O Garadiávolo

A imagem certamente não é das melhores, e a estranha criatura tem aparência tão horrível que foi batizada de Garadiávolo ““ a face do demônio.

A história associada ao ser não deixa por menos. Alfredo Garcia Garamendi explorava a Laguna Negra em Porto Rico quando foi atacado por um deles, que apesar de seu tamanho ““ pouco mais de três pés ““ possuía uma força sobrenatural. “Atirei nele com meu arpão” Garamendi contou depois, “mas ainda assim o animal rapidamente voltou a me atacar pelo pescoço, e eu senti que começava a me estrangular com sua cauda. Então pude alcançar a faca que levava na perna e comecei a apunhalar o animal até que senti que ficou flácido ao redor de meu pescoço, porque já estava morto”.

A aterrorizante luta ocorrida em 1974 não era a primeira. O mesmo Garamendi já havia conseguido capturar um ser desta espécie um pouco menor quatro anos antes, mas naquela vez as coisas não terminaram tão bem. Não tanto para sua integridade física, mas para o que seria seu interesse científico. Ele enviara a criatura para análise na Universidade Central de San Juan. Depois, quando recebeu a criatura de volta, foi visitado por homens da CIA que exigiram levá-la. Não se soube mais dela.

Mais cuidadoso agora, Alfredo Garamendi resolveu conservar e estudar o espécime capturado em sua casa. Ele escreveu um livro sobre o tema, ilustrando por si mesmo as criaturas no mar junto de discos voadores, porém não acredita que “venham de outro planeta”, e sim “de outra dimensão”. Com que objetivo? “Talvez pelo mesmo motivos que tenhamos para algum dia enviar macacos e outros animais a outros mundos, para ver como sobrevivem no ambiente estranho”.

Os estranhos eventos não terminaram aí. A esposa de Garamendi não apreciava a presença da criatura, ainda que morta, em sua casa. Não só porque seu marido estudava o ser por longas horas, ou mesmo pelas visitas de jornalistas e curiosos, mas por uma série de eventos infelizes que ocorreram na família desde que abrigaram o Garadiávolo. Por fim, houve uma explosão e do segundo espécime conservado só restaram cinzas.

Afinal, o que são os Garadiávolos? Bem poderiam ser apenas modelos de plástico ou borracha acompanhados de histórias rocambolescas simplesmente inventadas ““ incluindo agentes da CIA e evidências explodindo. Mas o caso é mais interessante que isto: os animais são reais. O pequeno detalhe é que não são realmente “Garadiávolos”, seres espaciais ou aberrações genéticas. Nem mesmo são Chupacabras (!).

O pesquisador mexicano Luis Ruiz Noguez, autor do livro “100 fotos de Extraterrestres”, aborda o tema entre muitos outros envolvendo supostas criaturas fantásticas. E resulta que os Garadiávolos são peixes achatados comuns como raias e peixes-morcego, que são estripados, cortados e secos para ficar com uma bizarra aparência humanóide. A parte inferior de raias vivas já aparenta uma espécie de “˜rosto”™, onde os aparentes olhos são em verdade as narinas do peixe. Pode-se amarrar um barbante logo abaixo desse rosto aparente para definir a cabeça. O resto do corpo é cortado em pontos estratégicos, que com a secagem se assemelham a apêndices como braços e pernas. Por fim, comumente se cobre a criatura terminada com verniz para conservá-la melhor e evitar o mau cheiro.


Raia em um aquário. As narinas parecem olhos de um rosto, aqui simpático inclusive.


Garadiávolo em exposição no Museu Australiano na mostra “Raias e Jenny Hanivers” em maio e junho de 2002 (link)

Esta confecção de “˜Garadiávolos”™ a partir de peixes não é exclusividade de Alfredo Garamendi, e pescadores vendem Garadiávolos a turistas. Ocasionalmente as intrigantes criaturas são anunciadas novamente como inexplicadas, principalmente quando os pescadores que as vendem não contam muito bem de onde vieram ““ ou melhor, como foram feitas. Mas este também não é um truque recente.

Há um nome antigo para criaturas como o “˜Garadiávolo”™. Não se sabe muito bem de onde surgiu, e talvez se relacione com o nome em francês para a Antuérpia ““ Anvers ““ onde tais quimeras foram vendidas. Conhecidos como Jenny Hanivers, filhotes de dragões e basiliscos foram artigos um tanto populares nos séculos dezesseis e dezessete, forjados em países do Oriente como os Garadiávolos hoje: a partir de peixes planos. Por volta de 1580, o francês Ambroise Paré escreveu em Des Monstres sobre um peixe voador ou águia do mar, considerado hoje como uma Jenny Haniver, curiosamente muito similar ao Garadiávolo.


Jenny Haniver descrita por Ambroise Paré no século XVI (link)

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Saiba mais

– ‘100 Fotos de Extraterrestres‘, Luis Ruiz Noguez (Editorial Mina, 1996), aborda em datelhe este e muitos outros casos. Pode ser adquirido com o autor através do email[email protected].
Batfish – Ogcocephalus cubifrons– Com boas imagens do peixe-morcego. Aliás, o peixe-morcego também habita as costas brasileiras.

2 comentários sobre “O Garadiávolo

  1. A fonte tá optima.Há uma foto mais realista do bicho aí na internet,podia tar aqui.A fonte tá optima porque explica o caso detalhadamente,verdade ou nao.

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