painéis distantes entre si. Conceito muito interessante, embora não seja original — exatamente o mesmo conceito é descrito, por exemplo, nas naves de Terminus em “Foundation’s Edge” de Isaac Asimov, 1982, lidando com a “gravítica”.
Há mais em CARET. Conta-se que os estranhos glifos sobre o ventilador transformista não seriam legendas ou instruções a serem lidas, mas em verdade uma espécie de código mágico capaz de programar e controlar o funcionamento das partes sobre as quais estão escritos. Lembra-se da lenda de Golem, o boneco de barro que adquire vida quando alguns caracteres são inscritos em sua testa? Então, os ventiladores transformistas CARET funcionariam mais ou menos da mesma forma. Foi criativo aplicar esta lenda milenar à ufologia. Entusiastas de círculos nas plantações, por exemplo, podem entrar em êxtase comparando os supostos diagramas mágicos CARET com seus glifos criados por circlemakers. São esteticamente belos, deve-se notar.

Em tudo isso, nem comentei como tudo isso é apenas uma fraude elaborada. Desde o primeiro post, notamos como uma das imagens tinha um defeito crasso, em que parte do ventilador tinha exatamente a mesma cor do céu. E a opinião unânime de especialistas em computação gráfica é a de que tais imagens podem sim ser facilmente forjadas. Para tanto, basta conferir a imagem que inicia este post. Ela não é parte da série “oficial” do ventilador transformista, é uma recriação admitidamente feita em computador por um artista chamado “saladfingers123456”. Confira o original aqui. Ele também criou diversos vídeos do ventilador que foram confundidos por reais no Youtube, ainda que tenha incluído um ferro de passar voador entre eles.
Há até um detalhe interessante aqui. O autor, ou autores, da fraude não aceitam uma das imagens do drone. No website de Isaac, você verá as imagens do ventilador divulgadas desde maio deste ano. Mas não verá uma outra imagem, supostamente de maio de 2006 (ainda que enviada apenas em maio de 2007). Essa imagem, além de vir do Alabama (e não da Califórnia, origem de todas as outras), também tem uma qualidade diferente. Embora haja uma vaga semelhança, parece muito mais claramente uma fraude digital. Desde o início suspeitamos que ela teria sido criada por outra pessoa não relacionada com a fraude do ventilador transformista, e os responsáveis pelo ventilador transformista realmente não a incluíram em sua última cartada com os documentos CARET. Aliás, caso haja dúvidas de que uma mesma pessoa ou grupo esteja por trás de tudo isso — o que é muito razoável, este poderia ser um fenômeno espontâneo no qual vários artistas participariam sem organização ou planejamento — a idéia acaba caindo por terra quando se nota que os últimos documentos CARET enlaçam todas as imagens do ventilador transformista, tanto incluindo imagens detalhadas de suas partes, como exibindo diagramas que estão estampados na face dos ventiladores.
Muito se perguntam se uma, ou várias pessoas, dedicariam tanto trabalho a uma fraude. Poderíamos listar vários exemplos de fraudes ainda mais elaboradas, incluindo mesmo a infame campanha de marketing de Gollum, mas Razimus de SpaceTimeNews notou um caso especialmente relevante à saga do ventilador transformista. É a saga de John Titor, viajante do tempo, um mito popular principalmente nos EUA (com suas previsões de guerra civil e afins), mas pouco conhecido no Brasil. Razimus chega mesmo a comparar as duas fraudes e sugerir que os mesmos autores estariam por trás de tudo. O objetivo? Ganhar dinheiro vendendo merchandising com esses mitos nunca confessos como fraudes por seus autores. Você pode comprar camisetas e o livro de Titor aqui. Em breve, talvez também do ventilador transformista.
Atualização: Na verdade, você já pode comprar produtos da linha CARET, de camisetas, a canecas e mousepads. Promovido no OpenMindsForum, indicado por saladfingers123456. Razimus sugere que saladfingers é de fato um dos responsáveis pela fraude. Ele é muito rápido em reproduzir as façanhas do ventilador transformista. Mas então, possivelmente nunca saberemos ao certo.

7 comentários sobre “Ventilador transformista: uma reavaliação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *