A Ameaça da "Meleca" Alienígena

por Martin Kottmeyer, publicado no REALL News em julho/93

Como se a vida já não fosse suficientemente boba, UFOlogistas estão nos advertindo que extraterrestres estão voando por aí e enfiando coisas nos narizes das pessoas. Nós todos sabemos que extraterrestres devem ser diferentes, mas quem esperaria que eles fossem tão "nerds" assim? Em se tratando de acreditar nesta alegação, suspeitaríamos que até o velho Ripley deveria parar e dizer "NÃO!". [NdoT: Uma referência a Robert Ripley, criador da série "Acredite… se quiser", no original "Acredite… ou não!" (Believe it… or not!)]
Tais alegações existem, entretanto, e têm se tornado mais numerosas nos últimos anos. Forte incredulidade pode ser a resposta apropriada, mas minha dúvida tomou a forma de imaginar como tal noção surgiu.
Pareceu que os UFOlogistas não plantaram a idéia na mente dos que fazem tais alegações. Os comentários dos UFOlogistas expressam perplexidade. Controle da mente foi a primeira sugestão, mas David Jacobs agora inclui pelo menos quatro outras possibilidades em sua discussão em "A Vida Secreta". Eles podem ser dispositivos de rastreamento. Eles podem monitorar níveis de hormônios no corpo. Eles podem ser transdutores para facilitar a comunicação alien-humana. Eles podem gerar mudanças moleculares necessárias para transportar humanos através de paredes.
Sem dúvida, há caminhos futuros a ser explorados. Alguns que me ocorrem: eles são "melecas" industriais desenhadas para colher elixires bioquímicos únicos às secreções nasais humanas; eles são trocas de "melecas" que significam um sinal olfativo de irmandade cósmica (não irmãos de sangue mas irmãos de meleca); ou eles podem ser um ritual de iniciação transcultural necessário como uma formalidade legal antes que qualquer pessoa de sua sociedade converse com outros.
Os problemas comuns a todas essas sugestões é que implantes nasais seriam potencialmente fatais a seus hospedeiros. As passagens nasais são ambientes notoriamente sépticos. Nenhum cirurgião iria permitir tais procedimentos. Eles são impossibilidades exigindo que sejam tratados como fantasia.
Uma dificuldade específica à idéia de que implantes são dispositivos de controle da mente é que implantes foram testados e largamente abandonados por neurologistas. Os primeiros experimentos com sondas elétricas no cérebro provocavam certos pensamentos e sensações que pareceram abrir a possibilidade de que eletrodos implantados poderiam um dia ser usados para controlar o comportamento, esperançosamente para inibir impulsos violentos.
Wilder Penfield, o pioneiro nesses estudos, chegou a uma conclusão diferente baseado no que ele estava vendo. Comportamento condicionado nunca estava presente e o cérebro tinha a habilidade de redirecionar impulsos e reaprender comportamentos quando o tecido cerebral era removido. Ele declarou o controle da mente uma impossibilidade.
Outros estudiosos, inspirados pelo estudo de implante animal, dramaticamente demonstrado por Delgado em uma arena de touros, continuaram a tentar desenvolver a tecnologia para implantes cerebrais em humanos. Elliot Valenstein, revisando de forma crítica o trabalho anterior em Controle do Cérebro 1975, sugeriu que o trabalho de Delgado envolve confusão animal ao invés de controle e declarou que os obstáculos a avanços ou refinamentos adicionais eram de um tipo fundamental implícitos à flexibilidade neurológica da função cerebral. Penfield estava certo. Implantes tinham pouco ou nenhum valor prático.
Implantes cerebrais eram uma idéia deliciosamente pérfida demais a ignorar, e Hollywood a usou mais de uma vez em seus produtos. O ponto alto da exploração da idéia foi "The Terminal Man" (1973). Um homem é implantado com uma série de eletrodos para ajudar a inibir suas tendências psicopatas. Infelizmente, os centros de prazer são ativados de forma que o levam a um festival de matança. Muito antes disso, extraterrestres estavam forçando humanos a praticar sabotagem já em "Invasores de Marte" (1953) e "Battle in Outer Space" (1960). No primeiro, as vítimas eram colocadas inconscientes em uma mesa de operação enquanto um dispositivo como uma agulha forçava um implante explosivo na nuca. No último, um homem está dirigindo seu carro quando um raio de luz estroboscópica o circunda enquanto extraterrestres implantam um dispositivo de controle por rádio dizendo-lhe que ele se tornou o novo escravo de seu glorioso planeta. Ele então vivencia um tempo perdido e se encontra bloqueando o tráfego da cidade com uma cópia lhe dizendo que sua testa está sangrando. 
