O Marciano que usava Zíper

Luis Ruiz Noguez
Tradução gentilmente autorizada

Foi Antonio Huneeus o primeiro a divulgar estas fotografias no ocidente. Ele as havia obtido da ufóloga russa Marina Popovich em junho 1990, durante a Conferência Internacional de OVNIs de Munique[1]. A primeira vez que apareceram em um meio escrito foi na contracapa do livro UFO Crash secrets at Wright/Patterson Air Force Base de Jim Moseley. Logo UFO Universe publicaria um artigo anônimo, muito provavelmente escrito por Huneeus, no qual demonstrava que as fotos pertenciam a um boneco.

Popovich disse a Huneeus que havia obtido as fotos originalmente do doutor Felix Yurevich Ziegel, catedrático de astronomia, Física e Matemática no Instituto de Aviação de Moscou, e um dos primeiros ufólogos soviéticos. Parece que este as havia recebido do próprio doutor Joseph Allen Hynek. Huneeus explicava que:

Marina Popovich é uma famosa piloto de provas com o título de coronel (reformada) da Força Aérea Soviética. Anteriormente casada com o cosmonauta e membro de várias comissões oficiais OVNI, o general da Força Aérea Pavel Popovich. Ela também é diretora da associação mundial de mulheres cientistas e presidente do SACKUFON, a organização unificada de OVNIs da Ásia Central e Cazaquistão.

Segundo Marina houve uma reunião secreta entre o doutor Hynek, o doutor Ziegel e o doutor Wilbur Smith, diretor do projeto magneto do governo canadense, para investigar os avistamentos OVNI. A ufóloga afirmava que a reunião havia sido realizada no Canadá, em uma data não determinada entre 1978 e 1981. O problema com esta história é que o doutor Ziegel nunca viajou ao Canadá e o doutor Smith morreu antes desta data[2].

Huneeus informou que as fotos foram publicadas em Technika Molodezsi (Técnica e Juventude) com a seguinte legenda:

Acredita-se que o ser representado nesta foto é o corpo do piloto de um OVNI que se acidentou no território dos Estados Unidos. Em verdade esta é a foto de um modelo que se exibiu em uma exposição internacional. A explicação que se dava no rótulo era: “Esta é uma representação de como pensam os americanos que são os humanóides”.

Vemos assim que a origem é um boneco pertencente a uma exibição. A noticia foi capa de Técnica e Juventude. Talvez Ziegel tenha proporcionado a foto, e ele provavelmente a obteve de Smith ou de Hynek, quem nunca mencionaram nada sobre discos acidentados. Mas segundo Marina:

Esta foto me deu Felix Yurevich Ziegel há muito tempo. Foi-lhe enviada por um doutor do Canadá. Uma vez com as fotos em sua posse, ele  se reuniu com vários pilotos e engenheiros do Instituto da Aviação e lhes disse: “Vejamos, tenho uma foto que me enviou um cientista do Canadᔝ. E quanto aos “extrasensoriais” ““a gente que pode determinar se algo é verdadeiro ou falso[3]– se reuniram, disseram que era um modelo de uma entidade viva real, que havia morrido; “Este é um modelo de uma entidade viva que foi fotografada”.

Antonio Huneeus

A INVESTIGAÇÃO DE HUNEEUS
Huneeus começou a investigar o caso e descobriu que se tratava de um boneco. Tempos depois voltaria a se encontrar com Marina em um congresso OVNI no Japão. Antonio lhe disse que se tratava de um modelo, ao que Marina respondeu:

Um modelo de uma entidade viva, e não apenas qualquer modelo. Os extra-sensoriais o haviam comprovado. Eles deram uma conferência em Muhino, liderada por Armstrong e disseram que era a reprodução de uma entidade viva.

Agora já não afirmava que se tratava de um extraterrestre morto. De certa maneira aceitava que se tratava de um boneco, mas continuava insistindo que a origem era uma entidade real que havia se acidentado com sua nave nos Estados Unidos. Antonio tratava de encaixar as peças do quebra-cabeças. Em primeiro lugar havia confirmado que Ziegel obteve a foto de um doutor do Canadá (¿Smith?).

A foto foi exibida em uma conferência no Instituto da Aviação de Moscou – onde Ziegel trabalhou durante muitos anos -, diante de vários cientistas e pilotos. Ziegel nunca visitou o Canadá. Por outra parte, a identidade do Armstrong mencionado por Marina na conferência de PES em Muhino permanece desconhecida até o momento. O nome pode fazer-nos crer que se trata do astronauta da Apolo 11 Neil Armstrong. Embora de fato tenha havido uma conferência sobre PES ou parapsicologia, pode-se dizer  que o astronauta em questão não era Neil Armstrong, e sim Ed. Michel, da Apolo 14, quem é o diretor do Instituto de Ciências Noéticas e um dos líderes a nível mundial em PES. Marina simplesmente pode ter confundido os dois nomes.

O terceiro ponto crucial no testemunho de Marina é a hipótese de que a figura alienígena fotografada seja “um modelo de uma entidade viva real, que morreu e foi fotografada”. Se isto é correto poderia reconciliar a aparente contradição entre um modelo e um ser real. Assombrosamente este novo desenrolar de um alienígena vivo que posteriormente morreu parece ajustar-se bem com a nova evidência que se obteve do acidente OVNI de julho de 1947 nos Planos de San Agustín.

Felix Yurevich Ziegel

A testemunha, Gerald Anderson, declara ter visto a nave espacial acidentada com uma tripulação de 4 alienígenas quando ele tinha 5 anos e estava coletando pedras com vários membros de sua família naquele lugar do Novo México[4]. De acordo com o testemunho de Anderson, quando as autoridades militares chegaram a área, dois dos alienígenas estavam mortos, um estava severamente ferido e o quarto estava em boas condições. Então, nosso amigo da foto pode ter sido um daqueles que sobreviveram, embora posteriormente possa ter morrido enquanto estava sob custódia. Por outra parte, Stanton Friedman, um físico nuclear, quem é provavelmente o maior conhecedor no acidente do Novo México, me contou quando lhe mostrei a cópia do artigo de Technika Molodezsi que os grandes olhos do humanóide coincidiam perfeitamente com a descrição das testemunhas de que tinham olhos orientais[5].

Uma nova fotografia em cores do que sem dúvida parece o mesmo alienígena chegou às mãos dos ufólogos americanos. Até onde sei, a fotografia original foi enviada de forma anônima ao investigador Jim Meliuscic de Massachussets, quem a publicou em seu boletim Orbiter. A qualidade da foto era superior à da soviética, mostrando um ângulo diferente do mesmo ser, vestido
com o mesmo uniforme. De fato, este uniforme prateado com um grande fecho parece reforçar a idéia de que a entidade fotografada era efetivamente um modelo e não um alienígena real. Ademais, a qualidade da fotografia a cores se assemelha mais às modernas que às impressões em cor supostamente tomadas em 1947.

Stanton Friedman

Todas as peças da história começavam a encaixar. Durante a Segunda Conferência ET de Pat Macarttilio em Trenton, New Jersey, em março passado, inesperadamente se obteve um novo dado. Eu me apresentei com minha conferência “UFO Chronicle” e mostrei slides de todos os fatos conhecidos ao redor deste caso. Outro dos conferencistas foi Richard Glenn, um investigador OVNI franco-canadense de Québec quem tem um popular programa a cabo sobre OVNIs e fenômenos paranormais que se transmite semanalmente em Québec e Montreal.

Richard reconheceu imediatamente que o alienígena da foto era um modelo de cera exibido em 1977[6] na Feira de Montreal. Ele ainda tinha um videoclipe de um de seus numerosos programas que mostra a criatura de corpo inteiro dentro de uma urna de vidro.

UM MODELO DE MUSEU
Richard Gleen explicou a Huneeus:

A foto número dois começou a circular em cor, mas estava fora de foco e não se apreciavam os detalhes.

O que eu se é que uma dama chamada Linda Corrivau[7] de Montreal, viu algo parecido a este ser[8]; pôs-se em contato com um escultor para reproduzi-lo em cera[9]. Assim que isso não é gesso e sim cera. É perfeito. E o pôs em uma exposição sobre o fenômeno OVNI. Ela estava muito orgulhosa dele. Allen Hynek foi convidado a vê-lo, assim que quando me reuni com Hynek no mesmo lugar, em frente do corpo, estava completamente vestido, os pés, a cabeça e tudo estava dentro do vidro. Ela declarou que o ET (original) foi capturado pelo Exército dos Estados Unidos e que o têm em um lugar congelado.

Em Roswell todo mundo sabe que os extraterrestres tinham dedos largos e delgados, com unhas largas, com ventosas ao final dos mesmos, e este tem dedos normais.

Estas fotos despertaram grande interesse e forte polêmica. No México Jaime Maussán as apresentou como fotos autênticas de um ser extraterrestre no programa Hoje com Daniela, dirigido por Daniela Romo, que foi ao ar em 21 de fevereiro de 1996 pelo canal 2 da televisão mexicana. Maussán afirmou que:

Esta é uma foto de um dos tripulantes do OVNI que se acidentou nos Planos de San Agustín, em Novo México. Foi estudada por cientistas russos, que a declararam autêntica.

Mas de onde provém semelhante desatino? É fácil ver que a origem é a mesma Marina Popovich, amiga de Maussán. Estes dois pertencem a um reduzido grupo de ufólogos bastante desprestigiados no mundinho dos OVNIs. Nos referimos ao assim chamado “Grupo dos Discos Prateados” (porque em todas suas publicações aparecem sempre fotos de discos voadores prateados, que de imediato se adivinha que são modelos). A este grupo pertencem, entre outros, Jorge J. Martin, de Porto Rico, Michael Hesseman, da Alemanha, Wendele Stevens, dos Estados Unidos, Giorgio Bongiovani, da Itália, etc. Isto é, a nata do sensacionalismo ufológico.

Não é de estranhar que esta gente apresente como provas as análises de psíquicos, como as de Marina Popovich. Com semelhante recomendação “científica” não podemos duvidar que efetivamente se trate de uma entidade viva. Ou podemos?

Não entendemos como Maussán e Popovich puderam sequer pensar que se tratava de um verdadeiro extraterrestre. O boneco veste um traje de mergulhador que utiliza um fecho metálico (a que só falta que se veja a marca “acme”). Por acaso os portentosos extraterrestres, com sua tecnologia ultrasofisticada, não puderam inventar algo melhor que o zíper? Como podem explicar que a qualidade da fotografia a cores seja tão parecida à das fotografias dos anos noventa, se supõe-se que foi tomada em 1947?

A origem da versão que indicava que esta era uma fotografia autêntica de um extraterrestre é Marina Popovich. Não creio que esta senhora desconhecesse que se tratava de um boneco de cera. O doutor canadense que enviou a foto a Ziegel deve ter mencionado o anterior. Seguro que Ziegel o sabia e assim o confirmou a Técnica e Juventude, que informava a seus leitores que se tratava de um boneco. Se Marina obteve a foto de Ziegel, também deve saber a origem da mesma. Mas apesar de estar inteirada de tudo isto, a ufóloga apresentou a fotografia como a de um autêntico extraterrestre e assim a enviou aos Estados Unidos onde se completou o círculo. Desafortunadamente para ela, não contava com que haveria vários ufólogos (Jim Meliuscic, Antonio Huneeus, Jim Moseley e Richard Glenn) que descobririam suas mentiras.

Em esta fotografia mais clara podemos ver a razão por a que se publicou fora de foco: é parte de uma exibição e se alcança a ver o texto que acompanha a a modelo.
Nesta fotografia mais clara podemos ver a razão por que se publicou fora de foco: é parte de uma exibição e pode-se ver o texto que acompanha o modelo.

A VERSÃO DE CORRIVEAU
Linda Corriveau é membro do Grass Valley Graphics Group e trabalha com o Califórnia Impressionist Workshop, dirigido pelo impressionista em trabalhos com madeira E. J. Gold. Pintora, desenhista e cenógrafa de museus, trabalhou na construção de vários museus de história e paleontologia. Também se desempenhou como tradutora, repórter de televisão, redatora científica e consultora editorial. Escreveu vários livros de arte (Miro”™s Dream; Pure Gesture; More Color Less Soul).

Atualmente vive na Califórnia e dirige uma companhia de desenhos de jóias (Jewels of Ancient Lands).

Durante muitos anos Linda Corriveau foi praticamente ilocalizável. Nem Huneeus nem outros ufólogos puderam entrevistá-la para conhecer sua versão. Não foi até finais de século que a própria Linda exporia sua história em uma página de Internet. Esta é sua versão.

A primeira vez que descobri as fotos deste famoso extraterrestre na capa de um livro de OVNIs me deixou chocada. Minha resposta  inicial foi substituída por uma consternação pelos erros que se diziam em torno desta figura. No entanto, estava receosa em me envolver e corrigir a ridícula informação que se dava sobre o extraterrestre, devido sobretudo a meu medo de ser acossada ou intimidada.

Sei exatamente o que representam as fotos porque eu o concebi e o criei em 1978, quando estive a cargo do Strange, Strange World Pavilion na exposição Man and His World de Montreal; um cargo que ocupei entre 1976 e 1981. Chamei esta escultura “o homem de meus sonhos” porque a reproduzi exatamente de uma visão que havia tido. Representa uma sínte
se das descrições mais comuns proporcionadas pelos indivíduos que experimentaram um contato imediato ou disseram ter sido abduzidos.

Aspecto do Pavilhão do Insólito. No centro se pode ver uma foto do extraterrestre
Aspecto do Pavilhão do Insólito. No centro se pode ver uma foto do extraterrestre

Eu queria que “o homem de meus sonhos” fosse estético para que não assustasse. Queria que se parecesse aos verdadeiros para que fosse convincente. Queria que produzisse um impacto nas pessoas e que as confrontasse com outra realidade. O fiz com argila e trabalhei várias horas, em meu estúdio privado. Tinha uma reprodução em cera que fiz para o museu de cera de Tussaud. O extraterrestre conseguiu seu traje espacial e seu corpo do "departamento do apoio" da cidade. Tratava-se do manequim de uma criança e de um traje de mergulhador que pintamos de cor ouro. O extraterrestre se pôs em exibição a partir de 1978, até 1981, e foi visto pelo Dr. J. Allen Hynek[10], Stanton Friedman, Carl Sanderson, e Eric Von Daniken, entre outros. Quase dois milhões de visitantes visitaram o Strange, Strange World e gozaram de seus 10.000 pés quadrados de exibições incomuns.

A exibição se dividiu em  várias seções, cada uma com sua própria cor como tema: O universo e a aventura no espaço tinham uma iluminação azul; os OVNIs estavam de verde e os Enigmas Arqueológicos em âmbar; os fenômenos e mistérios da mente e da matéria, cor de rosa. A música ambiente era de Jean-Michel Jarre, Paul Horn e Vangelis. A atmosfera era mágica, aterradora e inspiradora. O Strange, Strange World foi o resultado direto das novas tendências nos desenhos tomadas a partir da Expo ’67. Foi um esforço visionário do diretor da fundação e projetista, Michel Lambert, quem sintetizou a busca do conhecimento e uma representação multi sensorial -táctil e visual-. Demonstrou uma mente aberta e uma curiosidade ilimitada. Ninguém podia ficar indiferente a tal experiência de deslumbramento do inicio até o fim. 

Já que “o homem de meus sonhos” passou a ser promovido como a fotografia de um espécie real, em vez de uma criação artística, quero esclarecer de uma vez por todas, tentando colocá-lo em seu contexto com a ajuda das fotos tomadas por meu amigo E. J. Gold, documentação atualmente em minha posse, memórias pessoais, e testemunhos que o corroboram.

É permitido o uso das fotos que aparecem neste dossiê apenas se se utilizam com as legendas corretas que aparecem nestas páginas. Agradecemos a qualquer pessoa que deseje compartilhar seus memórias e fotos para inclusão neste site.

Escrevi uma versão mais completa desta história. Começa com uma introdução de 6 páginas que contém 5 fotografias, seguida pela descrição do tour da exibição, exposta em cerca de 20 páginas com mais de 40 fotografias. Espero que desfrutem sua visita.

Marina Popovich

A VERSÃO COMPLETA
A razão por que escrevo esta história é porque me chamaram atenção as falsas idéias e más interpretações sobre certos fatos que estiveram circulando extensamente na comunidade OVNI pelo menos durante oito anos, e que todavia continua emergindo através da Internet. Estes fatos chamaram minha atenção em 1995 quando,  devido a uma lesão dorsal, fiquei imobilizada por vários meses durante os quais aproveitei para ler sobre OVNIs. Não havia lido sobre o tema em quase vinte anos e tinha curiosidade em ver se havia mais literatura disponível, e de saber como haviam progredido as coisas. Dei-me conta que havia muito material, e li mais de quarenta livros desde então.

Quando estava procurando os livros em minha livraria, notei um livro delgado que até esse momento havia passado por alto. Tomei-o e não me impressionou nem o título nem a capa. Parecia que era mais do mesmo e que não tinha nenhuma surpresa. Mas, como sou muito obsessiva, decidi que o leria de toda forma, já  que era o único que tinha à mão. O título era UFO Crash Secrets at Wright/Patterson Air Force Base, foi escrito por James W. Moseley e publicado em 1991. O autor era desconhecido para mim mas, ao que parece, é um ufólogo muito conhecido. 

Virei o livro para ler a capa traseira e fiquei surpresa com minha descoberta: havia dois fotografias de algo que me era intimamente familiar e a que havia chamado “o homem de meus sonhos”. Tratava-se do modelo de um extraterrestre que esculpi em argila para o Strange, Strange World Pavilion, do qual fui diretora, que era parte da exibição Man and His World de Montreal, entre 1978 e 1981. Sem dúvida era meu extraterrestre. Parecia que “o homem de meus sonhos”, como sempre chamei a minha escultura, havia adentrado no mundo dos fraudes, e agora ocupava oficialmente um lugar na mitologia de finais do Século XX. Senti-me tanto lisonjeada quanto consternada. Alguém havia manipulado intencionalmente estas fotos? Quem estava por trás disto? Meu nível de paranóia se elevou alarmantemente. As perguntas se avolumavam em minha mente.

A legenda dizia: “EXCLUSIVA MUNDIAL. Os soviéticos publicaram as fotos dos corpos de extraterrestres que se recuperaram de um acidente de discos voadores!” Não podia crer no que viam meus olhos! Um amontoado de tolices! Como era possível que as fotos tivessem algo a ver com os russos? Que aventura incrível tinham que contar estas fotos? Dois dias depois, um amigo meu a quem havia mostrado o livro, encontrou em seu interior a informação que eu havia passado por alto. Era ainda mais incrível. Quanto mais lia, mais aterrada ficava. Quem eram estes escritores? Que classe de investigação haviam feito? De onde vinha tudo isto? Era como se a verdade tivesse sido distorcida além do que se podia acreditar, como se a história tivesse sido deformada sem que ninguém verificasse os fatos. Dava horror ver isso.

Capa do vídeo Roswell: A Verdade, da Columbia Tristar.
Capa do vídeo Roswell: A Verdade, da Columbia Tristar.

Na capa interior se lia: “ADENDO: NA CAPA TRASEIRA. ENFIM! ESTAS PODEM SER AS “FOTOS DE EXTRATERRESTRE” PERDIDAS DURANTE MUITOS ANOS, TOMADAS NO LOCAL ONDE SE ACIDENTOU O OVNI DE ROSWELL, NOVO MÉXICO.  Um relatório © 1991 por Antonio Huneeus.

O informe indicava que em 1991 começaram a circular na comunidade OVNI internacional duas fotografias, na forma de fotocópias altamente degradadas, que pretendiam demonstrar que se haviam recuperado os restos de um piloto extraterrestre que se acidentou em Roswell. O texto descrevia a forma com que “a foto do extraterrestre foi revelada a mundo durante a Segunda Conferência Internacional OVNI “Diálogo com o universo”, organizada por Michael Hessemann, em Munique, em junho de 1990. Ali, Marina Popovich, uma das principais ufólogas da Rússia mostrou a fotografia, afirmando tê-la recebido das mãos do professor Felix Zigel, que por sua vez a havia obtido de uma fonte canadense. O nome do Dr. Hynek apareceu em conexão com a foto. Até esse momento este era o primeiro núcleo de verdade, ao redor do qual havia sido tecida uma intrincada teia de fantasia e de encanto.

A intriga estava apenas começando, sem mencionar a especulação. O autor começou por explicar que um bem conhecido ufólogo americano lhe havia enviado uma cópia das fotos, e lhe p
edia que fizesse uma investigação sobre o tema e a mantivesse reservada. Acreditava-se que o extraterrestre da foto era um dos seres recuperados no acidente de Roswell. O ingrediente mais polêmico era que parecia que Hynek havia enviado a foto a Zigel. “Se é verdade, a conexão de Hynek é matéria explosiva, pois ele nunca esteve particularmente de acordo no que diz respeito ao tema de discos acidentados”. Concluía Huneeus. 

Como se isso não fora suficiente, o autor disse que tempos depois recebeu cópia das mesmas fotos da parte do Major Colman von Keviczky, diretor de ICUFON em New York, quem as havia obtido de Michael Hesseman que por sua vez as havia conseguido da doutora Marina Popovich. Segundo von Keviczky, o professor Zigel havia obtido as fotos em 1970 (oito anos antes que a figura existisse) quando se reuniu, em uma conferência altamente secreta, com cientistas governamentais americanos e canadenses. O líder da delegação americana foi quem havia prestado as fotos a professor Zigel. E quem pode ser o chefe da delegação americana? Talvez o Dr. Hynek? A especulação voa sempre mais rapidamente que a informação. Eu que o diga!

Agora podíamos verificar algo disto, Zigel já morreu, mas um amigo e um colega próximos a ele asseguraram ao repórter que Zigel nunca havia participado de tal conferência e nunca havia estado no Canadá. Podia isto ser verdade? Ocultaba algo? A intriga continuou ficando mais e mais profunda. Emergiu o nome do Dr. Wilbert Smith, que havia morrido em 1962, como outra fonte possível das fotos. Mas se não foi Smith então quem? O autor não podia imaginar nenhuma outra possibilidade. Isto, é claro, me levava a dezesseis anos antes da existência do “homem de meus sonhos” e o convertia em “o homem de seus sonhos”!  

Enquanto mais lia mais me assombrava, por vezes rompia em risadas pelas teorias tão imaginativas. Mas o pior de tudo era o elemento de verdade enterrado tão profundamente que me incomodava. Hynek sabia destas fotos.  Ele as havia tido em suas mãos. Eu estou completamente segura, porque eu mesma lhes dei. 

Provavelmente ele as deu a outros. Mas sob que circunstâncias? Que lhes disse Hynek quando lhes enviou as fotos? Os havia enganado deliberadamente? Utilizou estas fotos para seus próprios propósitos, ou as compartilhou de boa fé com outros cientistas? Se ele se sentia tão bem com elas por que não as compartilhou com uma comunidade muito mais ampla? Por que  as fotos não são conhecidas por todo o mundo, aparte do feito de que a Internet não estava tão desenvolvida e a comunicação não havia alcançado as alturas que goza hoje? Hynek se esqueceu de onde havia obtido as fotos no momento em que decidiu mostrá-las? Perdeu o resto de meu pacote com a informação para a imprensa? Por que todo o segredo? Era segredo? Não mantive comunicação com Hynek depois de nosso contato, e nós não havíamos tido muita comunicação antes de Contatos Imediatos de Terceiro Grau, assim que ele pode ter esquecido da maior parte da história, cargo que provavelmente era outro de seus deveres publicitários que concordou fazer para a exibição, devido a sua fama, especialmente depois do filme de Contatos. Mas agora nunca o saberemos… É uma posição incrível para estar! Sentia que estava no centro de um mistério de Sherlock Holmes com um quebra-cabeças sem solução que eu havia instigado. Levou-me a alturas em que não podia acreditar. Nunca se sabe as conseqüências completas de seus próprios atos. Em que momento chegam a parar? Isto havia sucedido há vinte anos mas evidentemente tinha conseqüências hoje.

Linda Corriveau

Ao mesmo tempo em que me divertia, me espantava. Peço ao leitor que me permita continuar minha revisão do artigo do livro. Huneeus continuava dizendo que finalmente havia entrevistado Popovich na Rússia e ela lhe havia dito que alguns psíquicos, “as pessoas que podem determinar se isto é verdade ou brincadeira, lhe haviam dito que esse era modelo de uma entidade viva verdadeira que faleceu; é um modelo de uma entidade viva que foi fotografada”. Popovich era categórica. Imaginem isso! Realmente me deu confiança nos psíquicos! Grupos inteiros de psíquicos ocupando-se disto! Seria isso tudo? Não senhor! Havia mais! A foto havia continuado viajando ao redor do mundo e emergia regularmente nas conferencias de todo tipo, inclusive em uma a que assistiram astronautas – Neil Armstrong ou Edgar Mitchell? Alguém como eles-… Popovich não sabia com quem se havia reunido, mas era algum astronauta… 

Para complicar ainda mais, as fotos foram mostradas a Stanton Friedman, o especialista de Roswell, e ele comentou que os olhos orientais coincidiam com as descrições das testemunhas. O senhor Fridman é muito perceptivo! Contudo, desafortunadamente não conseguiu reconhecer a figura que ele havia visto em pessoa! O artigo terminava com mais especulações que eram puro desperdício.

Embora tivesse me divertido, estava bastante desconcertada. Incomodava-me ver que dois peritos em OVNIs não recordavam seu encontro com meu extraterrestre não só em fotografia, e sim em pessoa e tridimensionalmente, como se estivessem acostumados a ver todos os dias corpos de extraterrestres, e como se não soubessem nada do tema!

Não sabia o que fazer nesta situação. Consultei meu amigo, E. J. Gold alias. Gorebag e pedi seu conselho. Ele havia visitado o modelo exposto em 1978 e 1979 e havia tomado muitas fotografias de meu pavilhão e do modelo. Discutimos sobre vários cenários e falamos de seus prós e contras durante dias. Mas afinal, decidimos que devíamos ser muito cautelosos. As teorias eram tão selvagens que podia ser que não fora seguro fazer estourar o balão. A comunidade OVNI havia sido repleta com desinformação e intimidação que podia ser perigoso sair em meio a este caso. Como nos tratariam? Provavelmente não muito bem. Depois de muitas considerações e avaliações decidimos esquecer do assunto e não fazer nada. Fizemos isso até que “o homem de meus sonhos” voltou a perseguir-me. 

Ao redor de um ano mais tarde, ambos descobrimos a Internet. No curso de viajar pela rede, começamos a ver fotos de meu extraterrestre em toda parte. Era e continua sendo absolutamente assombroso para mim a escala na qual isto acontecia. E continua acontecendo. Aparentemente havia aparecido na capa de uma revista alemã, outra em Québec, em vários documentários e quem sabe o que mais. Isto é, emergia com tão poucas provas! Alguns investigadores OVNI pareciam saber que estava relacionado com uma exposição mas um segmento muito maior da comunidade ufológica não tinha nenhuma informação sobre este fato básico. Pretendiam que era uma máscara mortuária de um dos extraterrestres recuperados em Roswell.

De novo se abriu a discussão. Devíamos dizer ao mundo a verdade e demonstrar mais fotos, ou devíamos guardar silêncio e observar? Não gostava a idéia de me enfrentar com o público. Dava-me medo. Estaríamos fazendo frente em todos os campos, e  provavelmente todos nos odiariam. Poderíamos estar em perigo em todas partes. Outra de minhas razões para não sair a público era simplesmente que acredito que o governo tem em sua posse os restos de várias EBEs, como ele as chama, entidades biológicas extraterrestres, recuperadas de acidentes OVNI. Talvez fosse bom que pensassem que meu modelo era um espécie real… Creio que há um ocultamento maciço de proporções internacionais. Como pode existir um coverup internacional de tal magnitude, quando coisas muito menores se ocultam em um abrir e fechar de olhos? Porque todos os governos convém em que ninguém tenha o controle da situação com os extraterrestres. Os extraterrestres estão faze
ndo exatamente o que desejam com ou sem a cooperação governamental. Não seguem regras nas abduções, tomam tudo o que querem. E que pode fazer o governo para tomar represálias? Pense. Não pode fazer nada. Acabou-se a batalla. Os extraterrestres ganharam a guerra.

