O "OSNI" de Punta Arenas

por Manuel Borraz / Diego Zúñiga, original em La Nave de los Locos
sob o título original ‘El Espejismo de Punta Arenas’

Em 2 de março de 2002 o noticiário central da Televisión Nacional de Chile exibiu um vídeo que, em aparência, merecia um espaço entre as informações mais importantes do país. Se tratava de um “OVNI” -que, ironicamente, nunca voou- filmado no setor de San Gregorio, distante a uns 120 quilômetros ao norte de Punta Arenas, XII região de Chile, e que no mapa da esquerda está encerrado no círculo negro.

A noticia emocionou, como sempre, a boa parte dos ufólogos locais, e se difundiu rapidamente pela Internet, gerando algum grau de dúvida entre os mais céticos e desmesurada paixão entre os que “procuram pela Verdade”, que já falavam da “prova irrefutável” do “OSNI” ou sobre “Eles, que estão aqui”.

Um pouco de calma, algo de tempo, uma pitada de bom-senso, conhecimentos básicos de óptica e as consultas pertinentes ao perito indicado levaram o investigador espanhol Manuel Borraz, o terror dos “inexplicados”, a encontrar uma solução racional e muito mais econômica que a extraterrestre no caso em questão.

Ao conhecer-se a história e seus pormenores, traçamos de forma imediata a hipótese do “espelhismo superior”, que é muito similar aos espelhismos que se vêem nos desertos, mas com a imagem “fantasma” refletida por cima. O certo é que se trata de uma casualidade, pois o fenômeno -que não é incomum- teria passado inadvertido se não fosse porque havia um barco ou uma plataforma no local (o “OVNI” flutuante…) e sua imagem desfigurada chamou a atenção das testemunhas que o gravaram em vídeo.

Juntamos algumas ilustrações um pouco miseráveis quanto à qualidade, para comentar detalhes. Por exemplo, 1 e 2 (acima) são ampliações do “OFNI” (Objeto Flutuante Não Identificado) tal como foi captado às 3:54:09 e 3:56:48 PM, respectivamente. Nós as tomamos do site deAION-Chile.

Ali veremos que por debaixo da linha vermelha adicionada a imagem seria real, e mostraria a parte inferior do casco de um barco (ou plataforma). Por cima da dita linha teríamos uma imagem refletida, invertida, fruto do espelhismo.

É importante destacar que a imagem 2 não é simplesmente a imagem 1 com o “OFNI” mais afundado na água. A imagem 2 pode ser reconstruída a partir da 1 sem nada mais que variar as condições do espelhismo, como foi feito na figura 3, onde situamos a linha de referência mais próxima da linha de flutuação do barco (abaixo).

Cabe apontar que em nenhuma das imagens que vimos chega a aparecer o barco completo, embora não descartamos que isto ocorra em algum momento ao longo do vídeo original, ao qual infelizmente não obtivemos acesso. Mesmo assim, esta análise provisória serve apenas como prefácio a um estudo mais detalhado do mesmo, ainda se vislumbra como a explicação definitiva do caso.

A ilustração final procede de Weather phenomenon and elements e mostra um espelhismo superior típico. A escala está muito exagerada para tornar a imagem inteligível. A existência de camadas de ar mais quente que o da camada inferior faz com que os raios de luz se curvem, como se se tratasse de um “espelho” suspenso no ar (abaixo).

Em nosso exemplo, a situação não seria exatamente a representada. A imagem do barco invertido em suspensão sobre a imagem real estaria praticamente sobreposta a esta última.

Não podemos esquecer uma declaração do comandante Juan Pablo Barros, quem no site de Ovnivisión notou que, devido às condições do Estreito de Magalhães, se produzem muitos efeitos ópticos inexplicados pela ciência. Será bom indicar ao senhor Barros que os fenômenos ópticos não são nenhum mistério científico. Algo disso fica claro neste texto.

Consultamos, com o fim de obter uma opinião autorizada sobre as imagens filmadas no Estreito de Magalhães, o físico Robert Greenler da Universidad de Wisconsin, Milwaukee e autor do livro “Rainbows, Halos, and Glories” (1980), a respeito dos efeitos ópticos atmosféricos.

Greenler disse que as imagens “têm todo o aspecto de uma das formas de espelhismo superior”, para logo acrescentar que se “conhecêssemos a altura sobre o nível do mar a que se encontravam os observadores, poderia-se chegar a modelar a situação e deduzir as características da inversão de temperatura que deu lugar ao fenômeno óptico”.

Uma sincera investigação joga um pouco de terra sobre o caso do OSNI de Punta Arenas, San Gregorio ou Estreito de Magalhães, como queiram chamá-lo. Com certeza, um estudo profundo e com todos os dados necessários à mão terminará de enterrá-lo por completo.

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