Eu pensei por um tempo se um episódio de "The Outer Space" entitulado "The Man with the Power" poderia ser a influência que originou a moda dos implantes. Um sujeito com aspecto de rato interpretado por Donald Pleasance se oferece para ter um pequeno dispositivo chamado "link-gate" implantado em seu cérebro. Ele é implantado em cima de seu nariz com a intenção de focalizar energia cósmica na forma de super-psicocinese. Raimond Fowler notou que uma testemunha UFO anônima que ele conhecia ouviu de um alien que um implante colocado no lado de seu corpo iria, assim se esperava, resultar em melhor comunicação e poder. Eu não conheço nenhum outro exemplo de implantes sendo associados a poder. Nenhuma dessas novelas de implantes, entretanto, envolveu dispositivos sendo enfiados no nariz de alguém. (Bem, na verdade há "O Vingador do Futuro" e aquele hilário implante grande sendo puxado do nariz, mas isso é muito recente para ser uma influência).
Por que tal meio de inserção tão bizarro sendo relatado por abduzidos? Um Freudiano poderia sugerir que seria uma forma de "deslocamento". Sonhos freqüentemente transformam eventos de formas surreais. Talvez seja alguma forma de transmutação da relação sexual. Ernest Taves sugeriu tal possibilidade no Skeptical Inquirer de 1979-80, mas eu não eu não a aceitei porque as emoções associadas não parecem estar de acordo com tal interpretação, pelo menos não com o caso de implante nasal de Andreasson.
O acaso entrou em cena para resolver a confusão com um erro de Phil Klass [do CSICOP]. Discutindo a recente adição ao rol de implantes nasais, ele assegurou que [o autor Budd] Hopkins nunca mencionou implantes nasais em seus livros e que [o autor Whitley] Strieber pareceu começar tudo. Eu estava certo de que ele estava errado e comecei a reler Hopkins para refrescar minha memória sobre os detalhes. Eu logo descobri que a primeira pessoa a alegar implantes nasais foi Sandra Larson. Pegando minha cópia antiga de Abducted! para verificar a pesquisa de Hopkins, eu encontrei o enigma instantaneamente resolvido. 
Tudo começou em uma sessão de hipnose datada de 17 de janeiro de 1976, quando Larson revelou um relato de múmia espacial (como o clássico Pascagoula três anos antes) realizando uma operação que fez algo a seu cérebro. Durante essa operação, um instrumento descrito como "parecido com uma pequena faca ou extensão de algodão" raspou o interior de seu nariz e o fez doer. O importante é que os investigadores notam, em parênteses, que pouco antes de sua experiência UFO, Larson sofreu uma operação similar para um problema nasal. Foi bastante dolorosa, e ela deveria sofrer tratamento adicional mas ela preferiu não ir. Agora as coisas começam a se encaixar. A regressão foi uma reciclagem de seus medos sobre sua condição nasal e seu tratamento médico.
A história de Larson ap
areceu impressa em 1977 em um livro vendido em massa dos Lorenzens. Nós rapidamente vemos o próximo implante nasal surgir na sessão de hipnose datada de 18 de junho de 1977 envolvendo Betty Andreasson. Andreasson revive a operação nasal de Larson com suficiente fidelidade para transformar a extensão de algodão levemente com uma pequena bola com pequenas pontas. Ela adiciona um elemento de solidez ao evento ao incluir um desenho do instrumento.
Raymond Fowler aponta para a semelhança do relato de Andreasson ao de Larson e, depois, admite que a familiaridade de Betty com "literatura UFO não-crítica" poderia explicar paralelos como esse. A única refutação de Fowler é que a história de Andreasson em sua totalidade contém paralelos a muitos casos diferentes, alguns bem obscuros, e no geral há "similaridades demais" para atribuir tudo à "criptoamnésia". É interessante observar que Fowler não diz nada sobre a operação nasal pré-UFO de Larson. Essa omissão também é notável na discussão de Budd Hopkins de implantes nasais em "Missing Time" (pp. 208-9, 217) e Intruders (pp. 58-9).
As editoras rotineiramente incluem pequenas doses de desinformação em seus livros para pegar plagiadores. Um plagiador pode atribuir similaridades entre textos a uma parcela comum de conhecimento. Tais defesas não existem se erros particulares também são repetidos. O fenômeno de implantes nasais é uma prova muito boa da natureza cultural dos relatos de abdução, já que constitui uma impressão digital de material emprestado com tanta certeza quanto um plagiador repetindo uma data de nascimento errada de um presidente. A operação nasal alien de Larson é facilmente entendida como um artefato fantástico de regressão hipnótica – um erro bizarro. Ao recorrer caso após caso de abdução alien – Betty Andreasson, Meagan Elliot, Virginia Horton, Kathie Davis, Linda Napolitano, Jennifer e muitos outros desconhecidos – ela serve como uma demonstração especial de que a repetição de um tema pode constituir apenas a repetição do que outros disseram e não a corroboração da materialidade real da ameaça de aliens furtivos.
A prova estava bem debaixo de nossos narizes.

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