Marina Popovich mostrando a famosa foto diante das câmeras de televisão.

Afortunadamente para nós, há algo agradável em este. A tranqüilidade para a maior parte das pessoas. Claramente, o presidente não tem nenhum controle sobre a situação e não pode fazer nada. Essa é a razão pela qual silenciaram Jimmy Carter e a muitos outros antes e depois dele.

Mantendo estas idéias em mente, que muitos poderiam considerar extremas, mas que eu as considero informadas e inclusivas, não desejo obstaculizar a busca da verdade que é de importância suprema nesta matéria. Creio que o coverup está baseado no medo à reação pública. Ninguém implicado com o fenômeno OVNI entende realmente sua natureza. Parece ser parte de um miltiuniverso ““ um quê?- que todavia não é capaz de agarrar. Creio que Jacques Vallee é o que chegou mais próximo desta realidade. Mas também creio, em certo sentido, que todas as teorias sobre OVNIs e extraterrestres são corretas. São todas essas coisas e mais. Não são só um fenômeno. E sobretudo, os que estão interactuando com as formas de vida em este planeta o estão fazendo segundo sua própria agenda, que embora seja amistosa com os seres humanos, não é necessariamente benéfica ou benigna. Os amigos também lastimam. Os contactados estão controlados em grande parte. Os abduzidos sofrem dor e muitos efeitos secundários terríveis. As vidas das pessoas estão arruinadas. Alguns melhoram. Alguns se animam ao longo de sua trajetória psíquica. Mas muitos se enganam. Todos os componentes sociais, as estratégias e os problemas de nossa sociedade se transportam na mitologia dos OVNIs.

Apesar de todas minhas  objeções, finalmente me persuadiram a contar minha história para que “o homem de meus sonhos” fosse colocado no Hall da Fama na esquina mais reservada do reino dos OVNIs com a etiqueta de “exibições famosas”. Poderia ser um experimento interessante para observar…

O leitor pode estar seguro de que se abriu todo o inferno antes que acaasse de escrever minha história. De imediato nos ameaçaram e nos disseram que não tínhamos o copyright de nossas fotos e não podíamos publicá-las. Alguns nos desdenharam, outros nos ridicularizaram, mas outros nos apoiaram e animaram. Alguns sites foram dissuadidos de não publicar a história devido às intimidação  de vários grupos OVNI. Converteu-se em uma aplicação de direitos. E. J. tinha fotos que eram julgadas sem ser vistas. A exposição foi reduzida ao “projeto de uma mulher”. 

Entrada de Man and his World

Está bem, é só o “projeto de uma mulher” -era parte da exposição permanente que durou cerca de quinze anos do êxito da Expo 67 de Montreal, um projeto defendido por seu prefeito visionário, Jean Drapeau, que deu as boas-vindas à criação de uma exposição internacional magnífica que eventualmente deixou um legado no desenho e na riqueza cultural que não se tem visto desde então. E aposto que incluso o pavilhão específico que se refere a nós diretamente ““Strange, Strange World- continua sendo a exibição OVNI mais bonita. (Neste sentido, estou esperando reproduzir por completo as instalações que fiz em 1978 do “homem de meus sonhos”.) O mundo será o juiz. O que sei é que quase dois milhões de visitantes fluíram através de suas portas durante o conjunto de seus treze anos de existência, e cada um deles foi tomado pelo alcance e a beleza de seus 10.000 pés quadrados de espaço pelo que a visita poderia durar mais de quatro horas se fosse lido cada um dos textos.

Agora tenho o gosto  de contar por completo a história de como fiz “o homem de meus sonhos”, e o leitor já sabe como voltou a mim, com a ajuda de documentação que é parte de meu portifólio, revistas e artigos de revistas  acerca do pavilhão, e de uma conferência que dei em 1982 na French Canadian Association for the Advancement of Science em um simpósio de museus e de idéias para criar um museu de ciências na província, e muitas fotos que penso recuperar de meu próprio arquivo e de minha extensa coleção do fotógrafo, E. J. Gold, quem tem um grande amigo meu  por mais de vinte anos e que visitou minha exibição em 1978 e 1979 e tomou numerosas fotografias naquela época. (Você pode ver cerca de 5.000 de seus fotos na fotobiografía que montei dele em um livro intitulado More Color…Less Soul. Mas essa é outra história da que não escreverei pelo momento.)

Linda Corriveau

Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981
Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981

A INTERPRETAÇÃO DA ARTISTA
Dizia que um bom dia, inspirada por um artigo da revista OMNI, decidi tomar o touro pelos chifres. Decidi fazer um extraterrestre baseado na descrição das testemunhas. Sabia exatamente o que iria fazer. Assim que, uma noite, logo depois de voltar para casa do trabalho, fui com Raymond à loja de artigos de arte e comprei os materiais necessários. Raymond me ajudou a fazer minhas instalações e comecei o trabalho.

Durante várias semanas trabalhei na escultura em meu estúdio, em meu departamento de sete habitações em um hotel de Montreal. Lentamente a escultura começou a tomar forma e começou a refletir a imagem que tinha impressa em minha mente: grandes olhos, nariz pequeno, enormes maçãs do rosto, aparência ligeiramente oriental, boca e ouvidos pequenos e um grande crâneo ““ este tipo tinha cérebro. Assombrei-me com os resultados”¦ Como sabia que o que estava fazendo era o correto? De onde provinha a imagem?Vinha do passado? Era o homem do futuro? Estava esculpindo a figura do que nos transformaremos? Esculpia o que estava impresso em meu código genético? Era alimentada pelos extraterrestres, que estavam encantados com o que estava fazendo?Estava fazendo um grande trabalho de relações públicas para eles, da mesma forma que o fiz para o governo dos EUA com minha exibição espacial? Era uma serviçal voluntária dos alienígenas? Estava canalizando extraterrestres? Estava ajudando ou entorpecendo a causa? Não tenho respostas para estas perguntas. De qualquer forma, comecei a chamar a minha escultura “o homem de meus sonhos” já que, qualquer que fosse sua natureza, provinha do mais profundo de meu inconsciente, e tinha uma qualidade fascinante, e representava algo muito real em alguna parte.

Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981
Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981

Chegou o dia em que a escultura estava pronta para a etapa seguinte. Satisfeita porque o que via correspondia ao que havia imaginado, embalei-a cuidadosamente ““pesava uma tonelada- e a enviei ao museu de cera de Tussaud, onde um cavalheiro ancião, do que temo ter esquecido o nome, esteve de
acordo em que trabalharia nele em seu tempo livre, já que Tussaud não tem o costume de fazer moldes de cera de terceiros. Ele havia achado meu modelo fascinante e começou o trabalho com entusiasmo. De fato, estava tão fascinado que fez algumas melhoras que, por minha própria fascinação, havia passado por alto. Estava tão impressionado com a escultura que desejava fazer-lhe justiça, e o fez. Agradeço-lhe suas contribuições para que “o homem de meus sonhos” se convertesse nno êxito internacional que é, e desejo dar-lhe o crédito que lhe corresponde. Desafortunadamente durante o processo minha escultura original foi destruída.

Prendi minha respiração até ver os resultados. Finalmente voltei a respirar. Fiquei contente com o resultado. A cabeça era magnífica. A pele parecia real, inclusive com poros. A textura era perfeita. Inclusive tinha umas delicadas veias ao redor da boca, ao longo das maçãs do rosto e nas pálpebras. As mãos que fiz eram bonitas e harmonizavam com a estrutura anatômica. Tinha umas pequenas ventosas na extremidade dos dedos.

Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981
Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981

Agora precisávamos de um corpo. Assim que fomos ao armazém de vestuário onde se guardam centenas de disfarces. Vasculhamos todo o lugar até que encontramos um pequeno traje de mergulhador com botas e um pequeno manequim para colocar em seu interior. A primeira coisa que fizemos foi pintar o traje com um spray de cor verde-dourada. Parecia genial! Tirado de um filme de ficção-científica! Encaixamos o manequim e o traje e nos asseguramos que o pescoço e os braços estivessem colocados corretamente. Não houve problemas. “O homem de meus sonhos” estava pronto para o mundo.

Quando chegou o tempo de colocá-lo em sua instalação final, decidimos colocá-lo dentro da grande vitrine de plexiglass e alumínio, que certa vez se havia utilizado para exibir o Gigante de Cardiff[11], a qual havia sido desenhada pelo brilhante Michel Lambert, que fez todos os outros módulos do pavilhão. Era um exibidor fantástico, com a forma de uma cápsula com pernas metálicas e um corpo redondo de plexiglass e com uma placa em seu interior, onde colocamos o boneco. Parecia de alta tecnologia, e tinha umas grandes porcas que sustentavam tudo. O estojo era em realidade uma caixa de luzes tridimensional colocada de forma horizontal, assim que escurecemos o centro e colocamos texto em ambos os extremos deixando o resto para nosso pequeno manequim. O efeito foi fantástico, inclusive para nós. Parecia uma mesa de operações. Tinha um aspecto muito frio, clínico e desolador. Creio que disparou todo o tipo de crenças e medos, nas memórias profundas, no inconsciente, pesadelos futuristas de experimentos humanos com extraterrestres, abduções, e quem sabe que outros cenários.

Queria alcançar um alto grau de realismo. Queria que a figura parecesse real e não falsa. Desejava confrontar os visitantes com a inocultável realidade de outras presenças e impressioná-los. Estou certa de que o consegui. Muitos visitantes acreditavam que a figura era um corpo real e sussurravam enquanto caminhavam ao redor da cápsula, e se perguntavam se era ou não real. Estava maravilhada por esta resposta e estava orgulhosa que minha exibição tivesse  chegado além de meus sonhos mais loucos. Suponho que ali foi quando começou o mito, quando independente da informação, o impacto emocional esticou as cordas da verdade e impulsionou o “homem de meus sonhos” a tomar vida própria.

Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981
Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981

Quando o doutor Hynek visitou o pavilhão como meu conferencista convidado, em 1978, ele também se impressionou pela figura e me perguntou se podia conseguir algumas fotos dela, as quais é claro se forneciam no Pacote para a Imprensa. Em 1979 Stanton Friedman foi meu conferencista convidado, o que significa que veio e visitou a exibição, como meu convidado, e também teve a oportunidade de ver meu extraterrestre no expositor de dois metros e meio.

Soube por Christian Page, do antigo e agora extinto UFO Québec, que Stanton Friedman, o especialista de Roswell, contou a Christian que não sabia do que estava falando e que este extraterrestre não era parte da exibição em Montreal. O mais assombroso e notável é que não recordava haver estado lá, e assegurava categoricamente que esse lugar nunca existiu!

Esta tarde enquanto escrevo fiquei sabendo que Christian Page é o que possui o copyright da foto, é o fotógrafo cujas imagens circularam ao redor do globo, e também é com quem eu me encontrei em 1981 e a quem guiei pessoalmente para que tomasse as agora mundialmente famosas fotos. São as fotos que foram impressas em dezenas de publicações. Christian foi talvez o único arquivador do “homem de meus sonhos” que colecionou uma grande quantidade de artigos, notas, livros, revistas e vídeos relacionados com ele. Ele enviou uma destas fotografias à Fortean Library com a indicações de que podiam distribui-la apenas enquanto se reproduzissem com os dados corretos que explicavam seu contexto, da mesma forma que nossas fotos podem ser reproduzidas com os dados corretos. Christian está de acordo em que tentemos esclarecer a situação de uma vez por todas. Ele tratou de faze-lo durante muitos anos, mas não foi capaz de consegui-lo. Esta é outra das razões pelas quais decidi sair do armário. Para deixar que o artista fale de sua escultura, para apresentar o contexto do ponto de vista do criador, e para enfrentar esta saga que potencialmente deu uma volta no enfoque dos “verdadeiros crentes”.

Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981
Reprodução em cera de uma escultura original de L. Corriveau exibida em Strange, Strange World, 1978-1981

EPÍLOGO
UFO Crash Secrets, o livro onde apareceram pela primeira vez estas fotos, é uma reimpressão de The Wright Field Story, publicado por Gray Barker nos anos setenta. Trata-se de um livro de ficção ufológica, como o assegura seu autor Jim Moseley. O editor da versão de 1991 foi Timothy Green Beckley, quem acrescentou uma tabela com os casos de OVNIs acidentados escrita por LeRoy Pea e o artigo de Antonio Huneeus.

Quanto Linda Corriveau estourou o caso, Moseley pôs-se em contato com Huneeus pedindo-lhe sua opinião. Antonio respondeu:

Anexo  meus artigos sobre o fiasco do boneco de Montreal não-Roswell de Corriveau e algumas cópias de cartões postais que Beckley imprimiu para acompanhar seu livro, mas que você aparentemente nunca recebeu”¦ Como pode ver, eu publiquei três versões sobre este assunto. A primeira e de longe a pior é a que, desafortunadamente, se publicou em seu livro. Tim (Beckley) me estava apressando quando estava na metade de minha investigação, já que queria material exclusivo e fresco para lançar o seu livro. Obviamente a informação estava incompleta.

Não obstante, pouco depois resolvi o caso por pura sorte, quanto Richard Glenn reconheceu as fotos como as de um boneco fabricado por Linda Corriveau”¦ Qu
is limpar o caso, assim que entreguei a Beckley um relatório atualizado com a solução do caso e minha entrevista com Glenn. Mas Tim decidiu continuar explorando as fotos o quanto podia, assim as publicou em cores com uma manchete na capa interior do número de inverno de 1991 de sua revista UFO Universe. Tim nunca imprimiu meu artigo tal qual eu o enviei, e sim reescreveu a parte inicial e então incluiu vários parágrafos de meu rascunho original!

Finalmente quanto a revista FATE me pediu que fizesse uma matéria de capa sobre fraudes OVNI para seu número de setembro de 1994, decidi contar de novo a história, isto é, pela terceira vez. Desta vez, livre dos instintos de vendas de Tim, o fiz clara e sucintamente, sem nenhum exagero. Agora que a criadora do modelo, Linda Corriveau, finalmente saiu a público, a história completou seu ciclo e já não há mais mistérios sobre este episódio OVNI particular e tão duvidoso, que certa vez formou parte da evidência “top secret” da mãe de todos os casos, o grande caso Roswell”¦

Infelizmente, John Keel diz que Tim, você e eu ajudamos a engordar o caldo deste caso. Você é por completo inocente, mas Keel nunca acreditará nisso.

Em 1987 o governo de Montreal arrematou o boneco em $ 175.00 dólares. Atualmente ninguém sabe onde se encontra.

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REFERÊNCIAS
Corriveau Linda
Strange, Strange World, artigo Internet, http://www.indranet.com/roswell/roswell.html
Corriveau Linda, In Praise of Strange, Strange World (or How the Man of my Dreams Came Back to Haunt Me), artigo Internet, http://www.newageinfo.com/articles/roswell/ssw001.htm
Corriveau Linda, In Praise of Strange, Strange World or How The Man of My Dreams Came Back to Haunt Me. (The Shortform), artigo Internet, http://www.newageinfo.com/articles/roswell/ssw010.htm
Gravenor Kristian, Mysterious hidden treasures, nota Internet, http://www.montrealmirror.com/ARCHIVES/2003/103003/kristian.html
Huneeus Antonio, Fotos de um corpo alienígena, em 100 fotos de extraterrestres, Corporativo Mina, México, 1996, Págs. 56-57.
Monti Jonathan, ¿Foto de um extraterrestre?, em Semanario do Insólito, Não. 47, México, octubre de 1992, Pág. 32.
Moseley W. James, UFO Crash Secrets at Wright/Patterson Air Force Base, Inner Light Publications, New York, 1991.
Moseley W. James, "Smear" Editor Exposes Fake Alien Photos On The Back Cover Of His Own Book!, em Saucer Smears, Volume 45, No. 1, January 10th, 1998, artigo Internet, http://www.martiansgohome.com/smear/v45/ss980110.htm


[1] Marina publicou a foto em seu livro UFO Glasnost.

[2] Em 1962.

[3] Psíquicos.

[4] Quando Huneeus escreveu isto não sabia que ao longo do tempo se demonstraria que a história de Anderson havia sido inventada.

[5] Isto comprova, como veremos mais adiante, que Friedman é um péssimo observador.
[6] Em realidade foi a partir de 1978. A exibição OVNI formou parte da Montreal Word Expo, e era parte do Pavillion de l”™insolite.

[7] O nome correto é Linda Corriveau.

[8] Em realidade era a sua interpretação dos extraterrestres descritos nos relatos de abduzidos. Ver mais adiante A interpretação da artista.

[9] Ela mesma fez o modelo em argila e então em cera.

[10] Hynek visitou a exposição e deu uma conferência no dia do trabalho de 1978.

[11] Se trata da famosa fraude realizada em fins do século XIX.

6 comentários sobre “O Marciano que usava Zíper

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